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Os Nomes de Zeus Através das Eras

Egon

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Sep 19, 2017
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odysee.com
[Tópico para postar as traduções dos nomes de Zeus nesta página: https://www.templeofzeus.org/Our_God]

A maioria destes nomes tem uma história anterior ao cristianismo, ao islamismo ou ao judaísmo em pelo menos 2000 a 10.000 anos, ou mais. O nome de Zeus é um nome sagrado e mais poderoso—o fundamento da própria criação. Quando este conceito é compreendido, torna-se claro por que Zeus, ou Deyus Pater na língua indo-europeia, sempre foi o Pai Original da Humanidade.
 

NOMES DE ZEUS: DYEUS PATER​


A divindade Dyeus Pater (reconstruída como “Pai Céu” ou “Pai Celeste”) é o patriarca primordial do panteão indo-europeu. Ele é a personificação divina do céu brilhante e iluminado pelo dia. Embora nunca tenha sido registado por escrito pelos indo-europeus pré-históricos, a sua memória sobrevive através da linguagem e do mito em muitas culturas descendentes.

Desde o Zeus grego, o Dyaus Pitar védico, e os romanos Júpiter e Diespiter anteriores ao Taranis e ao Dagda celtas, e até mesmo indícios nas tradições mitanni e hitita, o Dyeus Piter aparece como uma figura do Pai Todo-Poderoso associada aos céus. As suas origens linguísticas, papéis e símbolos em várias mitologias — bem como a evolução do seu culto e atributos — revelam muito sobre as transformações deste antigo Deus do céu nas culturas indo-europeias, tal como exploradas através de estudos comparativos.

Existem numerosas formas deste nome que podem ser construídas:

  • Védico: Dyáuṣ Pitṛ́ (द्यौष्पितृ, “Pai do Céu”)
  • Grego: Zeus Patēr (Ζευς πατήρ, “Pai Zeus”)
  • Latim: Iuppiter (do latim antigo Diespiter ou Djous pater, “Pai do Céu Jove”)
  • Ilírico: Deipaturos
  • Língua cita: Papaios (do grego Papaios, “Pai” Zeus), um Pai do Céu referido como “Papa”
  • Palaico (Anatólio): Tiyaz papaz (“Papa Tiyaz”), um deus do sol/céu
  • Irlandês antigo: Dagda Ollathair (“Grande/Pai de Todos”). (Embora o nome de Dagda tenha uma raiz diferente que significa “Bom Deus”, o seu epíteto “Pai Todo-Poderoso” mostra um papel semelhante de pai do céu)
  • Germânico: Wodan referenciado como o Pai Todo-Poderoso (Alföðr)
  • Báltico: Dievas



VÉDICO

Na antiga religião védica da Índia, o pai do céu aparece como Dyaus Pita (द्यौष्पितृ), um cognato direto de Dyeus Pater. No texto Rig Veda, Dyaus é reverenciado como o “Céu” (Dyaus) no papel de “Pai” (Pitar). É mais frequentemente mencionado na frase dupla “Céu e Terra” (Dyava-Prithivi), juntamente com a sua consorte Prithi Mata (Mãe Terra). Juntos são chamados os “dois pais” do mundo, reflectindo um conceito muito antigo de pai e mãe cósmicos.


HELÉNICO

Talvez a encarnação mais famosa de Dyēus Pater seja Zeus da Grécia antiga. O nome Zeus (grego Ζεύς, caso genitivo Διός / Dios) vem diretamente do proto-helénico Di̯eus, com a mesma raiz dyeu a ser usada para céu/luz. Grego homérico preservou o clamor vocativo “Ζεῦ πάτερ” (Zeû páter, “Pai Zeus”) em orações, exatamente como o védico e o latim fizeram, mostrando a herança compartilhada.

Na religião grega, Zeus assumiu uma importância imponente como o Pai e Governante dos Deuses e dos homens, reinando do Monte Olimpo como o chefe do panteão olimpiano.


ROMANO

Ele aparece numa forma distinta como Diespiter, acabando por se tornar o Deus chamado Júpiter na época da monarquia romana.

Dis Pater tornou-se um aspeto separado e ctónico relacionado com Plutão ou Hades, um filho de Saturno juntamente com Júpiter e Neptuno. Este aspeto ficou associado à morte, à agricultura e ao submundo, com temas plutónicos de riqueza derivados de todos estes empreendimentos.


CELTA

Os celtas, através das suas várias tribos na Europa da Idade do Ferro, também preservaram figuras de pais celestiais, embora em formas bastante distintas das greco-romanas ou védicas. Dois em particular mostram o duplo legado de Dyēus Pater em terras celtas: o deus gaulês Taranis, que representa o aspeto do céu tempestuoso, e o irlandês Dagda, que representa o aspeto patriarcal do Pai Todo-Poderoso (com foco na abundância e fertilidade).

As línguas celtas tinham divergido significativamente, pelo que o nome Dyēus em si não está presente de forma transparente, mas os conceitos e epítetos estão.


HITITA

Os hititas, que falavam uma língua indo-europeia, usavam a palavra “Sius” (de dyeus) para significar “Deus” em geral, em vez de um deus do céu específico. A sua divindade principal era o Deus-Tempestade de Hatti (Tarhunzas), que assumiu parcialmente o papel de pai do céu.

No entanto, há uma inscrição palaica que invoca “Tiyaz papaz” — literalmente “Papa Tiyaz”. Tiyaz era um Deus palaico do sol/céu, e papaz é uma palavra para pai.


BÁLTICO

As línguas bálticas mantiveram a palavra para deus/céu (Dievas em lituano, Dievs em letão) diretamente de dyeus. O Deus principal báltico, Dievas, era originalmente o deus do céu — um altíssimo, omnisciente porém passivo pai do cosmos. Nas canções folclóricas da Lituânia e da Letónia, Dievs/Dievas é uma figura paternal celestial que veste o céu como um manto cravejado de estrelas. O folclore letão refere-se a Debestēvs (“Pai do Céu”), que é uma correspondência semântica exacta com Pai do Céu.


EM GERAL​

Olhando para estas culturas, podemos discernir alguns atributos comuns e linhas temáticas na representação de Dyeus Pater: Ele é masculino, associado ao céu/paraíso, considerado como uma figura paternal (quer literalmente pai de outros Deuses ou metaforicamente pai da criação/humanidade), ligado à luz (luz do dia, o sol) e frequentemente associado à chuva ou tempestades, e visto como um líder ou ancião do panteão (embora nem sempre o seu governante).

Os símbolos mais comuns incluem o próprio céu (por vezes personificado como um olho ou uma entidade que tudo vê), a águia ou outras criaturas do céu, o relâmpago (em muitas tradições), o carvalho ou a árvore sagrada e imagens de um trono nas alturas (cume das montanhas ou céu). As práticas de culto envolviam frequentemente lugares elevados (altares no topo de colinas, templos no topo de montanhas), oferendas de touros ou carneiros (animais simbólicos da virilidade e da força) e a invocação em tratados e juramentos, reflectindo o seu papel de testemunha.



BIBLIOGRAFIA
Dyeus, Encyclopedia of Indo-European Culture, J.P. Mallory & D.Q Adams​
Indo-European Poetry and Myth, M.L. West​
Rigveda Samhita – vários hinos (1.164.33, 1.191.6, etc.) a referenciar Dyavaprithivi e Dyaus Pitṛ​
Jupiter, Taranis​

CRÉDITOS:
Karnonnos [Guardião Templar]​
 
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NOMES DE ZEUS: ATUM​


Atum, uma das divindades mais antigas e significativas da mitologia egípcia, está no centro da cosmogonia heliopolitana como o progenitor auto-criado dos Deuses e do universo. Reverenciado como o “Senhor da Totalidade” e o “Completo”, Atum personifica os conceitos de criação, completude e renovação cíclica.

Menos oculto do que Amon, mas fundamentalmente enigmático, o simbolismo de Atum permeia os textos religiosos egípcios, a iconografia e os rituais dos templos, reflectindo o seu duplo papel como princípio e fim da existência. Os papéis mitológicos de Atum, as suas associações simbólicas e o seu legado duradouro na teologia egípcia são variados, estando presentes em fontes fundamentais como os Textos das Pirâmides, os Textos Sepulcrais, e o Livro dos Mortos, bem como em análises académicas de egiptólogos.


MITO HELIOPOLITANO DA CRIAÇÃO​


A proeminência de Atum tem origem na cosmogonia de Heliópolis (Iunu), um dos mais antigos centros religiosos do Egipto. De acordo com a tradição heliopolitana, Atum emergiu das águas primordiais de Nun, o abismo caótico que existia antes da criação. Os Textos das Pirâmides (c. 2400-2300 a.C.), inscritos nas pirâmides dos faraós da Quinta e Sexta Dinastias, descrevem a autogénese de Atum:

Declaração 527, Texto da Pirâmide 600

Atum-Khepri, tornaste-te alto no céu; ergueste-te como a pedra Benben na Mansão da Fénix em Heliópolis. Cuspiste Shu; expectoraste Tefnut. Puseste os teus braços à volta deles, como os braços de um Ka, para que o teu Ka pudesse estar neles.

Atum era um Deus criador primordial na antiga religião egípcia, central no mito da criação heliopolitana. No princípio — o Tsep Tepi, ou “primeira ocasião” — só existiam as águas escuras e sem forma de Nun. A partir deste caos primordial, Atum auto-gerou-se e emergiu, sendo frequentemente retratado como surgindo no Benben (um monte primordial em forma de pirâmide, semelhante a um Chakra) que se ergueu de Nun.

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De forma única, Atum era considerado “o auto-criado”, contendo o potencial de toda a vida. Ele produziu o primeiro par divino, Shu (ar) e Tefnut (humidade), a partir de si próprio — o nome de Atum deriva da raiz tm, que significa “completar” ou “terminar”. Esta etimologia sublinha o seu papel como o Deus que contém em si todas as potencialidades. Os Textos Sepulcrais (c. 2100-1800 a.C.) enfatizam a sua completude:

76, Texto Sepulcral

Eu sou Atum, o criador dos Deuses Mais Antigos. Eu sou aquele que deu à luz Shu; Eu sou aquele grande Ele-Ela. Eu sou aquele que fez o que lhe pareceu bom, que tomou posse das Duas Terras de Nun, que deu ordens às Enéadas.

A androginia de Atum (referido como o “grande Ele-Ela”) realça a sua autossuficiência, permitindo-lhe gerar vida sem uma consorte, mas também as distintas polaridades magnéticas e eléctricas do universo.

Havia também um aspeto de Atum que era ctónico e relacionado com a morte. Os faraós prestavam homenagem a Atum nos seus textos mortuários, aspirando a unir-se a Atum na vida após a morte. A ideia era que, após a morte, a alma do rei viajaria para os céus e fundir-se-ia com Atum no sol poente.

Nas Declarações do Texto da Pirâmide, o rei falecido diz: “Sou teu filho; vim até ti, Atum”, procurando sentar-se no trono de Atum no céu. Isto reflecte a forma como Atum simbolizava a soberania absoluta, tanto divina como real. De facto, um estudioso observa que a mitologia egípcia da criação forneceu uma escritura teológica para a realeza, e Atum, como criador, era central para essa escritura.


SIMBOLISMO DE ATUM​

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Artisticamente, Atum era geralmente representado na forma humana como um homem que usava a pschent (coroa dupla) do Alto e Baixo Egipto, o que também indicava o seu controlo sobre os dois reinos da existência. Os dois lados da ordem e do caos estão representados na coroa, mostrando o seu simbolismo máximo como Senhor de Ma’at.

Traz frequentemente consigo um cetro de was (que representa o poder) e um ankh (que representa a vida), sublinhando a sua autoridade sobre a criação e a sua capacidade de dar vida. Uma das poucas distinções na arte entre Atum e um faraó é que Atum pode ser mostrado com uma barba divina (curvada na ponta) em vez da barba reta dos reis, relacionada com a Sequência de Fibonacci.

É frequentemente representado entronizado, como convém a um criador-rei dos Deuses. Em certos contextos, Atum tinha uma iconografia especializada: no submundo, podia ser representado como um homem idoso apoiado num bastão (mostrando a fraqueza do sol no final do dia) ou mesmo com uma cabeça de carneiro, uma forma que assume no Duat como protetor, associando-o a Amon.

A associação de Atum com o sol também significava que ele era representado como um escaravelho em alguns ciclos solares — o escaravelho (Khepri) simbolizava o renascimento do sol da manhã, e Atum como escaravelho sublinhava o seu papel na regeneração contínua do sol. Aos olhos dos egípcios, todas estas imagens variadas exprimiam os atributos de Atum: o poder criativo, a realeza sobre a criação e a garantia de renovação.

A emergência de Atum de Nun no topo do monte primordial é simbolizada pela pedra Benben, um objeto piramidal ou cónico que se tornou o protótipo dos obeliscos e piramidões e que também representa os Chakras. O Benben representava a primeira terra sólida e o núcleo da criação. Na arquitetura dos templos, o santuário mais interior (o Naos) que abrigava a estátua de culto era visto como um microcosmo deste monte, ligando o ato criativo de Atum aos rituais diários.

Ocasionalmente, Atum era representado como um leão ou um ichneumon, uma forma egípcia estilizada de um mangusto. O ichneumon, uma criatura que mata cobras, reforçava o seu papel de protetor contra o caos. O leão, por outro lado, simbolizava o poder solar e a realeza, ligando Atum à autoridade divina do faraó.

Na sua forma nocturna, Atum era representado como uma serpente — um símbolo de regeneração e do submundo. O Livro dos Mortos (Feitiço 175) descreve o ato final de dissolução de Atum:

Feitiço 175, Livro dos Mortos

Destruirei tudo o que fiz; esta terra voltará a Nun, ao dilúvio, como no seu estado original. Mas eu permanecerei com Osíris; transformar-me-ei em outra serpente que os homens não conhecem e os Deuses não vêem.

Esta forma serpentina sublinha o papel de Atum como criador e destruidor, personificando a natureza cíclica do tempo.

O ato de criação orientado para si próprio de Atum, muitas vezes eufemizado como “usar a mão”, simboliza a criatividade autónoma. A mão tornou-se um hieróglifo para ação e poder. No Papiro de Bremner-Rhind (século IV a.C.), Atum declara: Copulei com o meu punho; juntei a minha mão à minha boca; entrei na minha própria boca. Espirrei Shu; cuspi Tefnut.

Esta imagem paradoxal — estéril porém fértil — reflecte o entendimento egípcio da criação como um ato de vontade divina que transcende as meras normas biológicas.

Para além disso, Atum tinha um rico simbolismo animal que transmitia os seus poderes. Os seus animais sagrados incluíam a serpente Kundalini, o leão — símbolo de todas as prerrogativas reais e solares —, o touro, representando o controlo da mente, a virilidade e a realeza solar (tal como o touro negro Mnevis de Heliópolis, que era sagrado para Atum), o lagarto, e o ichneumon ou mangusto, conhecido por lutar contra cobras. As imagens contraditórias dos seus animais demonstram a sua ligação à criação, destruição e renascimento.

Cada criatura reflectia um aspeto de Atum: por exemplo, como leão, Atum era um protetor feroz; como serpente, era a misteriosa personificação da eternidade; como touro, era um procriador e rei. Até como um babuíno, assumiu o papel de defensor, disparando contra os agentes do caos.

Um exemplo notável é o símbolo da Fénix. Dizia-se que o pássaro egípcio Benu, ligado a Atum e relacionado com a Pedra, se erguia das águas de Nun e pousava na pedra Benben, gritando para inaugurar a criação. Mais tarde, este simbolismo foi copiosamente roubado pelos cristãos e vários degenerados no Egipto.

Estes símbolos variados reforçaram a imagem de Atum como uma divindade que estava presente em todas as formas de vida, animal e humana, mas que, em última análise, as transcendia como o mestre singular da criação. O simbolismo de Atum operava assim a nível cósmico, político e pessoal, tornando-o um dos Deuses mais simbólicos do panteão egípcio.


TEMPLOS DE ATUM​


O culto de Atum estava firmemente estabelecido em Iunu. Era venerado como divindade solar e como pai primordial do faraó. Os governantes desta época incorporavam frequentemente Atum nos seus epítetos reais e nos rituais das pirâmides. Por exemplo, o faraó Unas (5ª Dinastia) tem textos que dizem que ele subirá ao céu e se sentará no trono de Atum, enfatizando a proximidade com o Deus.

Faraós do Império Médio, como Senusret I e Amenemhat III, remodelaram os templos de Heliópolis e acrescentaram obeliscos que celebravam Atum. Foi dada uma ênfase crescente ao papel de Atum na assistência à batalha de Rá contra a serpente Apep e na derrota de Atum contra a serpente Sepa, que é mostrada de forma elaborada no Livro dos Portões. Outras imagens encontradas em túmulos desse período mostram Atum apresentado ao lado dessas serpentes.

Embora Heliópolis continuasse a ser o principal centro de culto de Atum, a sua adoração espalhou-se por Tebas e pelo Delta. Os templos apresentavam estátuas de Atum como um homem usando a Coroa Dupla, simbolizando o seu domínio sobre o Alto e o Baixo Egipto. Nos relevos, segura frequentemente o cetro de was e o ankh.

Alguns templos ptolemaicos do Alto Egipto também honravam Atum; por exemplo, em Dendera, um complexo de templos da era greco-romana, Atum é incluído em cenas cosmológicas e hinos ao lado de outras divindades criadoras.


UNIÃO DE ATUM E AMON​


No Reino Novo, existiam cultos atribuídos a Atum, como o das Sumas Sacerdotisas reais tebanas, conhecidas como Adoratrizes Divinas de Amon, que actuavam como a Mão de Atum nos rituais do templo. Isto mostra que existia uma relação simbiótica entre os dois Deuses, envolta em simbolismo.

No período romano, Atum foi por vezes fundido na figura de Zeus Ammonas ou Júpiter na interpretatio graeca-romana, ou em formas de Zeus-Helios (Zeus do Sol) durante as visitas imperiais romanas a Heliópolis. Era frequentemente representado com chifres de carneiro.

Vemos, por exemplo, nalgumas moedas e inscrições romanas, Júpiter-Helios-Atum reunidos como uma única divindade. O imperador Augusto, ao dedicar uma estela, invocou “Júpiter que se eleva do céu oriental”, referindo-se a Atum-Ra.

Havia também uma interpretação filosófica. Plutarco, em Sobre Ísis e Osíris, menciona um conceito de uma divindade suprema egípcia que permanece depois de tudo o resto ser destruído, provavelmente aludindo ao papel de Atum no fim dos tempos. Este facto ajudou os pensadores helenísticos a enquadrar Atum como um símbolo de um princípio primordial duradouro, semelhante à sua ideia de Logos ou Deus primordial.


FARAÓ, FILHO DE ATUM​


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Horemheb suplicando a Atum​

Os faraós reivindicavam a descendência de Atum para legitimar o seu governo. Os Textos das Pirâmides (Utterance 600) afirmam:

Declaração 600

O rei é o filho de Atum, que o ama, que o deu à luz, para que ele possa estar no trono de Atum para sempre.

Ao associarem-se ao poder criativo de Atum, os faraós posicionavam-se como defensores de Ma’at (ordem cósmica). Muitos faraós usavam o epíteto “Filho de Atum” como parte do seu titulário, mesmo muito depois de o poder político se ter deslocado de Heliópolis para Tebas.

Como o primeiro Deus-rei (aquele que governou antes de a terra ter faraós), Atum era visto como o protótipo divino de quem os faraós terrenos herdavam a autoridade. Os faraós alinhavam-se explicitamente com Atum. O título “Filho de Atum” era usado pelos reis para sublinhar que eram descendentes do criador original.


FESTIVAIS DO CRIADOR​


Os festivais de Atum, como a “Festa da Enéade”, envolviam procissões e oferendas de pão, cerveja e incenso. O Templo de Atum, em Heliópolis, abrigava uma árvore sagrada (a ished), onde se acreditava que residia a presença do Deus.

Em Tebas, o Festival de Opet e outros rituais estatais invocavam ocasionalmente Atum juntamente com Amun. Um papiro do final do Reino Novo sugere que Atum desempenhava um papel central no festival de Ano Novo: à medida que o ano se regenerava, o papel do rei era renovado pelas bênçãos de Atum.


CONTEXTO DO INIMIGO​


Muitos dos atributos de Atum e Amon, juntamente com os mistérios avançados de Zeus de fontes gregas, foram roubados pelo cristianismo, particularmente a ideia de alfa e ómega e o logos. O lunático chamado Orígenes reivindicou o conhecimento do mito da fénix e descaradamente forçou-o a entrar no mito de “Cristo”. Outros aspectos chegaram à literatura gnóstica, como os chamados “Autogenes”.



BIBLIOGRAFIA
Livro dos Mortos capítulos 15, 17, 175, Textos das Pirâmides Egípcias e Textos Sepulcrais​
Ancient Gods Speak, Donald B. Redford​
Atum the Creator God, kemetexperience​
On Isis and Osiris, Plutarch​
The Phoenix and the Early Church, Daniel Tompsett, Foundations​
Handbook of Egyptian Mythology, Pinch​
The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt, Richard H. Wilkinson​
Ancient Egyptian Creation Myths: From Watery Chaos to Cosmic Egg, Glencairn Museum​

CRÉDITOS:
Karnonnos [Guardião Templar]​
 
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NOMES DE ZEUS: XANGÔ
Xangô, também conhecido como Shango, é a personificação do trovão, da agricultura, da justiça, das tempestades, da dança e da virilidade masculina nas religiões iorubá, dahomey e ewe, originárias da atual Nigéria, Benin, Camarões e Togo. Ele também é conhecido como Sogbo ou Hevioso na religião Fon do atual Benin, onde o vodu se originou.

O Deus das Tempestades é representado prolificamente em muitas das religiões do Novo Mundo da diáspora negra, como a Santería nas comunidades afro-latinas, o Candomblé no Brasil e o Vodu no Haiti, na Louisiana e em muitos outros lugares, mas também em outras tradições distintas de Trinidad e Cuba que levam apenas o seu nome.

Muitos de seus aspectos são transmitidos verbalmente e nem sempre estão totalmente alinhados uns com os outros, mas surge uma forte imagem desse Deus das terras iorubás.


SIMBOLISMO DE XANGÔ

Assim como em muitas outras representações, Xangô é representado como um orixá com um machado de uma ou duas cabeças, geralmente na cabeça ou próximo aos pés. Ele é frequentemente representado com esse símbolo que simboliza o poder do raio e o controle sobre os elementos. Suas cores são geralmente vermelho e branco, cores que tinham uma importância significativa no Egito.

Ocasionalmente, porém, ele é representado em uma forma corporal mais andrógina, que é considerada uma alegoria da influência nutritiva dos orixás e do equilíbrio das forças masculinas e femininas na alma. De todos os deuses, ele é o que mais liberalmente usa o ase (força divina), semelhante ao poder das bruxas. Essa androginia também é representada em seus sacerdotes tradicionais, que usam os estilos de cabelo raspado, trançado e alto das mulheres em ocasiões especiais. Curiosamente, sabe-se que esse penteado, quando usado por homens, está associado ao estado de transe e ao aspecto medicinal de Xangô para rituais de massa; é proibido aos homens usá-lo em outros contextos.

Sua beleza física e virilidade são sempre enfatizadas na cosmologia iorubá, mas também sua tendência a se enfurecer rapidamente e ser caprichoso. Xangô representa o poder da própria natureza de forma mais central do que outras representações de Zeus. Assim como Raijin, os ritmos dos tambores Iyá, Itótele e Okónkolo invocam sua energia e representam seus poderes.

Os iorubás acreditam que Xangô cria trovões e relâmpagos lançando “pedras de trovão” do céu para a terra. Qualquer pessoa que ofenda Xangô é atingida pela velocidade de um raio. Quando o raio caía, seguido de trovões, os antigos sacerdotes de Xangô saíam em busca de pedras de trovão ou da “pedra do trono”, que tinha poderes especiais:

Oração Yorubá para Xangô

On'-ile ina!
A da ni niji
Ina osan!
Ina gun ori He feju!
Ebiti re firi se gbi!
O Senhor da Casa do Fogo!
Aquele que causa pavor repentino!
O fogo do meio-dia!
O fogo que sobe no telhado e se torna ofuscante!
O peso mortal que atinge o chão com força ressonante!

Xangô é representado em uma dança sagrada que representa todos os seus feitos e conquistas, não muito diferente de Shiva. Os adoradores em Yorubaland ainda empunham o oshe ou machado de Xangô em uma dança simbólica em massa, com suas faces duplas elaborando certos mistérios:

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Shannon me disse que o Veve de Hevioso representa os chifres do carneiro:

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Particularmente na Santería, Xangô é consistentemente associado ao carneiro e à cor vermelha, simbolizando sua conexão com Amon e Zeus, mas também com o signo de Áries e o equinócio da primavera. Ele é frequentemente invocado para o sucesso em questões sexuais, sendo conhecido nos mitos como amoroso. Seu dia é representado como sexta-feira ou sábado, mas geralmente como quinta-feira na África.

Nas tradições brasileiras, Xangô é representado com uma coroa de bronze, o que significa sua posição de precedência entre os orixás. Os quatro principais rios nigerianos (o principal deles é o rio Níger) também são as esposas de Xangô, aludindo ao seu domínio dos elementos.


O XANGÔ TERRENO

Na maioria das narrativas, Xangô foi considerado um dos principais ancestrais do Império de Oyo. Ele foi equiparado ao terceiro Alaafin (Guardião do Palácio), que trouxe todas as formas de prosperidade e poder ao reino. Como governante forte e guerreiro, ele fez com que muitos dos inimigos de Oyo o temessem. No entendimento dos iorubás, o temível Alaafin era casado com Oya (Lilith) e Oshun (Astarte). Foi devido às intrigas e à persuasão de Oya que Xangô decidiu assumir o poder.

O culto a Xangô desempenhou um papel fundamental na administração do estado. A posição do Alaafin como representante de Xangô foi explorada ao máximo como um meio de apoiar sua autoridade. O culto foi difundido em todas as cidades sob influência de Oyó e organizado em uma hierarquia centralizada no palácio de Oyó. Os Ajales do Alafin eram, muitas vezes, sacerdotes de Xangô.

Trinidad Yoruba, Maureen Warner-Lewis

Seu governo só terminava quando o próprio palácio era atingido por um raio, provocando um tipo de apoteose, ou quando era expulso pelo outro governante. Portanto, nas tradições iorubás, Xangô era um ser físico que se tornou um orixá e era originalmente um rei do Império de Oyo. Ele trouxe prosperidade ao império de Oyó e, mais tarde, cometeu suicídio por enforcamento, revelando-se posteriormente ao povo de Oyó como tendo tomado seu lugar como orixá. As narrativas das fontes mostram uma história semelhante sobre Hevioso.

Até hoje, na Nigéria, Xangô é invocado durante as coroações para conceder ao rei o poder justo e o uso adequado da justiça. Na Santería, os ritos também são concluídos com frequência nomeando-o rei:

Ritual de Lukumí

Kabiosile Changó!
Salve o rei, Xangô!


OLODUMARÊ

O grande Deus por trás de todos os espíritos dos orixás, Olodumarê (Osanobua entre os povos Edo), representa o conceito de Satya ou Verdade Cósmica. Oludmare está em tudo e, ao mesmo tempo, além de tudo. Sabe-se que essa força designou Xangô como o mais forte e poderoso dos orixás. Para os iorubás, ele também é associado ao arco-íris e aos prismas de cores que costumam aparecer após a tempestade.

Como o Ser Supremo no ápice dessa hierarquia cósmica divina, Olodumarê, Nana Buluku, Nazambi Kalunga ou Onyankopon é o dono dos céus, a fonte de toda a existência e o poder originário por trás do mundo dos espíritos e da vida humana. O nome Olodumarê é uma combinação de olo, odu e mare. Olo odu significa “dono do odu”, o princípio que sustenta o funcionamento do universo, e mare é “luz” ou “arco-íris”.
Afro-Caribbean Religions, Nathaniel Murrell


ADIVINHAÇÃO E ORUNMILÁ

A emanação terrena do orixá, chamada Òrúnmìlà, foi considerada a criadora de todos os sistemas de adivinhação, viajando pelo mundo para encontrar o melhor dos sistemas e construindo o Grande Templo de Ife-Ife. Várias lendas sugerem que Xangô lhe passou essa habilidade em troca da dança do mundo, mostrando a identidade de Xangô como um Deus do Destino:
O Caminho do Orixa, Philip John Neimark

Os poderes de empatia e intuição de Xangô não podem ser exagerados. Os primeiros oriki (pequenas orações e histórias) sugerem que, em um determinado momento, era Xangô quem possuía a tábua de adivinhação e o segredo de prever o futuro. Nessas histórias, diz-se que, devido à sua capacidade inata de pressentir eventos futuros, Xangô não sentia necessidade de usar o equipamento físico e as técnicas e, por isso, os trocou por Orunmila em troca do dom da dança.

O próprio Òrúnmìlà é expresso por meio dos ritos de adivinhação, Ifá. A adivinhação é extremamente importante na religião iorubá e funciona como o principal rito religioso em si; ela é considerada uma forma aproximada de se comunicar com as divindades, não apenas de simbolizar ou interceder. Ifá é praticado não apenas na África, mas também na diáspora:

Religiões afro-caribenhas, Nathaniel Murrell

O popular sistema de adivinhação Ifa - comum entre os iorubás, Fon Ewe (Daomé), Ebo, Igbo e outros povos da África Ocidental - não só está vivo em Cuba, no Brasil e em Trinidad, como também é uma busca acadêmica e cultural dentro e fora da região.

O sistema de adivinhação elabora o que ocorrerá com o adorador se ele mudar pouca coisa em sua vida. O simbolismo de Òrúnmìlà ao seguir Ifá permite que o praticante alcance o que é chamado de titete (alinhamento da alma). Os estados meditativos são considerados muito importantes e, no entendimento iorubá, são necessários anos de iniciação e prática para atingir um estado adequado.

Os sacerdotes e sacerdotisas da religião iorubá aprendem de cor até 1.680 versos ou códigos simbólicos expressos por meio de ditados, em paralelo aos sistemas verbais dos celtas. Há evidências de que alguns desses ditados vieram do próprio Egito, tendo grandes semelhanças com os textos egípcios.

Xangô está associado aos versos que tratam de governança, vitória em batalha e as consequências da arrogância ou do mau uso do poder. Sua influência em Ifá geralmente aparece em casos em que justiça, força e equilíbrio são necessários, pois ele é conhecido por seus julgamentos justos, porém severos. As pedras vermelhas do trovão (edun ara), que se acredita serem remanescentes de seus raios, são usadas em rituais e às vezes aparecem em adivinhações.


CORRUPÇÃO

Com a agitação e as proibições do paganismo que vieram com a escravidão transatlântica, muitos foram obrigados a adorar a “santa” chamada Bárbara, cujo pai foi atingido por um raio ao decapitá-la por ter se convertido ao cristianismo. As características andróginas de Xangô também contribuíram para esse tipo de confusão.

Até hoje, muitas religiões do Novo Mundo hibridizam Xangô com essa santa, o que é uma prática perigosa. No Temple of Zeus, pedimos que a prática de cada um se concentre totalmente no Deus.



BIBLIOGRAFIA
Sàngó na África e na Diáspora Africana, Tóyìn Fálọlá, Joel E. Tishiken e Akíntúndéí Akínyẹmí​
Afro-Caribbean Religions (Religiões afro-caribenhas), Nathaniel Murrell​
The Way of the Orisa, Philip John Neimark​
Art and Trance Among Yoruba Shango Devotees, African Arts, Margaret Thompson Drewal​
Trinidad Yoruba, Maureen Warner-Lewis​

CRÉDITOS
Karnonnos [Guardião Templar]​
Shannon (assistência com Veve e Levioso, simbolismo)​
Warlock666 (elementos narrativos de Xangô, livros iorubás de Trinidad)​
 
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NOMES DE ZEUS: NZAZI

O povo Bakongo, cujas terras ancestrais se estendem pela atual República Democrática do Congo, Angola e Gabão, possui uma tradição espiritual ligada a Nzazi, o Deus do trovão e do relâmpago, que é uma das figuras mais complexas.

Reverenciado tanto como doador de vida quanto como destruidor, Nzazi incorpora a dualidade da natureza e serve como árbitro moral na religião bakongo. O papel que ele exemplifica na espiritualidade Bakongo é mais complexo, oferecendo uma visão de como essa divindade reflete a compreensão do povo Kongo sobre o mundo natural e a ética.


NZAMBI MPUNGU​


A teologia Bakongo se concentra em Nzambi Mpungu, o Deus Criador supremo, que delega autoridade a divindades e espíritos menores chamados bisimbi, mais ou menos análogos aos orixás:

Referência de Oxford

Deus do povo Bacongo de Angola. Identificado com o Sol, Nzambi é auto-existente, todo-poderoso e “sabe tudo”. Os Bacongo dizem: “Ele não foi feito por nenhum outro; não há ninguém além dele”. Nzambi, “a maravilha das maravilhas”, é bondoso - uma divindade que “cuida do caso do homem pobre”. De fato, o Deus do céu parece demonstrar bondade até mesmo para com os membros mais destituídos da sociedade. Incapaz de praticar o mal ou de cometer erros, Ele “é justo e misericordioso”, o governante e sustentador do universo, uma fonte de bondade.

Diferenças individuais, entretanto, o Bacongo atribui a Nzambi. Ele não apenas cria os indivíduos, mas também lhes dá diferentes gostos e qualidades de alma. Eles dizem: “Não se pode resistir ao que vem do céu”. Dizem que existe uma relação especial entre a Deidade Criadora e o homem, às vezes expressa como: “O homem é o homem de Deus”.

Esse é um tema típico da mitologia bantu. Diz-se que Nzazi é um bisimbi de grande poder.

De acordo com a cosmologia Bakongo, o universo originou-se de um vazio infinito e sem vida conhecido como mbûngi. Desse vazio primordial, a divindade suprema Nzambi Mpungu invocou uma centelha primordial de fogo, Kalûnga, que começou a se expandir até preencher totalmente o mbûngi.

À medida que o Kalûnga crescia além da capacidade de contenção, ele irrompeu em uma explosão cósmica, dispersando cataclísmicamente elementos superaquecidos pelo cosmos. Essa explosão energética forjou as fundações do universo, esculpindo as estrelas, os planetas e os corpos celestes.

Dentro dessa tradição, Kalûnga é reverenciado não apenas como o catalisador da criação, mas também como a força universal que impulsiona todos os movimentos e mudanças. A visão de mundo Bakongo enfatiza que a própria vida depende da transformação perpétua e do movimento dinâmico - princípios incorporados por Kalûnga. Notavelmente, Nzambi Mpungu também é venerado como o próprio Kalûnga. Ele incorpora o princípio divino da mudança que sustenta os ciclos cósmicos e terrestres.

Esses ciclos estão relacionados ao nascer, ao pico, ao pôr do sol e às fases invisíveis do Sol, que os povos bakongo correlacionam com todos os estágios da vida e com a criação do mundo. Muitas dessas cosmologias são semelhantes à de Atum no Egito, incluindo o aspecto solar do rejuvenescimento quádruplo.

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Os Bakongo dividiram o mundo no reino físico de Ku Nseke e no reino espiritual de Ku Mpèmba. Uma linha de profundidade misteriosa chamada Linha Kalûnga separa esses dois mundos. Todos os seres vivos existem em um lado ou no outro. Acredita-se que os espíritos Simbi transportam o povo Kongo entre os dois mundos no nascimento e na morte.


DOADOR DE VIDA​


Como portador da chuva, o Nzazi é essencial para os ciclos agrícolas. O estilo de vida dos Bakongo depende muito da agricultura. Eles consideram as tempestades como bênçãos que reabastecem o solo. Os rituais que invocam a chuva de Nzazi geralmente acompanham as épocas de plantio, garantindo a fertilidade e a abundância. Nessa função, ele está intimamente associado ao poder criativo de Nzambi Mpungu. Ele canaliza a água - o símbolo da vida - dos céus.

Em épocas de seca, as comunidades do povo Bakongo se reúnem para dançar, tocar tambores e entoar cânticos, pedindo a Nzazi que envie chuva. Essas cerimônias geralmente envolvem o uso de sinos de ferro e chocalhos com sons estrondosos.

Um mito atribui a Nzazi a criação de rios e vales por meio de relâmpagos, moldando os sulcos topográficos da Terra. Isso o alinha com a própria criação, posicionando as tempestades como ferramentas tanto de destruição quanto de renovação.


TRADIÇÃO ORAL​


Um mito popular fala de um chefe de aldeia que acumulou recursos durante uma seca, recusando-se a compartilhar com seu povo. Nzazi, irritado com esse egoísmo, convocou uma tempestade que atingiu o celeiro do chefe com um raio, reduzindo-o a cinzas. O chefe se arrependeu e logo começou a chover, reavivando a terra.

Essa história ressalta o papel de Nzazi na aplicação da ética comunitária e as consequências da ganância, mas é extremamente semelhante a outros mitos envolvendo Zeus em todo o planeta.

Outra narrativa descreve Nzazi como um guerreiro que luta contra espíritos malévolos (ndoki) que causam o caos na Terra. Seus trovões são o som de suas armas celestiais se chocando com as forças das trevas, enquanto os relâmpagos iluminam o caminho da retidão.


BANGANGA​


Os principais indivíduos da religião Bakongo são curandeiros chamados Banganga ou Nganga, que significa “especialista”. No Reino do Kongo e no Reino do Ndongo, na era do Renascimento, os sacerdotes eram conhecidos por terem passado por um treinamento complexo, que durava anos, com códigos orais detalhados. O Congo foi um dos reinos mais complexos e avançados da África, centrado na cidade de Mbanza Kongo.

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Eles também passaram por treinamento para se comunicar com os ancestrais ou espíritos, como o Nzazi. Considera-se que o Nzazi é importante para guiar uma pessoa em seu período de vida para Ku Mpémba, o mundo espiritual.

Eles desempenharam um papel importante na resistência a João I, João II e Afonso I, que impuseram o cristianismo aos congoleses por meio do contato com os portugueses. Muitos continuaram a resistir aos esforços dos padres capuchinhos para impor o cristianismo no reino até o início do século XIX.


SÍMBOLOS DO NZAZI​


Nzazi é frequentemente descrito como uma figura canina ou um homem cercado por doze cães que possivelmente representam os trabalhos. Mbwa Nzazi, o cão de Nzazi, é usado para controlar raios e trovões, para manter as pessoas longe do que eles podem causar.

Para os balubas, Nzazi - “o raio” - representa um animal. Ele é descrito como um bode preto com cauda de pavão que produz chamas quando aberto. Nas estações mais secas, ele supostamente vive dentro de cavernas, mas durante a estação chuvosa, ele sobe à superfície. Ele sempre se move como um estrondo, formando o trovão. Muitas vezes se lança em direção ao solo com o objetivo de tocar um objeto, um animal ou um homem, para absorver sua energia e se alimentar.

O fogo de Nzazi vem por meio de raios que atingem palmeiras e árvores frutíferas. Quando atingidas por esse raio, as pessoas são proibidas de tocá-las. Isso é determinado por Nkisi Nzazi por meio do Nganga. Ao passar perto da referida árvore, o Nkisi Nzazi se livra de uma maldição. As árvores atingidas pelo Nzazi são usadas como materiais para a fabricação de amuletos e objetos sagrados.

Nzazi é retratado empunhando uma arma trovejante, como em quase todas as representações de Zeus. Essa ferramenta representa sua capacidade de dividir o céu e atingir a Terra com precisão.

Acredita-se que a imponente sumaumeira atraia raios. Portanto, ela é considerada altamente sagrada para Nzazi. Acredita-se que seu tronco oco abriga sua energia, e os rituais são frequentemente realizados em sua base.

Após as tempestades, o arco-íris (nkangi) é visto como a “ponte” de Nzazi, sinalizando o fim de sua fúria e a restauração da paz. O arco-íris também é um símbolo de muitos outros deuses supremos bantu, o que sugere uma tradição compartilhada.


BIBLIOGRAFIA​

Narrativa de uma expedição para explorar o rio Zaire, geralmente chamado de Congo, na África do Sul, em 1816

Por James Kingston Tuckey , Christen Smith

Two Trips to Gorilla Land and the Cataracts of the Congo (Duas viagens à Terra dos Gorilas e às Cataratas do Congo), Richard Francis Burton

African-Atlantic Cultures and the South Carolina Lowcountry, Ras Michael Brown

Kongo Political Culture: The Conceptual Challenge of the Particular, Wyatt MacGaffey

Folk-lore - A Quarterly Review of Myth, Tradition, Institution, and Custom, David Nutt

Etnografia do NPS: Patrimônio e etnografia afro-americana

CRÉDITOS​

Karnonnos [TG]
 

NOMES DE ZEUS: ODIN​


Odin, ou Óðinn (nórdico antigo), era o “Pai de Todos” (Alfadir) pan-germânico, e no paganismo germânico mais amplo — que outrora cobria grande parte da Europa — ele era conhecido por vários derivados, como Wōden ou Wuotan, todos em última análise derivados do proto-germânico Wōðanaz, que significa “Senhor do Frenesi” ou “Líder dos Possuídos”.

No entanto, Odin tem mais nomes e títulos do que qualquer outro Deus nórdico/germânico, com estimativas superiores a 150, muitos dos quais aparecem nos Eddas e noutras fontes skáldicas. Alguns desses nomes incluem:

  • Alfadir (“Pai de Todos”)
  • Arhofdi (“Cabeça de Águia”)
  • Fjolsvidr (“O Muito Sábio”)
  • Sigfadir (“Pai da Vitória”)
  • Gagnradr (“O que dá Bons Conselhos”)

Estes epítetos realçam o seu papel como líder dos Aesir (com doze membros no seu conselho) e sublinham a sua natureza paternal, uma vez que se diz que foi pai de muitos dos Deuses (e homens) — tornando-o o “Mais Alto” e o “Mais Velho”.

Odin é principalmente um Deus da Guerra, da Sabedoria, da Magia, da Poesia e dos Mortos. Como Deus da Guerra, Odin, acompanhado por guerreiras divinas chamadas Valquírias, presidia a todos os assuntos de guerra e, usando a sua sabedoria superior e previsão, seleccionava os lutadores mais merecedores para vencer uma batalha. A este respeito, ele era o supremo supervisor dos destinos dos homens e só os dignos podiam entrar em Valhalla, o “Salão dos Mortos”, onde os de espírito nobre se elevam na morte com a sua Valquíria.


ILUMINAÇÃO DE ODIN​


A posição de Odin como Deus da Magia e da Sabedoria é evidente em dois dos seus principais contos mitológicos, ambos retratando o auto-sacrifício em troca de conhecimento e sabedoria. Primeiro, ele escolhe ficar pendurado na Árvore do Mundo, Yggdrasil, durante nove dias e nove noites. Esfomeado, desidratado e com dores devido à ferida auto-infligida pela sua lança, Gungnir, Odin apercebeu-se das Runas (conhecimento e sabedoria), que os Deuses e os Homens podem utilizar para a magia e a escrita. Nas palavras da Edda Poética:

Eu sei que fiquei pendurado na árvore ventosa, Pendurado lá por nove noites inteiras; Com a lança fui ferido, e oferecido a Odin, a mim mesmo para mim mesmo, Na árvore que ninguém jamais poderá saber Que raiz sob ela corre. Ninguém me felicitou feliz com pão ou chifre (bebida), E lá embaixo eu olhei; Peguei as runas, gritando eu as peguei, E imediatamente caí.

Depois disto, Odin procurou mais conhecimento e sabedoria junto do gigante Mimir. Mimir tinha um poço, chamado “Poço de Mimir”, e estava localizado em Jotunheim (Terra dos Gigantes). Qualquer pessoa que bebesse desse poço ganhava sabedoria; no entanto, havia um preço a pagar. Mimir permitiu que Odin bebesse do seu poço com a condição de que ele desse o seu olho esquerdo ao poço — Odin concordou com as condições e sacrificou o seu olho em troca de uma bebida do Poço de Mimir, transmitindo assim sabedoria. Depois disso, Odin abençoou os homens com os mesmos dons que adquiriu, pelo menos aqueles que estavam dispostos a ouvir.

Por fim, como Deus da Morte, Odin viaja frequentemente pelos Nove Mundos de Yggdrasil, ajudando os mortais e os Deuses como Alfadir (“Pai de Todos”). Presidindo à Vida e à Morte, guia os dignos mortais caídos e eleva-os à sua sublime morada em Asgard, o mundo mais alto de Yggdrasil e lar dos Aesir, os Deuses. Ele mantém estes homens e mulheres em Asgard, em Valhalla, aguardando o evento final do Ragnarök, onde a sua apoteose se aproxima, moldada pelo seu nobre caráter.

Por fim, Odin tem muitos símbolos que lhe são comummente associados:

  • Gungnir (“O Que Balança”) é a sua arma mais importante. Foi esta lança que lhe trespassou o corpo durante o seu auto-sacrifício. Nunca falha o alvo e regressa sempre à sua mão após a utilização. Gungnir é um símbolo da decisão de Odin em questões de batalha e guerra. Ocasionalmente, ele empresta o Gungnir aos mortais.
  • Um anel de braço conhecido como Draupnir, ou “O Gotejador”, deixa cair de si oito anéis de ouro do mesmo peso e forma a cada nove noites. Como resultado de receber Draupnir, Odin sempre foi capaz de esbanjar presentes para o seu povo, o que era especialmente apropriado para o Pai de Todos, já que os nórdicos davam grande importância à generosidade de um líder.
  • Odin senta-se em um trono mágico conhecido como Hlidskjalf, que ele mantém na câmara mais alta de Valaskjalf, a torre mais alta de seu salão em Asgard. Odin usa-o frequentemente para observar o que acontece nos reinos fora de Asgard, porque quem se senta nele pode ver os Nove Mundos. No entanto, apenas Odin e Frigg (a sua mulher) têm esta capacidade — Frei tentou uma vez e cometeu um erro, deixando-o vulnerável.
  • Sleipnir (“O Deslizador”) é o corcel de oito patas de Odin com runas mágicas gravadas nos dentes. As oito patas de Sleipnir representam a sua capacidade de viajar entre os mundos (Midgard, Asgard, etc.), simbolizando a ligação de Odin a todos os reinos, particularmente o seu papel como Deus da sabedoria, da morte e da vida após a morte. O cavalo também incorpora temas de transcendência, pois Sleipnir pode mover-se rapidamente através de diferentes reinos, servindo frequentemente como veículo para viagens para além do mundo mortal.
  • Odin tem dois corvos, Hugin (“Pensamento”) e Munin (“Memória”). Todas as manhãs, eles saem de Asgard e voam pelo mundo para observar tudo o que acontece. Ao fim da tarde, regressam, instalam-se nos ombros de Odin e partilham o conhecimento que adquiriram.
  • Odin é associado à águia. É frequentemente representado vestindo um elmo com asas de águia. Além disso, uma águia está empoleirada sobre o Salão de Valhalla, e nos ramos mais altos de Yggdrasil, a Árvore do Mundo, uma águia senta-se com um falcão, Veðrfölnir, entre os seus olhos, recebendo mensagens do esquilo Ratatoskr.
  • Odin também tem dois lobos ferozes, Freki e Geri (ambos significam “O Ganancioso”). Eles descansam aos seus pés quando ele se senta em Hlidskjalf e quando preside ao banquete em Valhalla.
Existem, naturalmente, outras coisas associadas ao Pai Todo-Poderoso, mas estes são os seus símbolos mais populares.


COSMOLOGIA​


Após o aparecimento do gigante Ymir e da vaca Audhumla do caos primordial, e a subsequente ascensão dos seres antigos, nasceu um trio de Deuses: Odin, Vili e Ve. Ymir e os jovens Deuses estavam em desacordo. Após uma longa e feroz batalha, Odin, Vili e Ve triunfaram sobre Ymir. Do seu corpo caído, deram forma a Midgard, a futura casa da humanidade. Os irmãos criaram então o sol, a lua e as estrelas, mas sentiram que Midgard precisava de habitantes. Primeiro, criaram bestas para vaguear pelas florestas, peixes para nadar nas águas e pássaros para voar nos céus. Depois, criaram os anões, mas logo perceberam os defeitos dessas criaturas, apesar de sua habilidade. Por isso, Odin, Vili e Ve decidiram criar os humanos à sua imagem. Enquanto caminhavam ao longo da costa, depararam-se com um freixo e um amieiro, que escolheram para formar os primeiros humanos. Odin deu alma às árvores, Vili concedeu-lhes inteligência e força de vontade e Ve insuflou-lhes calor, sentidos e emoções. As árvores contorceram-se e transformaram-se, acabando por ganhar vida como o primeiro homem e a primeira mulher, Ask (“cinzas”) e Embla (“amieiro”). Os seus descendentes tornaram-se nos homens e mulheres que iriam povoar o mundo.


YGGDRASIL​


Yggdrasil é a Árvore do Mundo que sustenta todo o multiverso. Ela é composta por nove mundos, divididos em três grupos: as esferas celestes, as esferas terrestres e as esferas subterrâneas. Os Deuses residem nas esferas celestiais, sendo Asgard a mais elevada e venerada, governada por Odin a partir do seu trono elevado, Hlidskjalf, onde observa e dirige todas as coisas. Os outros dois mundos celestiais são Vanaheim, lar dos Deuses ctónicos, e Alfheim, o reino dos elfos, governado pelo Deus Frey.

Por baixo destes reinos celestes encontra-se a esfera média, que inclui Midgard, o mundo dos humanos; Svartalfheim, o lar dos anões; e Jotunheim, a terra dos gigantes, trolls e outros monstros.

O grupo mais baixo de mundos inclui Hel, o reino dos mortos, para onde a maioria dos mortais vai após a morte; Niflheim, um reino frio, escuro e gelado; e Muspelheim, um mundo ardente onde habitam os gigantes de fogo.

Todos os nove mundos estão interligados por Yggdrasil, a Árvore de Cinzas do Mundo, que tem três raízes principais:

  • A primeira raiz estende-se perto de Asgard, no Poço de Urd, onde as três Nornas, ou Destinos, tecem os fios das vidas humanas.
  • A segunda raiz mergulha profundamente em Niflheim, emergindo em Hvergelmir, onde o dragão Nidhogg a rói numa tentativa constante de destruir a Árvore do Mundo.
  • A terceira raiz estende-se até Jotunheim, terminando no Poço de Mimir, cujas águas concedem sabedoria.

A Yggdrasil mantém unidos todos estes reinos, ligando-os através da vasta extensão do cosmos.


DESCENDÊNCIA DIVINA​


Outra ocorrência comum entre as culturas indo-europeias é a linhagem divina. Por exemplo, os aristocráticos anglo-saxões e outros consideravam frequentemente Woden como o seu antepassado. As genealogias reais do inglês antigo listam Woden como antepassado dos reis de Lindsey, Mércia, Deira e Bernícia, que mais tarde se tornaram Northumbria, Wessex e East Anglia, aparecendo em sete das oito genealogias. De facto, mesmo após a cristianização da Inglaterra e noutros locais da Europa, Woden era, no mínimo, considerado um antepassado comum, embora como rei ou guerreiro em vez de Deus.



BIBLIOGRAFIA
Bellows, Henry Adams, trans. The Poetic Edda. 1936. Repr., n.p.: Internet Sacred Text Archive, n.d. sacred-texts.com
Davis, Craig R. “Cultural Assimilation in the Anglo-Saxon Royal Genealogies.” Anglo-Saxon England 21 (1992): 23–36. doi.org
Long, Steven S. Myths and Legends: ODIN THE VIKING ALLFATHER. Long Island City: Osprey Publishing, 2015.​
Sturluson, Snorri. The Prose Edda. Translated by Arthur Gilchrist Brodeur. 1916. Repr., n.p.: Internet Sacred Text Archive, n.d. sacred-texts.com

CRÉDITOS:
Goldenxchild (todo o artigo)​
Karnonnos [Guardião Templar] (clarificação)​
 
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NOMES DE ZEUS: ZAMOLXIS​


Zalmoxis é uma divindade misteriosa e enigmática, venerada principalmente pelos Getae e Dacians, duas antigas tribos trácias. Os relatos sobre Zalmoxis provêm, em grande parte, de fontes gregas e romanas, principalmente de Heródoto, já que a história da Dácia como um todo não nos deixou muitas obras escritas e as tradições orais foram afetadas pela cristianização de Roma, deixando pouco tempo para que os romanos pagãos fizessem um estudo mais aprofundado.

Há vestígios que evoluíram ao longo do tempo na área, pois os romanos, na verdade, conquistaram apenas cerca de 15% do que hoje é a Romênia, como parte de um plano inicial para expandir além do Danúbio e alcançar uma mina de ouro específica nos Cárpatos. Feito isso, os romanos seguiram sua prática habitual de integrar o território à cultura romana, o que envolveu estudar os nativos e ver o que era valioso.
Essa evolução foi interrompida pelas grandes migrações germânicas, que levaram a área ao caos. Mas uma narrativa pode ser construída se a pessoa estiver espiritualmente consciente dos padrões que ocorreram e puder isolar certos elementos - que é o objetivo deste artigo.


O ZAMOLXIS MORTAL​


Algumas fontes retratam Zalmoxis como uma figura divina com conexões com reinos subterrâneos e simbolismo ctônico, enquanto outras enfatizam seu papel como um profeta mortal que mais tarde alcançou a apoteose. Sua lenda sobreviveu de forma fragmentada e um tanto contraditória, deixando os estudiosos com a tarefa hercúlea de reunir seu verdadeiro significado.

A questão de saber se Zalmoxis era originalmente um humano que mais tarde foi deificado ou um Deus que encarnou temporariamente como um humano continua sendo um ponto de debate entre os principais estudiosos. Essa dualidade pode ser entendida por meio de duas lentes, que tentaremos conciliar.

Algumas fontes sugerem que Zalmoxis foi um sábio histórico, filósofo, polímata ou reformador religioso que introduziu ensinamentos espirituais aos Getae, sendo posteriormente mitificado como um Deus. Essa perspectiva se alinha com a alegação de Heródoto de que ele era um ex-discípulo de Pitágoras, divulgando a doutrina da imortalidade potencial da alma.

Se essa conexão for precisa, ela sugere um intercâmbio cultural significativo entre as tradições filosóficas gregas e as práticas espirituais dos povos trácio e gético.

No entanto, o próprio Heródoto desacredita isso como boato, e a história de Zalmoxis ser especificamente um escravo liberto de Pitágoras não se alinha com a linha do tempo histórica que temos da divindade.

“Alguns deles dizem que esse Zalmoxis já foi um homem e viveu entre eles, enquanto outros dizem que ele era uma divindade de longa data.”

Isso nos leva ao nosso primeiro obstáculo, que abordarei aqui mesmo, na seção sobre a teoria potencial de Zalmoxis como um humano deificado e nada mais. O obstáculo é que os cultos dácios agiam de forma muito semelhante à maioria das religiões antigas, com um lado exotérico e esotérico claramente definido. Os sacerdotes dacianos, assim como os celtas, falavam em códigos verbais.

As pessoas não sabiam muito além do nível superficial, pois o conhecimento superior era deixado para os iniciados. Portanto, depois de abordar também a perspectiva exotérica de Zalmoxis como uma “divindade de longa data”, mergulharemos no paralelo entre o exotérico e o esotérico no que diz respeito à sua história, por meio das lentes do que o Templo de Zeus sabe sobre divindade, religiões antigas e verdades esotéricas.

A perspectiva oposta seria a de que Zalmoxis não era uma figura histórica, mas sim uma divindade tradicional, profundamente enraizada nas crenças religiosas dos Getae e dos Dacianos. Essa interpretação se alinha com a ideia de que Zalmoxis era um deus antigo do submundo, da imortalidade e do renascimento cíclico - semelhante a outras divindades indo-europeias associadas à morte e à ressurreição, ou aos cultos de Dionísio. Sua veneração parece ser anterior a qualquer influência grega, sugerindo que sua estrutura mitológica era parte integrante da espiritualidade trácia e uma verdadeira revelação divina dos deuses, em vez de uma reinterpretação filosófica posterior feita pelos gregos.

Além disso, a história de Zalmoxis se retirando para uma câmara subterrânea por três anos antes de ressurgir pode ser vista como um mito simbólico em vez de um evento histórico. Esse motivo de descida e retorno é comum na mitologia, muitas vezes representando o ciclo de morte e renascimento, semelhante aos mitos de Osíris, Dionísio ou Perséfone. Nessa visão, Zalmoxis funciona como uma divindade ctônica, governando a vida após a morte e prometendo a seus seguidores uma existência eterna além da morte física.

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Em vez de ser um sábio deificado, Zalmoxis pode ter sido sempre adorado como um deus, com interpretações gregas posteriores tentando racionalizar sua existência em termos de tradições filosóficas familiares, que se inclinavam mais fortemente para entendimentos seculares à medida que as percepções místicas se tornavam cada vez mais isoladas dentro das escolas de mistérios.

Seu culto provavelmente tinha elementos xamânicos e esotéricos, com sacerdotes ou líderes espirituais atuando como mediadores entre os mundos divino e mortal. A persistência de seu culto e sua profunda conexão com a identidade cultural dos Getae e dos Dacianos apóiam ainda mais o argumento de que Zalmoxis era uma divindade indígena cujos mitos evoluíram independentemente da influência grega.

Sabe-se que Zalmoxis era abertamente equiparado ao deus frígio chamado Sabazios, que era associado ao trovão, à guerra e à chuva. Os romanos o equiparavam a Dies Pater, ou Júpiter. Sabazios também era conhecido por ser uma encarnação mortal de Zeus Zagreus.

O esotérico e mitológico Zalmoxis é uma figura arquetípica que incorpora temas de transcendência, renascimento e sabedoria divina. Seu simbolismo central está ligado a uma natureza tripartida - material, ctônica e celestial - semelhante à de Zeus, como um ser que tinha assuntos no submundo, lidava com preocupações materiais humanas e também governava de um reino superior de existência.

Esotericamente, a reconciliação entre essas perspectivas está no reconhecimento de que o divino e o mortal não são mutuamente exclusivos, mesmo dentro da perspectiva mitológica dos “arquétipos”. Muitas tradições antigas sustentavam que os deuses podiam se manifestar como humanos e que os humanos podiam ascender à divindade por meio da sabedoria, do sacrifício ou da iniciação. Dessa forma, Zalmoxis serve como uma ponte entre os reinos humano e divino, guiando os mortais em direção à transcendência - assim como a maioria dos deuses.


GEBELEIZIS​


Outro deus é Gebeleizis, que era considerado o deus do relâmpago e do horizonte no entendimento daciano e trácio.

Normalmente, ele era representado como um belo homem que manifestava raios e trovões em suas mãos. Os tronos eram associados ao seu culto e ele também era mostrado como um cavaleiro, com um arco na mão esquerda, acompanhado por uma serpente que descia até a cabeça do cavalo. Assim como Zeus, ele era frequentemente representado com uma águia com chifres segurando um peixe em seu bico e um coelho em suas garras.

Em outras ocasiões, ele aparece como um cavaleiro guerreiro acompanhado por um cão, carregando uma lança que ele atira em um javali enquanto cavalga, ou como um cavaleiro pacífico carregando uma tocha ou um chifre da abundância na mão.

Ele também é representado como tricéfalo (com três cabeças), ou como um Deus abençoador, com os três primeiros dedos da mão direita levantados ou estendidos e os outros pressionados juntos em direção à ponte da palma. Isso pode mostrar sua conexão com Sabazios, Belenos ou mesmo El-Gabal - outro aspecto de Zeus dos árabes.



BIBLIOGRAFIA​

Histórias, Heródoto

Zalmoxis de la Herodot la Mircea Eliade. Istorii despre un zeu al pretextului, Dan Dana

De la Zalmoxis la Genghis-Han. Studii comparative despre religiile și folclorul Daciei și Europei Orientale (Estudos comparativos sobre as religiões e o folclore da Dácia e da Europa Oriental), Mircea Eliade

Zalmoxis: The vanishing god: Comparative studies in the religious and folklore of Dacia and eastern Europe (O deus desaparecido: Estudos comparativos sobre as religiões e o folclore da Dácia e do Leste Europeu), Mircea Eliade

Zalmoxis: Obscure Pagan, Lucian Blaga

CRÉDITOS:​

OttoHart (artigo sobre Zalmoxis)

Karnonnos [TG] (seção Gebeleizis)
 

NOMES DE ZEUS: NGAI​


Ngai ou Enkai é a representação de Zeus em grande parte do panteão dos Kikuyu e de alguns outros grupos da atual África Oriental, incluindo os pastores chamados Maasai. Ele é considerado a personificação do Sol, da Lua, do relâmpago e do trovão, mas também é sinônimo de vacas e do touro no simbolismo.


SIMBOLISMO DE NGAI​


A palavra “Ngai” representa a palavra céu no idioma maa. Em relação ao Enkai, que é a língua Maa do povo Maasai, isso significa “Ser Supremo dos Céus”. Na cosmologia maasai, a terra e os céus eram considerados um só antes de serem divididos em dois. Os povos Kikuyu eram separados por casta e por seus meios de consumo: como guerreiros, os Maasai tinham o direito de pastorear e comer gado, enquanto os outros grupos residentes na região tinham de subsistir da agricultura de grãos e da caça.

Qualquer atividade que não fosse pastoril era considerada um insulto a Ngai e profundamente degradante, pois o solo era sagrado por produzir grama que alimentava o gado que pertencia a Deus. Nenhum maasai estava disposto a cultivar o solo, nem mesmo a enterrar os mortos nele.


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Devido aos privilégios pastorais que o Deus lhes concedeu, os Maasai consideram Ngai particularmente importante para o gado e os touros. Esses animais são mantidos com reverência, pois eles sentem que, simbolicamente, Ele se expressa por meio deles. A maioria dos rituais dos Maasai é acompanhada por uma farta ingestão de carne e leite devido a esse simbolismo.

Como Ngai é um deus do céu, o trovão tornou-se a interpretação dos movimentos de Deus. O relâmpago é a arma de Ngai; Ele o usa para abrir caminho ao se deslocar de um lugar sagrado para outro. Um de seus títulos, “Mwene-Nyanga”, reflete essa tendência, pois significa Brilhante.

Como muitas divindades bantu, ele é andrógino e geralmente é representado de forma feminina.

Acredita-se que Ele reside em figueiras, onde sacrifícios são feitos a Ele em momentos diferentes para propósitos diferentes, de frente para o Monte Quênia.


AS FUNÇÕES DO NGAI​


Há aspectos antropomórficos. Os Kikuyu dizem que Ele vive no céu ou nas nuvens. Também se diz que Ele vem à Terra de tempos em tempos para inspecioná-la, conceder bênçãos e aplicar punições.


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Sempre que Ngai vem ao povo queniano, ele descansa no Monte Quênia e em outras quatro montanhas sagradas, semelhante à ideia chinesa de cinco montanhas sagradas. Para o povo Kikuyu, Ngai criou Sua morada no céu e na terra no Kĩrĩ-Nyaga (Monte Quênia), a Montanha do Brilho - a segunda montanha mais alta da África - e para os Maasai, Sua morada é a “Montanha de Deus”, Ol Doinyo Lengai, localizada no extremo norte da Tanzânia.

Ao nascer, Ngai dá a cada homem um espírito guardião para afastar o perigo e levá-lo embora no momento da morte. Os maus são levados para um deserto, enquanto os bons, como era de se esperar, vão para uma terra de ricos pastos e muito gado. A esposa de Enkai é Olapa, a Lua.

Enkai tem uma natureza dupla: Engai Narok (Deus Negro) representa a benevolência, e Engai Na-nyokie (Deus Vermelho) significa ira, enfatizando seu papel como Criador que mantém a harmonia natural. Assim, ele é separado em um aspecto vermelho e preto. O aspecto negro de Ngai é considerado benevolente, bondoso e útil, enquanto o aspecto vermelho tende a ser associado a fúrias e tempestades.


LAIBON​


Os Laiboni são os sacerdotes dos Maasai. Eles praticam a adivinhação por meio do uso de pedras no chifre de uma vaca, normalmente considerada uma forma central de comunicação com a divindade, como na maioria dos grupos bantu. Como muitos sacerdócios em todo o planeta, a posição é herdada.

Os sacerdotes de Laibon interpretam mensagens e também funcionam como curandeiros, a ponto de a maioria dos prognósticos médicos ser combinada com seus conselhos até a era da cristianização e da islamização no Quênia.

Certas crenças dos Maasai refletem a ideia de um dilúvio antediluviano e de um profeta que lhes deu vários mandamentos. Não se sabe se isso se originou da influência direta do inimigo, da influência islâmica ou de algum tipo de correspondência com a Babilônia e o Egito, ambos conhecidos por interagirem fortemente com a costa leste africana. Certos aspectos dos rituais Maasai apontam os estudiosos para essa última hipótese:

Jornal no Quênia, C.C.L.

O homem morto é deitado sobre o lado direito, com a cabeça apoiada na mão, como se estivesse dormindo. A mulher é deitada da mesma maneira, mas sobre o lado esquerdo. O rosto é virado para o leste ou para o oeste. Essa forma contratada de sepultamento era usada em Canaã e também na Babilônia, assim como no Egito.


BIBLIOGRAFIA​

Jornal no Quênia, C.C.L

Ngai, Encyclopedia of African Religion (Enciclopédia da Religião Africana)

Ngai and the Message of Life (Ngai e a Mensagem da Vida), Oxford Reference,

Ngai & Origins of the Agĩkũyũ of Kenya, The Aegis Institute

Engai, Google Arts and Culture

Maasai - Religião e Crenças, bluegecko, Jens Finke

CRÉDITOS:​

Karnonnos [TG]

MWENE NYAGA (referências textuais a montanhas, inúmeras sugestões, mitologia)
 

NOMES DE ZEUS: JÚPITER​


Júpiter era o Deus principal do panteão romano. À medida que o estado romano se espalhava por muitos cantos da Terra através das suas formas republicanas e imperiais, esta representação do Deus tornou-se muito importante em muitos aspectos – particularmente tornando-se conhecida como a representação de Zeus que abrangia todas as áreas das terras do norte que os romanos conquistaram.

O imaginário do estado romano em todas as suas facetas – imperial, legal e religiosa – estava ligado a Júpiter, um preceito que remonta ao lendário fundador de Roma, o rei Rómulo. As convenções relacionadas com Júpiter estavam fortemente ligadas ao equivalente grego de Zeus, ao ponto de os dois serem figuras quase idênticas.


O PAI CELESTE​


Desde cedo, o culto de Júpiter esteve ligado à forma latina distintiva de Dieuspater. Há também vestígios de influências do etrusco Tinia. No entanto, acima de tudo, as influências helenísticas chegaram a Roma desde períodos antigos para sintetizar todas as facetas de Júpiter como um corolário muito forte do seu próprio Grande Deus – um paralelo do que já tinha ocorrido com vários grupos em Itália que seguiram as influências helénicas.

Este facto é afirmado enfaticamente pelos autores romanos, mesmo pelos ultraconservadores hostis à cultura grega. Na maioria dos casos, não há uma separação significativa entre Júpiter e Zeus. As principais diferenças residem na centralidade de Júpiter no Estado romano, em comparação com a maioria dos Estados gregos, e em certas tradições culturais.


GOVERNO DE ROMA​


Roma esteve ligada ao culto de Júpiter desde o início. Tal como Amon no Egipto, todos os governos romanos faziam juramentos a este Deus. Os presságios de Júpiter eram extremamente importantes para decidir quem deveria governar e legislar em Roma até à época imperial.

Dionísio de Halicarnasso revela que o rei Rómulo decidiu a sua forma de governo depois de ter analisado os sistemas políticos e religiosos dos gregos, etruscos e outros. Depois de ter analisado os sistemas políticos e religiosos dos gregos, dos etruscos e de outros povos, interrogou o povo e perguntou-lhe se devia governar, ao que este concordou.

Por fim, procurou um sinal divino. A escolha do governo foi aceite por Zeus:

História de Roma, Dionísio de Halicarnasso

E quando o povo aprovou, ele marcou um dia em que se propôs a consultar os auspícios relativos à soberania; e quando chegou a hora, levantou-se ao romper do dia e saiu da sua tenda.

Depois, colocando-se ao ar livre num espaço livre e oferecendo primeiro o sacrifício habitual, rezou ao rei Júpiter e aos outros Deuses que tinha escolhido para patronos da colónia, para que, se fosse do seu agrado que ele fosse rei da cidade, aparecessem no céu alguns sinais favoráveis.

Depois desta oração, um relâmpago atravessou o céu da esquerda para a direita. Atualmente, os romanos consideram o relâmpago que passa da esquerda para a direita como um presságio favorável, tendo sido instruídos desta forma pelos tirrenos ou pelos seus próprios antepassados.

...Quando Rómulo, portanto, na ocasião mencionada, também recebeu a sanção do Céu, convocou o povo em assembleia; e tendo-lhes dado conta destes presságios, foi escolhido rei por eles e estabeleceu como costume, a ser observado por todos os seus sucessores, que nenhum deles deveria aceitar o cargo de rei ou qualquer outra magistratura até que o Céu também tivesse dado a sua sanção.

E esse costume relativo aos auspícios continuou a ser observado pelos romanos, não apenas enquanto a cidade era governada por reis, mas também, após a derrubada da monarquia, nas eleições de seus cônsules, preceptores e outros magistrados legais...

No fundo, todas as nomeações para a realeza, o sacerdócio e a magistratura dependiam dos augúrios de Júpiter e dos sinais por ele enviados nos céus através de relâmpagos, pássaros ou outros símbolos. Se ele desaprovasse, não havia forma de um indivíduo ser nomeado, para além dos casos de indivíduos que tomavam o poder pela força.

Rómulo construiu também o primeiro templo a Júpiter, chamado Templo de Júpiter Feretrius, no Monte Capitolino.

Mesmo no período republicano, após o derrube do maléfico rei Tarquinius Superbus, os dois cônsules eleitos em Roma todos os anos exigiam a aprovação dos Deuses. Os senadores também eram obrigados a aprovar leis e decretos sob juramentos significativos a ele. Na era republicana, a orientação de Júpiter era colectiva e destinada a proteger o coletivo.


JUPITER OPTIMUS MAXIMUS​


O culto de Jupiter Optimus Maximus (“Melhor e Maior”) foi criado por outro governante romano, o rei Priscus Tarquinius. O Templo situava-se no Monte Capitolino.

O Templo era a entidade religiosa mais importante do estado romano original. No topo do telhado frontal, Zeus era representado a conduzir um carro dourado de quatro cavalos, representando os elementos e os quatro cantos do universo. De cada lado do edifício existiam câmaras para Juno e Minerva, os dois componentes da tríade principal de Roma.

Era utilizado para múltiplos fins, muitas vezes para assinar tratados e outros elementos sob o olhar de Zeus. Assim, pode dizer-se que a expansão do Estado romano ocorreu sob a sua supervisão como guardião divino do Estado. Mesmo no tempo do imperador Marco Aurélio, era utilizada copiosamente para esses fins.

Antes e depois das campanhas militares, os generais consagravam tudo a Júpiter. A imagem da Áquila e da Águia de Júpiter, ligada também ao adjunto de Zeus chamado Forcas, representa o triunfo da vitória e a conclusão dos esforços militares. Todas as vitórias militares romanas significativas eram celebradas com as famosas procissões do Triunfo e terminavam sempre no Templo de Jupiter Optimus Maximus, no Monte Capitolino.

Para além disso, o rei Numa Pompilius criou uma classe de funcionários sagrados denominada feciais, cuja função era garantir que Roma não se envolvesse em guerras com aliados. As suas funções incluíam também o início do conflito. Se outro Estado tivesse prejudicado Roma, faziam declarações de guerra prospectivas várias vezes: uma vez nas fronteiras estrangeiras, uma vez depois de entrarem no país e encontrarem um habitante, uma vez aos guardiães dessa entidade e depois diretamente aos governantes e magistrados. De cada vez, estes feciais faziam juramentos a Júpiter, lamentando a potencial destruição de ambos os lados.

Só depois de um período de trinta dias é que os feciais se reuniam e proclamavam ao Senado que a guerra era justa. Esta prática demonstra a seriedade com que os Deuses encorajavam Roma a encarar os assuntos marciais. Está profundamente ligada aos conceitos de lei, xénia e guerra justa, todos assuntos de Zeus que se tornaram parte integrante do estado romano.

Um elemento deste facto foi expresso em Jupiter Lapis. Ele era a testemunha divina de todos os juramentos e tratados importantes. Em tratados solenes, os romanos invocavam Júpiter no seu aspeto de Jupiter Lapis (Júpiter da Pedra Sagrada) para punir os infractores de juramentos – mesmo os romanos como um todo. Lívio descreve a cerimónia fecial em que um sacerdote golpeava um porco com uma pedra de sílex enquanto implorava a Júpiter que ferisse Roma se esta violasse o tratado:

“Tu, Diespiter (Júpiter), golpeia o povo romano como eu golpeio este porco aqui hoje, e golpeia-o ainda mais, pois és maior e mais forte...”


FLAMEN DIALIS​


O Sumo Sacerdote de Júpiter em Roma, o Flamen Dialis (“Chama de Zeus Encarnado”), devia ser um patrício aristocrático, casado, sem mácula corporal nem defeito moral, escolhido pelo Pontifício Maximus, e depois pelos Deuses. Esta prática foi inaugurada por Numa. Como ele representava o prestador de juramentos, estava proibido de os fazer pessoalmente. Tal como o diadema de Amon, era obrigado a usar sempre em público um barrete cónico chamado Apex.

O Sacerdote de Júpiter residia na cadeira real de curule e tinha até os tradicionais guarda-costas dos governantes, chamados lictores. Embora lhe fosse permitido um lugar permanente no Senado para ouvir, a intromissão em assuntos políticos e militares era expressamente proibida. Essencialmente, as suas responsabilidades eram infinitas, mas incluíam estar sempre em Roma e ser a ponte entre o Divino e a humanidade.

A sua esposa sagrada, a Flamínica, também tinha responsabilidades complexas, muitas das quais relacionadas com a interpretação de presságios de raios de Júpiter. Ela era considerada a imagem viva de Juno (Hera). A morte da Flamínica significava que o Flamen já não podia exercer o cargo – mostrando que este cargo estava ligado a uma união muito sagrada.


A ÁRVORE DE CARVALHO​


Um aspeto de Júpiter era a reverência geral dada ao carvalho, partilhada com o simbolismo de Zeus e Thor. Os autores clássicos explicaram que essa árvore se encontrava no Monte Capitolino, onde Roma foi fundada, mas havia outros elementos místicos envolvidos na associação do Pai Celestial com este símbolo em particular.

Acreditava-se que o carvalho atraía os relâmpagos, servindo como um canal ativo para os processos de Júpiter. Sacerdotes importantes, como o Flamen Dialis, transportavam frequentemente ramos e coroas de carvalho – um símbolo de como Zeus dá bioeletricidade a coisas “inertes”.

A fecundidade do carvalho na produção de bolotas criou um paralelo para o facto de a satisfação do Deus conduzir à prosperidade do estado romano. Representava também a longevidade, pois os romanos sabiam bem que o tempo de vida destas árvores podia ser antigo.

Por último, tal como o famoso carvalho de Dodona, na Grécia, relacionado com Zeus Naios, os romanos consideravam que estas árvores podiam ser utilizadas para fins divinatórios.

Fasti, Ovídio

Si licet antiquos meminisse, dicata Iovi quercus.
Se é permitido recordar os antigos, [então saibam que] o carvalho é dedicado a Júpiter.


JÚPITER NO SIMBOLISMO IMPERIAL​


Depois de se tornar Imperador de Roma, Augusto colocou Júpiter no centro da vida romana. O seu pai adotivo, César, introduziu uma mudança significativa, uma vez que utilizou a autoridade religiosa para fins políticos, apresentando-se como o guardião da ordem sagrada de Roma. Augusto deu um passo em frente numa direção devota.
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A mudança fundamental foi que a República tinha tratado Júpiter como o patrocinador divino da governança colectiva de Roma, mas com Augusto, Júpiter foi reimaginado como o patrocinador divino do Princeps de Roma, para o bem e para o mal. Júpiter tornou-se a autoridade divina suprema que sustentava a legitimidade do Principado.

Para além disso, o reinado de Augusto assistiu a um renascimento consciente dos símbolos tradicionais, em consonância com o seu renascimento da religião romana: A imagem de Júpiter nos seus arcos triunfais e nos estandartes legionários como uma águia significava que o Júpiter Joviano favorecia agora a Paz de Augusto. A iconografia de Júpiter evoluiu de um guardião estático e guerreiro da República para uma figura mais dinâmica na propaganda augustana, integrando tanto quanto possível aspectos do Zeus helénico – visualmente sempre o Rei dos Deuses, mas agora deliberadamente mostrado como um apoiante da Roma de mármore e ouro restaurada por Augusto.

Nos juramentos políticos, assistimos a uma mudança. Os funcionários republicanos juravam por Júpiter e pelas leis; os súditos e funcionários sob Augusto começaram a fazer juramentos de fidelidade que invocavam Júpiter e o Génio do Imperador em conjunto, ligando o papel de garante de Júpiter à pessoa do Imperador. A linguagem simbólica do poder colocava Júpiter como a contraparte celestial do governante terreno.

A ênfase aqui também era importante: se o Imperador falhasse no seu papel, os Deuses, através dos seus órgãos terrenos, julgá-lo-iam inapto para a apoteose. Em parte, Augusto fez isto para dar ao Senado algum poder especial e para evitar a tirania.



BIBLIOGRAFIA
Roman History, Cassius Dio​
History of Rome, Livy​
Suetonius, Life of Julius Caesar​
Ovid, Metamorphoses​
Suetonius, Life of Augustus​
History of Rome, Dionysius of Halicarnassus​
Triumph, x-legio.com​
The Religion of Ancient Rome, Cyril Bailey​
Denarius – Augustus IOV TON; Jupiter, Numista​

CRÉDITOS:
Karnonnos [Guardião Templar]​
 
Last edited:

NOMES DE ZEUS: PERUN​


Nascido da forja celestial de Svarog, Perun é o principal Deus dos eslavos. Era considerado um Deus trovejante e um Deus que supervisionava todos os juramentos em batalha, referenciado nas crónicas da Rússia como o Deus mais importante do panteão. Na Rus de Kiev e em muitas outras entidades eslavas antigas, era-lhe atribuído um lugar de destaque.
Procópio de Cesareia, um historiador da Roma cristã que escreve sobre os ostrogodos e os eslavos, é o que mais faz referência a Perun:

De Bello Gothico, Procópio de Cesareia
... reconhecem que um só Deus, criador do raio, é o único senhor de tudo: a ele sacrificam um boi e todos os animais de sacrifício.

Não conhecem o destino e não admitem que ele tenha qualquer poder sobre as pessoas, e quando estão prestes a morrer, seja por doença ou em situação perigosa na guerra, prometem que, se forem salvos, oferecerão imediatamente um sacrifício ao Deus pelas suas almas; tendo escapado à morte, sacrificam o que prometeram e pensam que a sua salvação foi comprada por esse sacrifício.

Adoram rios, ninfas e todo o tipo de divindades; oferecem sacrifícios a todos eles e, com a ajuda desses sacrifícios, fazem também adivinhações.

Um dos maiores problemas com a análise do Deus chamado Perun é que muitas fontes modernas sobre ele são falsificações neo-pagãs dos últimos dois séculos, muitas vezes misturando simbolismo de outros Deuses do trovão, como Indra ou Zeus. Devido à cristianização profunda, a maioria das fontes sobre Perun provém de perspectivas puramente cristãs sobre “ídolos demoníacos” e são reunidas a partir de folclore fragmentado.

Embora o Templo de Zeus não desaprove movimentos neo-pagãos como o Rodnovery, que expressam um desejo de se aproximar do Deus dos Deuses, mesmo cooptando simbolismos que provavelmente pertenciam a esse Deus, devemos nos ater ao que as fontes clássicas e as evidências sugerem. Assim, qualquer página sobre Perun que se encontre na Internet deve ser abordada com uma consciencialização rígida desta questão.


PAPEL COSMOLÓGICO​


Em “The Tale of Bygone Years”, uma crónica da história pós-cristã da Rus, Perun é referido como um fazedor de juramentos. Qualquer pessoa que desafiasse o seu juramento de não fazer guerra sofria castigos terríveis. À semelhança do papel de Júpiter, este facto pode também indicar a sua ligação ao conceito de xenia entre os eslavos.


DEUS CELESTIAL DOS GOVERNANTES​


Acreditava-se que Perun tinha o poder de fertilizar os campos através de relâmpagos. Devido a este poder aterrador, serviu como uma das imagens patronais da dinastia Rurik. Muitos anos após a cristianização, algumas fontes lamentam amargamente que os camponeses regressassem ao culto de Perun.

De acordo com o livro The Tale of Bygone Years, os Rus juraram por Perun nos tratados com os Gregos. Estes afirmavam que aqueles que quebrassem os juramentos seriam amaldiçoados e teriam de pagar com a morte pelas suas próprias armas e com escravidão na outra vida. Mais tarde, a crónica relata que o príncipe Vladimir Svyatoslavich estabeleceu um templo de Perun em Novgorod e Kiev, colocando Perun à frente dos outros Deuses.

A Primeira Crónica de Novgorod conta como o arcebispo Joachim de Korsun lançou o ídolo de Perun ao rio.

Outro texto revelador, muito semelhante aos textos galeses, diz respeito a uma tradução primária do Ciclo de Alexander do século IX ou X, em que Alexander é chamado pelo tradutor como filho de Perun (Zeus):

Alexandria (tradução da língua Rus)
Alegra-te, mestre dos Rakhmans, filho de Deus, Porun, o Grande, o czar Alexander, que é o governante de todos os povos, chama-te.

Um fragmento da obra The Word of a Certain Lover of Christ and Zealot for the True Faith, da Coleção Paievsky, lamenta a persistência da crença nos “demónios”, referindo também a ligação da adoração do fogo a estas crenças, à semelhança dos celtas e dos zoroastrianos:

The Word of a Certain Lover of Christ and Zealot For the True Faith
Assim como Elias, o tesbita, depois de ter matado os sacerdotes e falsos profetas dos ídolos, que chegavam a trezentos <...>, assim ele (o amante de Cristo) não pode tolerar os cristãos que vivem com uma fé dupla, que acreditam em Perun, e em Khors, e em Sim, e em Regla, e em Mokosh, e em Vil, de quem há trinta e nove irmãs, como dizem os ignorantes, e as consideram Deusas, e por isso lhes trazem sacrifícios, matam galinhas para elas; e rezam ao fogo, chamando-o de Svarozhic... Não é correto que os cristãos joguem jogos demoníacos com sacrifícios de ídolos em festas e casamentos, quando rezam ao fogo debaixo do celeiro, Mokosh, Sim, Regl, Perun, Rod, Rozhanitsy, e todos os semelhantes.

Outra obra, Walking of the Most Holy Theotokos Through Torment, baseada numa obra grega mais limitada, faz referência a Perun:

Walking of the Most Holy Theotokos Through Torment
E o Abençoado perguntou ao Arcanjo: Quem são estes? E o Arcanjo respondeu: Estes são aqueles que não acreditaram no Pai e no Filho e no Espírito Santo, esqueceram-se de Deus, e acreditaram naquilo que Deus criou para nós para os nossos trabalhos, chamando-lhes deuses: o sol e a lua, a terra e a água, e as feras e os répteis. Todos esses homens de pedra — Trajano, Khors, Veles e Perun — transformados em Deuses...

Um certo códice do século XV contém um formato de pergunta e resposta sobre “Quantos céus existem?”. A resposta inclui: “... há muitos Peruns”. Isto também se reflecte na referência equivalente em lituano a Perkūnas.


MONTANHAS DE PERUN​


As montanhas de Perun foram localizadas no Montenegro, na Croácia, na Rússia e em muitas outras regiões. Este facto sugere a presença de um culto de montanha.


SIMBOLISMO DE PERUN​


Perun era descrito como um homem de cabeça grisalha, com barba dourada.

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Estes símbolos de “marca do trovão” são frequentemente associados a Perun em todas as suas facetas. Assemelhando-se a rosetas com pétalas ou suásticas, eram gravados em casas, armas e jóias para proteção contra o mal e para invocar o poder de Perun contra o trovão. Em muitas regiões, os símbolos eram adicionados a vigas para evitar a queda de raios.

Os arqueólogos descobriram santuários associados a Perun, com o simbolismo do número nove na sua disposição e noutros aspectos. Supõe-se que o Deus estava ligado a este número, que representa a conclusão.

O nome “Perun” está intimamente relacionado com o Deus báltico Perkūnas e com a divindade proto-indo-europeia reconstruída *Perkʷunos, sugerindo uma origem partilhada entre estas culturas. A raiz *perkwu inicialmente denotava “carvalho”, uma árvore sagrada para os Deuses do trovão, mas nas línguas eslavas, evoluiu para significar “golpear” ou “matar”, refletindo a associação de Perun com raios.

Perun era venerado pelos guerreiros nórdicos varangianos contratados por Oleg e Igor durante as suas campanhas contra Bizâncio. No tratado de 971 d.C., os varangianos fizeram os seus juramentos não só a Perun, mas também à divindade eslava Veles. Perun era, portanto, em grande parte intercambiável com Thor.

Um elemento importante do culto a Perun foi absorvido pelo profeta hebreu Elias (Ilya) na Rússia, que era considerado o responsável pelas questões do relâmpago.


ÁRVORE DE CARVALHO​


Perun tem uma forte associação com o carvalho, uma ligação evidente nas tradições eslavas. Numa carta forjada, supostamente de 1302, o carvalho de Perun é mencionado como um marco de fronteira para as propriedades doadas pelo príncipe Lev Danilovich ao bispo de Przemysl.

Em todas as terras eslavas, o carvalho era a árvore mais venerada, sendo-lhe atribuído um significado cúltico. No folclore eslavo meridional, os carvalhais eram locais de culto, reforçando a ideia de que a ligação entre Perun e o carvalho não era casual.

Eslavos ocidentais também eram conhecidos por venerar os carvalhos sagrados. Helmold registou que tinham carvalhais vedados dedicados a um deus da justiça, Prova — um nome que alguns acreditam ser uma forma distorcida de Perun. A Crónica Eslava descreve como o bispo Gerald, ao chegar a Oldenburg, ordenou a destruição dos bosques sagrados e proibiu os eslavos de jurarem por árvores, fontes e pedras, exigindo, em vez disso, que levassem os criminosos perante um padre.

A ligação entre Perun e os juramentos está bem documentada, solidificando ainda mais a sua associação com o carvalho na tradição eslava.


BIBLIOGRAFIA
De Bello Gothico, Procopius of Caesarea​
Tale of Bygone Years​
Walking of the Most Holy Theotokos through Torment​
Paganism of the Eastern Slavs on the Eve of the Baptism of Rus: Religious and Mythological Interaction with the Iranian World. Pagan Reform of Prince Vladimir, M.A. Vasilev​
Paganism and Ancient Russia, E.V. Anichkov​

CRÉDITOS:
Karnonnos [Guardião Templar]​
Edward Lonsa (clarificação sobre Elias)​
 
NOMES DE ZEUS: SHANGDI



Di é a personificação do Deus dos Deuses e de todos os imperadores do panteão chinês - a divindade mais elevada e o ancestral imperial central das dinastias mais antigas da China. Ele é equiparado ao destino de um país, aos céus, à colheita e a todas as questões meteorológicas.

A evolução desse ser supremo é marcada por representações distintas do Deus Supremo: Shangdi entre as dinastias antigas, a figura taoista Yuanshi Tianzun dos Três Puros, Taiyi durante o período dos Reinos Combatentes, a figura ancestral do Imperador Amarelo (que tem significado moderno) e, finalmente, o Imperador de Jade, cujo culto se tornou o culto oficial principal dos deuses por volta das dinastias Song e Tang, continuando até o período republicano. Todas essas entidades eram adoradas pelos grandes governantes da China por meio de rituais elaborados.

Um dos maiores problemas com o cenário religioso na China é que se trata de uma civilização extremamente antiga e gigantesca que passou por muitas evoluções no simbolismo religioso e nos valores cívicos. Diferentes regiões e grandes centros urbanos da China geralmente têm tradições distintas. Muitas vezes, ideologias como o confucionismo vieram à tona - ideologias que não são incompatíveis com as crenças zevicas, mas que ocuparam um lugar central na vida chinesa. Outros elementos que passaram a prevalecer no Reino do Meio, como o budismo, de tempos em tempos tanto atrapalharam quanto ajudaram a compreensão dos deuses.

Em muitos casos, a linhagem do taoísmo tende a representar mais de perto muitos dos atributos do Deus dos Deuses na cultura chinesa.


ANCESTRAL DOS IMPERADORES
A dinastia Shang declarou que Shangdi era um Deus imanente e remoto do cosmos. Acreditava-se que suas expressões e emanações se manifestavam diretamente por meio da própria dinastia - ele era seu grande ancestral. Apesar da associação de Shangdi com a dinastia Shang, as evidências mostraram que ele era adorado profundamente na história chinesa, desde a dinastia Xia ou até mesmo antes.

Assim como Zeus e Amon, afirma-se que o apoio de Shangdi depende do semblante moral e espiritual de um governante. Seu governo pode fazer ou desfazer qualquer reino na Terra. O antigo e lendário rei Wu elabora isso em um discurso para suas tropas, no qual ele as obriga a serem seres morais:

O discurso em Mu (牧誓)

上帝不常,作善降之百祥,作不善降之百殃。

O Deus Supremo não é constante (em Sua consideração); a quem faz o bem, Ele impõe todas as bênçãos; a quem faz o mal, impõe todas as misérias.

Os taoístas afirmam que a divindade chamada Yuanzhi Tianzun (Senhor Primordial do Céu) era consultada por meio das omoplatas dos bois desde a dinastia Xia ou antes. A divindade obrigava o imperador a realizar ritos no Grande Templo do Céu todos os anos, com níveis extremos de cerimônia. O Livro dos Ritos afirmava que isso era feito sempre no dia mais longo do ano e continuou até a dinastia Shang.

O fato de que no edifício central do Templo do Céu, em uma ala chamada de Abóbada Imperial do Céu, uma “tábua de espírito” inscrita com o nome de Yuanshi Tianzun está armazenada no trono de Huangtian Shangdi, corrobora essa correspondência entre os dois. Durante o sacrifício anual, o imperador levava essas tábuas para o anexo norte do Templo do Céu, um local chamado Salão de Oração para Boas Colheitas, colocando-as nesse trono.

A literatura taoista também faz referência ao conceito de um dentro de três:

Tao Te Ching

O Tao produziu o Um;
Um produziu Dois;
Dois produziram Três;
Três produziram Todas as coisas.





ANTIGO SIMBOLISMO DE SHANGDI
Muitos dos primeiros logogramas de Shangdi fornecem certas pistas divinas.

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Por exemplo, isso demonstra um diagrama dos chakras superiores e da alma. A Coroa é representada entre o Terceiro Olho e a Extensão Dorsal, convergindo para o Sexto. Os três canais da alma são representados em três direções.

Originalmente, sabe-se que a adoração a esse Deus assumiu uma forma humanoide antes de se tornar incorpórea na cultura chinesa, sendo eventualmente considerada como Tian - a ordem e o mandato celestiais, bem como o reino daqueles que passaram. A mudança para Tian na cultura chinesa parece ser paralela à crescente ênfase no monoteísmo em muitas partes do planeta.





O JUIZ DAS ESTRELAS
O Cânone de Yao deixa claro que Shangdi ordenou que a corte fizesse cálculos astrológicos e lhes deu conhecimento das estrelas. As estações do ano eram calculadas graças à Sua intervenção, um elo importante com Seu patrocínio de toda a agricultura:

Cânone de Yao

克明俊德,以親九族。九族既睦,平章百姓。百姓昭明,協和萬邦。黎民於變時雍。乃命羲和,欽若昊天,曆象日月星辰,敬授人時。

Ele foi capaz de tornar ilustre sua elevada virtude, e as nove classes de sua família se ajustaram harmoniosamente. Os vários chefes militares foram regulados e os plebeus foram transformados. O resultado disso foi a concórdia universal. Ele ordenou a Xihe e He que observassem reverentemente os amplos céus e calculassem os movimentos e as aparências do sol, da lua, das estrelas e dos espaços zodiacais; e depois entregassem respeitosamente os limites das estações ao povo.

O IMPERADOR AMARELO (HUANGDI)
As figuras do Imperador Amarelo (Huangdi) e de uma divindade suprema associada chamada Taiyi, que era frequentemente equiparada a ele, começaram a surgir por volta do período dos Reinos Combatentes.

Ao mesmo tempo, muitos estudiosos começaram a antropomorfizar o Deus em uma forma humana devido às tendências racionalistas do período. Um estudioso do século XX, Yang Kuan, afirmou corretamente que o Imperador Amarelo era uma representação de Shangdi, o que hoje é a posição da maioria dos estudiosos. Essa também é a verdade.

O Imperador Amarelo é representado como o centro do cosmos. Ele também é mencionado como sendo idêntico ao “Deus do Trovão” punitivo e destruidor chamado Leishen, que tem uma aparência distinta e aterrorizante, semelhante à do Raijin japonês. Às vezes, ele é equiparado a Indra na forma de Sakra pelos budistas.

A criação é sua prerrogativa divina, juntamente com a operação da roda do mundo, que manifesta todas as formas de ordem divina na realidade física. Ele também é o patrono da imortalidade e da consciência suprema, sendo também conhecido como o “Deus de Quatro Faces”, um apelido idêntico ao de Brahma em chinês.

shangdi2.png

Por outro lado, ele também recebe uma história distintamente humana de ser tanto um soberano quanto um homem que passa por uma apoteose. Ele foi localizado como o terceiro soberano dos chineses. Nessa lembrança, ele era um humano chamado Xuanyuan, nascido de Shaodian (possivelmente uma referência a Saturno e Cronos). Ele derrotou o espírito maligno Chiyou e o governante injusto Shennong por meio de estratégia:



Registros do Grande Historiador, Sima Qian

軒轅乃修德振兵,治五氣,藝五種,撫萬民,度四方。。。
有土德之瑞,故號黃帝。

... então eles se voltaram para Xuanyuan, que praticava a virtude, mobilizava seus homens, controlava os cinco elementos, cultivava os cinco tipos de grãos, pacificava o povo e percorria todas as partes de seu país.

[...]

Houve um presságio auspicioso da energia da Terra e, por isso, ele foi chamado de “Imperador Amarelo”.

A tradição posterior vincula Huangdi à busca pela imortalidade: um conto relata sua ingestão do “creme de jade branco” (白玉之膏), um elixir mágico - que sabemos ser o orvalho da glândula pineal - para alcançar a vida eterna.
Os alquimistas taoístas falavam de Huangdi usando “Nove Elixires” mágicos ou consumindo a essência de jade para ascender ao Céu, misturando seu mito com a busca pela vida transcendente. A estima pela sabedoria esotérica do Imperador Amarelo é evidente nas muitas escrituras taoístas atribuídas a ele (sejam elas genuinamente antigas ou apócrifas). Conforme observado, textos sobre medicina (o Cânone Interno), estratégia militar, feng shui
e talismãs receberam seu nome, o que implica que ele havia revelado conhecimentos sagrados para a humanidade.

Registros do Grande Historiador, Sima Qian

官名皆以云命,为云师。置左右大监,监于万国。万国和,而鬼神山川封禅与为多焉。获宝鼎,迎日推厕。举风后、力牧、常先、大鸿以治民。顺天地之纪,幽明之占,死生之说,存亡之难。时播百谷草木,淳化鸟兽虫蛾,旁罗日月星辰水波土石金玉,劳勤心力耳目,节用水火材物。

Seus oficiais tinham nomes de nuvens e ele era chamado de “Mestre das Nuvens”. Ele nomeou Grandes Superintendentes à esquerda e à direita para supervisionar as miríades de estados. Quando as miríades de estados estavam em paz, ele realizava inúmeros sacrifícios aos espíritos, montanhas e rios, bem como os rituais Feng e Shan. Ele obteve um precioso tripé e calculou o calendário observando o sol. Nomeou Feng Hou, Li Mu, Chang Xian e Da Hong para governar o povo.

Ele seguiu os princípios do Céu e da Terra, compreendeu os mistérios do oculto e do visível e estudou as teorias da vida e da morte, da sobrevivência e do perigo. Ele semeou os cem grãos e cultivou plantas, domesticou pássaros, animais, insetos e peixes e regulou o sol, a lua, as estrelas, a água, a terra, as pedras, os metais e o jade. Trabalhou diligentemente com seu coração, força, olhos e ouvidos e praticou a frugalidade no uso da água, do fogo e de outros materiais.

Os estudiosos confucionistas consideravam Huangdi um dos antigos reis sábios que exemplificavam a virtude. Embora o confucionismo tradicionalmente elogiasse Yao e Shun dos Três Soberanos e Cinco Imperadores de forma mais explícita, Huangdi também era considerado um modelo de governo benevolente e liderança moral. Um texto da era Han atribuído a Confúcio elogia a influência duradoura de Huangdi: “Quando o Imperador Amarelo estava vivo, o povo prosperou por cem anos; depois que ele morreu, eles reverenciaram seu espírito por cem anos; depois que seu espírito desapareceu, eles ainda seguiram seus ensinamentos por cem anos. Assim, as pessoas dizem que ele governou por trezentos anos”.

Assim, nos textos clássicos, Huangdi era um símbolo versátil: Os confucionistas o apresentam como um sábio-rei humano, os taoístas como um imortal iluminado e fonte de conhecimento secreto e os sincretistas legalistas-taoístas como um modelo de autoridade iluminada que equilibra a governança rígida com o Tao cósmico. Essas interpretações variadas nos escritos dos Estados Combatentes e dos Han mantiveram o Imperador Amarelo no centro da memória cultural da China, cada escola ancorando seus ideais em sua personalidade lendária.




O IMPERADOR DE JADE (YUDI)
Com o passar do tempo e a sucessão de diferentes governantes, a ênfase na China mudou mais para a representação do Imperador de Jade durante as dinastias Tang e Song. O simbolismo pode, de fato, estar ligado à ingestão de jade pelo Imperador Amarelo para se tornar um ser divino. A popularidade do culto ao jade levou a dinastia Song a nomear diretamente o Imperador de Jade como a personificação oficial do Deus do Céu.

De acordo com uma lenda popular dos Tang-Song, o Imperador de Jade foi um príncipe mortal de um reino pré-histórico, famoso por sua excepcional benevolência e sabedoria. Renunciando ao seu trono para viver entre as pessoas e praticar a compaixão, esse príncipe passou incontáveis kalpas (eras) no cultivo ascético do Tao, ascendendo gradualmente aos planos espirituais.

Após 3.200 grandes eras de prática, ele alcançou a Imortalidade Dourada e o título de “Rei Iluminado Puro e Tranquilo”. A mitologia tardia até mesmo sincretizou os dois imperadores: uma teoria sustentava que o Imperador Amarelo havia ascendido e se tornado o Imperador de Jade.

No entanto, algumas obras chinesas hostis ao taoismo - e à maneira como ele foi interpretado na forma como os imperadores chineses governaram ao longo dos tempos - atacaram e satirizaram a figura do Imperador de Jade como uma figura de proa da rígida ideologia taoista, inconsciente do simbolismo divino sobre o qual ele governa.

Viagem ao Oeste

玉皇大帝,统御三界,掌管天庭。

O Imperador de Jade governa os Três Reinos e supervisiona a Corte Celestial.


O Imperador de Jade também é constantemente mencionado como ministro ou secretário de Yuanshi Tianzun, que passou o controle dos céus e do tempo para ele. Um dos principais elementos do mito do Imperador de Jade ocorre quando ele enfrenta a fonte do grande mal, semelhante a Zeus e Tifão, conforme relatado em alguns dos textos taoístas.

Quando estava polindo a terra para torná-la mais habitável para os homens e repelindo uma variedade de monstros, o Imperador de Jade viu um brilho maligno irradiando do céu e soube que algo estava errado. Ele ascendeu e viu que a entidade maligna era poderosa demais para ser detida pelos deuses. O Imperador de Jade a desafiou e eles lutaram. As montanhas tremeram, os rios e os mares caíram. Seu profundo e verdadeiro cultivo da alma brilhou - sua benevolência, em vez de puro poder, foi o que levou o Imperador de Jade à vitória. Depois que a entidade maligna foi derrotada, seu exército foi dispersado pelos Deuses e Demônios.

O Imperador de Jade, com sua esposa, a Rainha Mãe do Oeste, tem sete filhas conhecidas como as Sete Fadas - uma alusão aos Chakras:

  • A de traje Vermelha
  • A de traje Azul
  • A de traje Branca
  • A de traje Preta
  • A de traje Roxa
  • A de traje Amarela
  • A de traje Verde


SIMBOLISMO DO YUDI
Os retratos chineses tendem a ser altamente simbólicos e repletos de detalhes ricos. As roupas nesses retratos representam muito sobre a posição e o dever. Em outras palavras, todo o simbolismo representado na imagem do Imperador de Jade está lá por uma razão - nada arbitrário.

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Em seus retratos, o Imperador de Jade é quase sempre entronizado em um grande trono que significa seu domínio sobre o cosmos, não muito diferente de Zeus. Esse trono é frequentemente retratado como o Trono do Dragão, análogo ao assento dos imperadores chineses. Os motivos de dragão normalmente adornam o trono - dragões esculpidos enrolando-se em torno do assento ou de suas costas - para anunciar que esse é o assento do governante supremo. Ele está unido ao Céu e à Terra.

No topo de sua cabeça está o mian (冕冠), a coroa imperial retangular com uma placa plana e cortinas de contas penduradas. A coroa do Imperador de Jade é mostrada com doze cordas de contas penduradas na frente e atrás. As doze ou treze contas de jade representam os doze signos zodiacais e os meses do ano, com treze representando a conclusão espiritual. Algumas representações do mian usam uma forma arredondada sobre uma base quadrada, representando o plano quadrado da Terra.

Acima da coroa, o dragão dourado é representado olhando para o observador, com seis outros dragões desenfreados de cada lado. O motivo do dragão representa a primazia do Imperador nos céus, mas também a serpente kundalini atingindo o Chacra Coronário. Ocasionalmente, o Sol e a Lua são representados como a ida e a pingala, geralmente ligados a esse símbolo serpentino. A imagem dualista e simétrica da borla da roupa também está ligada à função dupla de Zeus expressando Satya, além de representar o próprio Tao.

Nuvens ondulantes preenchem o fundo do retrato do Imperador de Jade, muitas vezes multi coloridas e estilizadas. Na arte chinesa, as nuvens são um símbolo onipresente dos céus e da sorte auspiciosa. A palavra para “nuvem” é um homófono de “fortuna”. O Imperador de Jade está sentado e entronizado no tecido do cosmos. Portanto, o plano de fundo não é um espaço em branco. Ele está vivo com o qi do céu, nuvens ondulantes e energias celestiais, simbolizando a ordem mundial taoista que o Imperador de Jade supervisiona.

Elas também denotam a harmonia yin-yang do cosmos. As nuvens se formam a partir da fusão da água (yin) e do ar (yang), o equilíbrio natural perfeito. Muitas vezes, as nuvens são desenhadas nas cinco cores auspiciosas (azul-verde, vermelho, amarelo, branco, preto), que correspondem aos Cinco Elementos.

O cenário ao redor do trono ressalta que essa cena se passa no Palácio Celestial. A arte tradicional pode representar elementos arquitetônicos como pilares celestiais e nuvens ornamentadas em forma de parapeitos de palácio. Em algumas imagens, a corte do Imperador de Jade é sugerida ao mostrá-lo em um salão aberto do Palácio de Jade do Céu. De acordo com a cosmologia taoista, ele reside em um magnífico palácio nos céus mais altos, e a sala do trono é o “centro administrativo do cosmos”.




MONTE TAI
O Monte Tai (Tai Shan) na China, também conhecido como a Montanha Tranquila, está localizado na metade oriental da província de Shandong. Essa montanha, situada ao norte da cidade de Tai'an, é considerada a mais sagrada e santa de todas as cinco Montanhas Sagradas da China. A dinastia Shang iniciou certos rituais para Shangdi nessa montanha, que ficaram conhecidos como os Sacrifícios Feng e Shan - seguidos rigidamente por todos os grandes senhores e monarcas da China desde então.

Até hoje, tendo sobrevivido à iconoclastia da Revolução Cultural, ela ainda contém um pico conhecido como Pico do Imperador de Jade. Os Anais da China também registram que o Imperador Amarelo escalou o pico. A intenção dos ritos duplos associados à divindade era mostrar a união do Céu e da Terra. Qualquer imperador que viesse de uma família diferente ou que tivesse feito contribuições extraordinárias seria abençoado pelos deuses com auspiciosos “sinais de boa sorte” e estaria qualificado para ir ao Monte Tai para relatar seu sucesso e agradecer à graça do Céu por ter lhe concedido o trono. Isso formou a tradição da Cerimônia do Monte Tai.

Até mesmo a unificação total da China foi proclamada por Qin Shi Huang com uma cerimônia no cume, elevando a montanha a uma importância nacional única. Sabe-se que ele tomou emprestado o procedimento do estado original de Qin. Isso levou ao ditado:

泰山安則天下安

Se o Monte Tai estiver estável, o país inteiro também estará.

É interessante notar que 72 imperadores visitaram a montanha ao todo. Um evento indica sua extrema importância: emissários do Japão, da Índia, da corte Persa no exílio, de Goguryeo, de Baekje, de Silla, dos Turcos, de Khotan, dos Khmer e do Califado Omíada, todos tinham representantes presentes nos sacrifícios Feng e Shan realizados pelo Imperador Gaozong de Tang em 666 no Monte Tai.

Do Portão Vermelho, no sopé da montanha, ao Portão do Céu Sul, no topo, há também cerca de 6.660 degraus de pedra, que serpenteiam pelas encostas da montanha.

Ao longo dos anos, foram feitas centenas de milhares de inscrições na montanha. Ela ficou conhecida como uma área excepcionalmente poderosa para práticas meditativas. Vários e numerosos grupos foram ao cume para praticar seus deveres religiosos. Pelo menos 22 complexos de templos conhecidos foram construídos lá.

Infelizmente, a Revolução Cultural levou a uma catástrofe para as relíquias sagradas da montanha, com 10.000 metros cúbicos de pedra sendo destruídos por guardas vermelhos fanáticos. Esse incidente deve mostrar a hostilidade de certos programas em relação a Zeus em todo o mundo. Desde então, grandes esforços têm sido feitos para corrigir esse erro.



BIBLIOGRAFIA
O Livro de Documentos (尚书)

Registros do Grande Historiador, Sima Qian

Tao Te Ching, Lao Tzu

玉皇大帝脖子上佩戴的神秘物品:详解及其象征意义 (O objeto misterioso usado ao redor do pescoço do Imperador de Jade), Suo Yao, Anquan

玉皇大帝的冠冕:揭秘其服饰中的象征意义与历史渊源 (A Coroa do Imperador de Jade), gxbhxww

Dragão Imperial, Museu Americano de História Natural

O Imperador de Jade e Indra(s), A Tradição Antiga

Teoria das “Cinco Cores” da China Antiga: What Does Its Semantic Analysis Reveal (O que sua análise semântica revela). Essays in global color history (Ensaios sobre a história global das cores): Interpreting the ancient spectrum (Interpretando o espectro antigo), V. Bogushevskaya

Consórcio Nacional para o Ensino sobre a Ásia, Shari A. Densel

CRÉDITOS:
Karnonnos [TG]

apa4s_666 [assistência nas sugestões dos Três Seres Puros, esclarecimento sobre Sakra].
 
NOMES DE ZEUS: RAIJIN


Raijin, também conhecido como Raiden, Narukami e Kamowakeikazuchi, é uma divindade do xintoísmo associada ao trovão, à guerra, ao poder, às chuvas salvadoras, à agricultura e às tempestades. Ele assume um papel mais ctônico em comparação com muitas das representações de Zeus, lançando raios sobre as pessoas como árbitro de Yomi, o Reino dos Mortos. Sua aparência é austera e aterrorizante.

Em kanji, ele é representado como 雷神, uma combinação de 雷 (kaminari), que significa “trovão”, e 神 (kami), que significa “deus” ou “espírito”. Portanto, ele é simplesmente o Deus do Trovão. Outros nomes são Kaminari-sama (雷様, “Senhor Trovão”), Raiden-sama (雷電様, “Senhor Trovão e Relâmpago”), Narukami (鳴る神, “O Deus do Ressoar”) e Yakusa no Ikazuchi no Kami (厄災の雷の神, “Deus das Tempestades e Desastres”).

A nítida diferença entre essa representação e o rosto sereno do Imperador de Jade ou de Shiva justifica uma certa explicação de como Raijin é uma representação de Zeus. Muitos, apenas por fatores visuais, podem entender erroneamente que essa entidade é considerada maligna.

Os japoneses também veneravam várias outras divindades, como o Deus Criador de uma tríade chamada Ame-no-Minakanushi no Nihon Kojiki e o Ajisukitakahikone regional, que pode ser equiparado a Zeus, com atributos semelhantes em formas mais misteriosas e humanizadas, respectivamente.

Além disso, os famosos deuses ancestrais do Japão - Susanoo, Tsukuyomi e Amaterasu, irmãos de Raijin que aparecem na lavagem de Izanagi - representam a tríade de Zeus, Astarte e Apolo de uma forma mais intercambiável e oculta do que a maioria dos panteões. As divisões dos três são mais fluidas.




SIMBOLISMO DO RAIJIN
Deuses me disseram inúmeras vezes que grande parte do simbolismo inato da cultura japonesa está na morte e no renascimento. Além da típica adoração xintoísta da natureza, há uma forte tendência disso na forma como Raijin e sete outros kami do trovão são representados como emergindo dos oito núcleos do corpo da Deusa Izanami quando ela desceu ao Reino dos Mortos.
Os zevistas poderiam entender que esse conceito se relaciona com o despertar espiritual de um indivíduo, no qual “Deus” - em plenos relâmpagos - de repente começa a aparecer quando os chakras são ativados corretamente.

Outro mito antigo no Nihon Shoki e em várias lendas regionais associa o Raijin à fertilidade e às origens do clã. Por exemplo, o clã Kamo de Kyoto acreditava que sua divindade ancestral, Kamowakeikazuchi, desceu do céu em um relâmpago - uma lenda comemorada no Santuário Kamigamo.

Nas lendas mais antigas, Raijin é considerado uma serpente em sua forma. Essa mitologia foi posteriormente alterada para a figura do dragão Ryujin.

As representações originais do Raijin na cultura japonesa não eram animalescas nem associadas a um rosto assustador, mas durante o período Kamakura, a influência das guerras perenes no Japão e a divindade chinesa semelhante do relâmpago Leigong começaram a mudar seus atributos para os de ser inspirador e aterrorizante.

As representações de Raijin e Fujin tornaram-se prolíficas no período do xogunato como resultado da impressão em massa de obras ukiyo-e dedicadas à dupla de deuses. Por isso, ele foi reverenciado como uma das divindades mais populares do Japão em sua cultura popular naquela época.

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Visualmente, no ukiyo-e, ele é frequentemente representado com os chifres ou orelhas de um boi ou touro. Além disso, ele é frequentemente mostrado com um manto dos céus, semelhante ao de Zeus, que se enrola sobre seus ombros e atrás de sua cabeça.

Na arte e na estatuária de santuários, ele aparece como um demônio musculoso e com chifres (uma figura semelhante a um oni) montado sobre nuvens escuras. Ele empunha marretas ou baquetas nos braços levantados, pronto para tocar um círculo de tambores que o circunda. Cada tambor geralmente tem o motivo tomoe (um tipo de redemoinho em forma de vírgula), um símbolo antigo associado a trovões e redemoinhos. Ao tocar esses tambores, Raijin “faz” trovões, uma imagem que se relaciona diretamente com a experiência auditiva das tempestades. Essa imagem se solidificou pela primeira vez no período Kamakura e permaneceu icônica desde então.

Apesar desse aspecto temível, Raijin também é retratado de forma cativante. Na tradição popular, ele tem uma criatura companheira chamada raijū (besta do trovão), um pequeno animal mágico (descrito como uma criatura semelhante a um tanuki) que dorme em umbigos humanos. Quando Raijin precisa acordar seu animal de estimação para uma tempestade, ele dispara flechas com raios do céu para assustar o raijū e fazê-lo sair de seu esconderijo no umbigo. Isso pode ser uma alegoria da ativação dos chakras inferiores.

Normalmente, o Raijin também é mencionado como portador de martelos ou marretas, que ele usa para se impor.

Ele também é visto nos textos como uma divindade protetora do Japão como um todo. Em uma lenda, Raijin é mostrado defendendo o Japão contra os mongóis invasores. Nessa lenda, os mongóis são expulsos por uma tempestade violenta na qual Raijin está nas nuvens, lançando raios e flechas contra os invasores.




SENHOR DE TUDO
Raijin não está disposto a ouvir os sacerdotes, os monges e até mesmo o imperador do Japão. Essa é uma forma alegórica e educada de mostrar sua primazia sobre o cosmos. Ele só é mostrado como capaz de se consorciar com seres divinos e ascendentes, o que no Japão era cada vez mais interpretado por meio de uma lente budista.

No Nihon Shoki, ele atinge um homem com um raio que tenta cortar sua árvore sagrada por ordem da Imperatriz Suiko. É somente invocando a necessidade imperial que ele é totalmente pacificado.




DOADOR DE CHUVAS
As chuvas são concedidas por sua vontade. Raijin era conhecido nos textos japoneses como o salvador dos fazendeiros e uma divindade tutelar da agricultura. Quando surgiam secas, os agricultores argumentavam que Raijin havia sido aprisionado. A queda de um raio em um arrozal era considerada um sinal de que uma colheita abundante estava por vir.

Essa crença era tão forte que muitos camponeses japoneses achavam que o próprio raio fertilizava os campos de arroz. Assim, os agricultores ofereciam orações e realizavam rituais de invocação de chuva (amagoi) em santuários dedicados a Raijin para implorar sua bênção de chuva em épocas de seca.

Claramente, a ira selvagem de Raijin exigia respeito e apaziguamento. Em muitas regiões, eram realizados rituais especiais para afastar ou expulsar a malícia do Deus do Trovão durante as tempestades - por exemplo, os moradores podiam rachar bambu ou fazer tilintar objetos de metal durante as tempestades como um exorcismo simbólico (kandachi-oi) para afastar os poderes assustadores de Raijin.

Até hoje, Raijin é associado a produtos de eletricidade no Japão, mostrando seu manto como uma divindade muito moderna, embora às vezes seja associado a Fujin de forma cômica.



ADORAÇÃO EM SANTUÁRIOS
Inúmeros santuários Shintō em todo o Japão são dedicados a Raijin ou a divindades do trovão relacionadas, atestando sua importância.

Um exemplo é o Kanamura Wake Ikazuchi Jinja em Tsukuba (Prefeitura de Ibaraki), chamado localmente de “Raijin-sama”, que é considerado um dos três grandes santuários Raijin da região de Kantō e foi estabelecido pelo imperador japonês no século IX. Nesse santuário, Raijin é explicitamente homenageado por suas duas faces: um “lado forte” que libera trovões para punir os erros e um “lado gentil” que traz chuva para nutrir a vida - o que o torna especialmente popular entre aqueles que rezam pela sorte na agricultura.

Os festivais sazonais ainda são realizados aqui toda primavera e outono para celebrar a benevolência de Raijin e garantir boas colheitas.

Outro santuário de simbolismo e importância semelhantes é o Santuário Kamo, em Kyoto (Kamigamo), que consagra o kami Kamowakeikazuchi e, desde os tempos antigos, realizava rituais elaborados para apaziguar esse deus em prol do bem-estar da nação. Para isso, o imperador era obrigado a montar em um cavalo branco. Registros históricos observam que, já no século VI, envios imperiais eram realizados aos santuários de Kamo para acalmar a divindade do trovão depois que tempestades causavam a quebra de safras.

No período Edo (1603-1868), a adoração a Raijin permaneceu vibrante tanto nos ritos estatais quanto na prática popular. O Xogunato Tokugawa apoiava grandes festivais para divindades populares, e os deuses do trovão figuravam nos festivais locais, especialmente em áreas importantes para a agricultura. Muitos santuários Raiden foram fundados ou reconstruídos durante essa época. Por exemplo, o Santuário Raiden em Kiryū (Gunma) foi fundado em 1677 para homenagear Honoikazuchi, a divindade do trovão associada nascida do peito de Izanami.

Os habitantes locais creditaram ao kami a proteção da cidade e das plantações, refletindo a crença comum de que o Raijin poderia proteger as comunidades se fosse devidamente venerado. Nessa época, Raijin era carinhosamente chamado de Kaminari-sama (“Senhor Trovão”) pelas pessoas comuns.



AME-NO-MINAKANUSHI
O grande ancestral de Raijin, Susanoo, Tsukuyomi e Amaterasu é Ame-no-Minakanushi, o Deus Criador primordial do universo. Esse Deus aparece em uma narrativa do Nihon Kojiki como uma misteriosa divindade criadora.



BUDISMO

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Em vez de ser substituído pelo budismo, diz-se que Raijin foi “subjugado pelo Buda” e transformado em um guardião dos templos budistas no Japão, de forma semelhante a Sakra, mas com uma aparência mais animalesca. Certos contextos da religião japonesa o transmitem como um espírito tutelar.

BIBLIOGRAFIA
O Shoki

O Koijki

Raijin, Enciclopédia do Xintoísmo, kokugakuin.jp

Nijuhachibushu, 28 Legiões de Kannon de 10.000 Braços, além de Raijin e Fujin, onmarkproductions

Raijin, mythopedia

Lenda na arte japonesa: A Description of Historical Episodes, Legendary Characters, Folk-lore, Myths, Religious Symbolism, Illustrated in the Arts of Old Japan (Descrição de episódios históricos, personagens lendários, folclore, mitos, simbolismo religioso, ilustrados nas artes do Japão antigo), John Lane

CRÉDITOS:
Karnonnos [TG]
 

NOMES DE ZEUS: AN DAGHDHA​


An Daghdha é considerado o principal Deus do tradicional panteão celta irlandês e chefe dos Tuatha Dé Danann. O nome An Daghdha é traduzido livremente como “bom Deus”, embora isso não se refira apenas à sua virtuosidade, mas ao seu conjunto de habilidades tão amplo que o diferenciava até mesmo de outros Deuses. Ele era um guerreiro inigualável, um artesão, um músico e um mestre da magia druídica e da alquimia.


CONEXÃO COM OUTROS DEUSES​


Normalmente, An Daghdha era retratado de forma semelhante aos nórdicos Thor e Odin (com os quais existem outros paralelos): uma figura de grande estatura, barba ruiva e envelhecida, com um manto encapuzado, carregando um bastão e, muitas vezes, retratado com um caldeirão ou tocando uma harpa.

An Daghdha tinha uma variedade de epítetos que tornavam esses paralelos ainda mais evidentes. “Eochaid Ollathair” pode ser interpretado como um grande cavaleiro ou até mesmo o Pai Todo-Poderoso. “Ruad Rofhessa” se referia ao seu status como o Senhor da Sabedoria, mostrando uma correlação com Marduk e Ahuramazda. “Fer Benn” poderia se referir à sua representação como um deus com chifres ou à sua associação com as montanhas e a terra como um senhor do pico.

Por fim, conectando ainda mais seus mitemas a Thor, “Cerrce” se referia a ele como aquele que ataca. Conforme mencionado no artigo sobre Thor, pode-se notar que o próprio povo sami se referia a Thor com o epíteto Good Man Thor, e o bastão de An Daghdha podia matar homens com uma ponta e devolvê-los à vida com a outra.


TUATHA DÉ DANANN​


Para aqueles que nunca ouviram falar dos Tuatha Dé Danann, é preciso entender que o que resta da mitologia irlandesa (que, infelizmente, é muito pouco em comparação com a grega antiga, cortesia da ruína cristã) é extremamente complexo. O próprio nome se traduz literalmente como os filhos da Deusa Danu, uma deusa obscura e presumivelmente mãe da terra.

Os Tuatha Dé Danann, no contexto da Irlanda medieval, eram considerados uma raça antepassada. De certa forma, esse foi um segundo estágio de mitologização, um mito de origem fortemente enraizado e recriador da mitologia pagã. Embora possa parecer confuso para alguns, vale a pena explicar que as obras cristãs medievais aplicavam o que é conhecido como euhemerização, uma espécie de pseudo-história medieval.

Em resumo, sabendo que a população ainda tinha grande consideração por sua antiga religião e seus ancestrais, os missionários cristãos começaram a recontextualizar os mitos pagãos para que se encaixassem em uma narrativa mais ampla que incluía traçar linhagens de sangue para figuras bíblicas hebraicas. Isso, em essência, reduziria a história pagã a pouco mais do que uma nota de rodapé em que os Deuses eram pouco mais do que homens, mágicos e descendentes dos descendentes bíblicos de Noé e de outros falsos personagens israelitas.

Com isso em mente, as pessoas podem considerar o processo secular do paganismo celta da seguinte forma: o panteão irlandês clássico original do mundo antigo se tornou os Tuatha Dé Danann durante o período medieval anterior. Aqui, eles eram considerados antepassados ancestrais do povo da Irlanda, que desapareceram com a invasão dos irlandeses modernos na terra. Na maioria das vezes, essas representações ainda eram leais às suas encarnações tradicionais, pelo menos em termos de mitemas e iconografia. Mais tarde, com ainda mais pressão cristã e a marcha entrópica do tempo, os Tuatha Dé Danann passaram a ser associados aos Aos Sí (e minimizados para eles), também conhecidos como Fae (Fadas) da superstição popular, que permanecem até hoje, especialmente nas regiões rurais e entre os grupos demográficos mais velhos.

Mesmo apesar dessa regressão, vale a pena observar que os Aos Sí ainda são considerados como tendo laços ancestrais com o povo da Irlanda, e muitas superstições populares giram em torno de tratá-los como espíritos domésticos que devem ser apaziguados (ou, no mínimo, não ofendidos) para evitar fatores como colheitas ruins, má sorte e maldições, ou como espíritos das partes mais selvagens da terra, o que proporciona um paralelo óbvio com os Elfos da superstição escandinava moderna.

Voltando novamente às perspectivas mais antigas, diz-se que, quando os Tuatha Dé Danann chegaram à Irlanda, eles encontraram (e posteriormente entraram em guerra com) os Fomorianos. Na maioria das vezes, esses Fomorianos eram vistos de forma negativa, principalmente como espíritos malévolos associados ao submundo que enfrentaram sua derrota final no Cath Maige Tuired.

Para quem conhece bem as mitologias indo-européias, isso já deve soar familiar, pois os Tuatha Dé Danann e os Fomorianos podem ser considerados semelhantes a outras guerras divinas, como a Titanomaquia e a Gigantomaquia da Grécia, a Guerra Aesir/Vanir dos nórdicos e os conflitos dos Asura e Deva no hinduísmo. Mais especificamente, os Fomorianos eram frequentemente retratados como brutais e monstruosos e propensos à opressão tirânica - semelhante, de fato, ao papel dos gigantes em outros mitos culturais.

Embora isso tenha sido explicado mais detalhadamente no artigo sobre Thor, vale a pena reafirmar aqui que os gigantes normalmente representam o contrário da sociedade ideal, iluminada e ordenada, em que a consciência se expandiu e a ética também. Os Fomorianos, nesse sentido, representam a brutalidade severa da natureza e governam apenas pela força. Muitas vezes, eles são considerados portadores de doenças ou infortúnios, aspectos típicos que acometem uma sociedade que saiu da ordem divina (para usar um termo egípcio aqui, uma sociedade que se afastou do ma'at).

Em geral, considera-se que os Fomorianos surgiram dos lugares escuros e úmidos sob a terra, embora em outros casos eles tenham sido retratados como invasores cruéis vindos do mar. Alguns acadêmicos consideram que essa é a maneira celta de se reconciliar com o período de invasões vikings, mas talvez seja mais provável que essa seja uma memória cultural dos “Povos do Mar”, que aparecem e participam do colapso cultural da Idade do Bronze.

Uma coisa que certamente define a civilização é a noção de abundância. No mundo ocidental moderno, a comida é muitas vezes considerada um dado adquirido, mas no contexto antigo, o início da agricultura foi o que permitiu a existência de uma classe intelectual. De certa forma, o alimento e a fartura são os grandes facilitadores, e o próprio alimento é usado como símbolo de abundância (veja, por exemplo, a cornucópia grega) tanto no sentido físico quanto no espiritual. A partir daí, uma classe pensante pode se desenvolver e, a partir daí, há invenções e a sociedade se torna mais sofisticada, sendo a arte e a cultura as indicações mais verdadeiras de que uma sociedade não está mais sobrevivendo da mão para a boca.

Antes de uma grande batalha contra os Fomorianos, os Tuatha Dé Danann enviam An Daghdha à base deles para distraí-los e deixá-los menos preparados para o conflito. Acreditando que o capturaram, eles não o executam imediatamente, pois desejam humilhá-lo. Sabendo de seu tamanho avantajado e de seu gosto por comida, os Fomorianos lhe oferecem uma grande quantidade de comida - o suficiente para que, para uma tribo que mal conseguia sobreviver, fosse inconcebível que alguém pudesse comer tudo. Naturalmente, o desafio é que An Daghdha coma tudo ou seja executado.

An Daghdha, no entanto, come tudo sem problemas, rindo e dando tapas no estômago, fazendo um grande espetáculo, virando-se e indo embora sem se preocupar - apenas para retornar aos Tuatha Dé Danann e entrar no conflito no dia seguinte, onde ele e Lugh (normalmente considerado Azazel/Apolo) lutam juntos e matam o maligno Rei Balor, de um olho só (que acabara de matar o Rei dos Tuatha Dé Danann, Nuadha), cujo único olho manifestava destruição sempre que se abria.

Cada um dos golpes de An Daghdha matou nove homens e, depois que a batalha foi vencida, An Daghdha ressuscitou Nuadha, fazendo com que sua mão perdida fosse substituída por uma mão mágica de prata (os paralelos com o nórdico Tyr devem ser bem evidentes aqui, e Nuadha era frequentemente comparado com o britânico Nodens, que os romanos consideravam semelhante a Marte).

Novamente referindo-se ao mito nórdico, a semelhança com Thor e seu lendário apetite já é digna de nota, mas há outros paralelos com coisas que surpreenderiam muitos. Budh, o Vermelho, é outro rei atestado dos Danaan. Estruturas antigas - convertidas em igrejas muito parecidas com as chamadas igrejas de madeira da Escandinávia - ainda exibem a iconografia de árvores e serpentes. A relíquia do Caldeirão de Gundestrup mostra uma figura com chifres em uma posição sentada de ioga, segurando uma serpente em uma das mãos.

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A obscuridade e a destruição da antiga religião druídica levaram a uma falsa crença de que há pouco valor a ser encontrado nos antigos mitos e lendas da Ilha do Norte, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Até mesmo o Budh é uma figura conhecida na ilha, relacionada ao título de Buda.

An Daghdha também era conhecido por sua grande risada estrondosa. Ele também percorria o país com seu caldeirão mítico interminável que nunca ficava sem alimento, compartilhando-o com seus seguidores e seu povo, assim como sua árvore lendária que nunca morria e nunca ficava sem frutos.

No contexto do mito nórdico, é possível entender que Odin e suas runas representam, em parte, os poderes e a influência de Mercúrio - um fato bem observado pelos romanos quando encontraram o paganismo germânico pela primeira vez. No idioma sânscrito, Buddh também se refere literalmente a Mercúrio. Quando se começa a considerar a figura moderna do Papai Noel como uma encarnação posterior de Odin - e de An Daghdha, por extensão - com sua doação de presentes, alegria e figura de peso, a preservação desses mitos ao longo do tempo em várias formas se torna evidente.

Para quem tem conhecimento das runas, é possível ver a aparência da runa gebo presente em muitos desses mitos. Gebo é uma runa de doação de presentes, acordos vinculativos, sacrifício, união sagrada e talentos inatos. Até mesmo o termo coloquial “X-mas” pode ser considerado uma representação inconsciente dessa runa. No Hávamál nórdico, afirma-se que: “Um homem deve ser leal aos amigos durante toda a vida e retribuir presente por presente; rir quando eles riem, mas com mentiras retribuir um falso inimigo que mente.”

Para entender o gebo e seu papel na magia sexual, também é possível observar a união sagrada de An Daghdha com a enigmática e poderosa Deusa Morrigan. As duas se encontram no sagrado Samhain, com a Deusa de pé, com um pé em cada lado da margem do rio, lavando-se. Sendo uma Deusa da Guerra, An Daghdha pede a ela que participe da batalha que se aproxima. Ela concorda - se os dois fizerem amor naquele momento. Apesar de sua reputação temível, An Daghdha é considerada uma amante lendária e não tem escrúpulos.

Os dois formam um encontro, um acordo vinculativo, e a Morrigan convoca todos os mágicos lendários da Irlanda para participar da destruição dos Fomorianos e de seu rei. A Morrigan jura que terá o sangue do coração dele e, mais tarde, retorna ao rio com dois punhados desse sangue, que ela entrega em suas águas.

No entanto, como costuma acontecer em mitos que envolvem grandes e poderosos amantes, An Daghdha amou mais de um. Enquanto a Deusa do Rio Boyne (localizado em Brú na Bóinne) tem um marido que está fora em uma missão de um dia, ela e An Daghdha fazem amor e ela engravida imediatamente. Ciente de que seu marido voltará depois de um único dia, An Daghdha lança um feitiço que faz com que o sol pareça estar parado. Nove meses se passam antes do retorno de seu marido e nasce o filho de An Daghdha, Aengus, considerado o Deus da juventude e da beleza. Esse não é o único exemplo dos poderes sazonais de An Daghdha, pois sua lendária harpa também lhe concede o poder de colocar as estações em sua ordem correta.


NEWGRANGE​


Considera-se, portanto, que An Daghdha construiu Newgrange em Brú na Bóinne, uma grande tumba que é muito mais do que uma simples lenda. Esse local sagrado, embora tenha sido construído há tanto tempo que continua sendo um dos locais pagãos antigos mais antigos do planeta (até mesmo estimativas conservadoras sugerem 3200 AEC.), ainda está de pé.

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Há uma consideração de que esse mito representa o solstício de inverno, pois a luz do sol (alegoricamente o próprio An Daghdha) entra no santuário interno de Newgrange apenas uma vez por ano durante esse período (como visto na segunda imagem). Durante a breve janela do dia em que o caminho do sol fica parado, o útero de Newgrange - simbolicamente a própria Deusa de Brú na Bóinne - é iluminado. É importante ressaltar que a palavra solstício significa literalmente “sol parado” em latim. O próprio Aengus pode representar o renascimento do sol nascente e seu triunfo sobre o sol poente, já que em alguns mitos também se considera que Aengus, usando truques semelhantes aos de seu pai, herda a propriedade de Newgrange.

Independentemente da propriedade, após o mandato de Nuadha, o próprio An Daghdha acaba se tornando rei e governa por ainda mais tempo. No final do ciclo do mito, sugere-se que An Daghdha se retira para os túmulos de Newgrange e continua a governar o Outro Mundo Celta depois disso, desaparecendo ainda mais em mitos e lendas e tornando-se sinônimo dos poderes Fae que continuam a dominar as terras pastoris das Ilhas do Norte na mente de muitos.


CROM DUBH​


Em geral, acredita-se que An Daghdha seja representado no mito irlandês posterior pela figura de Crom Dubh, que figura em parte nas lendas blasfemas envolvendo o inimigo São Patrício. Mesmo assim, ainda há alegorias espirituais presentes nesses contos populares posteriores, que serão reconhecidas se tivermos em mente o que foi dito sobre An Daghdha como uma divindade da fertilidade, da colheita e da runa gebo.

No domingo de Crom Dubh, que se sobrepõe ao Lughnasadh, diz-se que Crom Dubh surge do submundo, carregando Eithne, a donzela do milho, em suas costas. Ele reivindica os primeiros frutos da colheita antes de se retirar para o subterrâneo para passar o inverno. Em algumas áreas rurais, as pessoas deixam oferendas - flores, colheitas ou produtos - em locais como o Altóir na Greine (Altar do Sol) no Monte Callan, honrando seu papel como figura da fertilidade. A história o retrata como um guardião do ciclo da natureza, exigindo tributo, mas também garantindo a produtividade da terra.

Mesmo entre as províncias romanas da Gália, a iconografia de An Daghdha era bem reconhecida entre os cultos rurais na forma do Deus Sucellos - uma figura forte e barbada que também carregava o icônico caldeirão e o bastão. Em uma lenda anterior, dizia-se que An Daghdha traçava as fronteiras da Irlanda antiga durante o cultivo da terra para que ela fosse fértil, com seu enorme cajado arrastando-se atrás dele, criando essas fronteiras. Novamente aqui, Sucellos era considerado um deus que protegia os limites das propriedades e supervisionava as áreas selvagens mais profundas. Até mesmo a etimologia do nome - Suc e cellos - pode ser interpretada como significando “bom” e “atacante”, ou “o Bom Atacante” como um todo.

Embora a figura de São Patrício certamente não tenha existido, algumas lendas afirmam que ele supervisionou pessoalmente a destruição da maioria, se não de todos, os grandes textos druídicos da Irlanda antiga e destruiu muitos de seus ídolos. Apesar disso, o folclore das Ilhas do Norte em geral continua vivo nos lugares mais sutis. Estruturas antigas ainda mostram o rosto do Deus verde e selvagem, e os elementos folclóricos da antiga fé nunca pereceram de fato.

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BIBLIOGRAFIA​

Myth, Legend & Romance (Mito, Lenda e Romance): An Encyclopaedia of the Irish Folk Tradition (Uma Enciclopédia da Tradição Popular Irlandesa) - Dáithí Ó hÓgáin

The Round Towers of Ireland or the History of the Tuatha Dé Danann (As torres redondas da Irlanda ou a história dos Tuatha Dé Danann) - Henry O'Brien

A Batalha de Moytura - J Frazer (como parte da Coleção de Literatura Celta)

CRÉDITOS:​

Arcadia (todo o artigo)

Karnonnos [TG] (esclarecimento)
 
NOMES DE ZEUS : BELI

Beli Mawr (“Grande Bel”) aparece em muitos textos galeses como uma figura ancestral de todos os governantes da Grã-Bretanha. Seu nome também aparece na poesia galesa medieval, às vezes ligado à luz, à realeza e aos céus, reforçando a identidade de um deus da luz e dos céus. Na Gália, Zeus também era conhecido como Taranis, um deus do trovão e da roda, cuja integração à religião romana é mais claramente compreendida.


A QUESTÃO CELTA
A mitologia britânica e galesa foi fortemente cristianizada desde muito cedo. Para agravar essa situação obscura, até mesmo os infames druidas da história se comunicavam por meio de códigos orais complexos, em vez de registrarem muitas coisas por escrito. - semelhante ao simbolismo verbal ornamentado dos pitagóricos. Era até proibido escrever ou elaborar o significado dos versos divinos:
Livro 6, De Bello Gallico, Júlio César


Dizem que eles aprendem de cor um grande número de versos; assim, alguns permanecem no curso de treinamento por vinte anos. Também não consideram lícito escrevê-los, embora em quase todos os outros assuntos, em suas transações públicas e privadas, usem caracteres gregos. Essa prática me parece ter sido adotada por duas razões: porque eles não desejam que suas doutrinas sejam divulgadas entre a massa do povo, nem que aqueles que aprendem se dediquem menos aos esforços da memória, confiando na escrita; uma vez que geralmente ocorre à maioria dos homens que, em sua dependência da escrita, eles relaxam sua diligência em aprender completamente e em empregar a memória.


Eles desejam inculcar como um de seus pilares o fato de que as almas não se extinguem, mas passam de um corpo para outro após a morte, e acham que os homens, por meio desse princípio, são em grande parte estimulados à coragem, sendo desconsiderado o medo da morte. Da mesma forma, discutem e transmitem aos jovens muitas coisas sobre as estrelas e seu movimento, sobre a extensão do mundo e de nossa terra, sobre a natureza das coisas, sobre o poder e a majestade dos deuses imortais...


Júlio César também menciona que Dies Pater é o ancestral de todos os povos celtas e era considerado ativamente como tal. A palavra principal para “Deus” em galês é Duw (galês antigo: Diow), relacionada a Dio de Zeus, Día em irlandês, Deus em latim e possivelmente Dumn em romeno.

As genealogias começam com os pedigrees paterno e materno do rei Hywel Dda e se estendem até Beli Mawr, destacando sua importância na linhagem real de Gwynedd - particularmente o mais poderoso estado galês. Beli era conhecido por ser o pai ou o marido de Don, conhecido como Danu em irlandês. No Velho Norte (da Escócia à Cumbria), heróis como Urien Rheged, Gwenddolau e Llywarch Hen traçaram sua linhagem até Beli por meio do ancestral Coel Hen. A história dos monarcas britânicos de Geoffrey de Monmouth afirma que ele governou o trono por quarenta anos - o número mais sagrado de Zeus.




BELENOS E A SERPENTE
Essa figura ancestral é uma evolução do deus Belenos, um deus associado ao trovão, às serpentes e ao destino. Outro estudioso, Possidônio, diz que os celtas da Galácia organizavam todos os assuntos militares no Bosque Sagrado dos Carvalhos - o Drunemeton.

Várias referências à serpente ocorrem com essa figura no poema Kein Gyfedwch:
Kein Gyfedwch:
Ry yscrifyat
Virein ffo racdaw.
Ar lleg kaw
Mwyedic uein
Dreic amgyffreu.


Tradução:

Está escrito:
Uma donzela foge diante dele.
E o garanhão cinzento
É maior em força,
Uma serpente se enrola em torno dele.

Diz-se que Beli vigia com as qualidades de uma serpente “os locais dos recipientes para bebidas”, enquanto seu povo “bebe em chifres de ouro, chifres dourados na mão, uma mão na espuma”. Diz-se que ele governa uma ilha abençoada, dotada de chifres de ouro - uma referência simbólica à força vital e ao poder bruxo ativado.

Ele reside em “uma fortaleza poderosa” dentro da ilha e governa dois lagos - uma referência às funções duplas de Zeus como a expressão ativa da Verdade. Ele também é chamado de “Guardião dos Caminhos”.

Outro poema faz referência a suas qualidades:

“Como o efeito do remo na salmoura é o licor de Beli / Como um escudo de luz nas costas de uma sombra.”
Isso faz referência ao revigoramento da alma por meio dos poderes de Beli, com o escudo de luz representando conceitos semelhantes aos temas de Zeus na mitologia.

Outra mensagem enigmática ocorre no quadragésimo segundo verso do medieval Englynion y Clyweid (“Estrofes dos Ditados Sábios”), uma coleção de 72 ditos antigos de figuras ancestrais colocados em verso:

Englynion y Clyweid:

Você ouviu o que Beleu cantou?
Entre os pássaros brincando,
Toda longa noite termina em morte.

O simbolismo de Beli para Odin e outras figuras que passaram pela transformação da alma por meio da morte deve ser óbvio a partir dessa mensagem.

No texto inerente O Mabinogion e em outras obras, é dito que Beli foi totalmente expulso por Maxientius, que supostamente impôs o cristianismo com veemência na Grã-Bretanha - semelhante à expulsão da serpente por São Patrício na Irlanda. O processo de cristianização na Grã-Bretanha pós-romana foi extremamente completo e se estendeu até as partes mais remotas da sociedade.

Muitas elaborações galesas de poesia compartilham um simbolismo altamente enigmático; elas são claramente projetadas em torno da repetição de códigos e temas, refletindo a necessidade de sigilo. Isso está ligado ao fato conhecido de que a religião celta era transmitida oralmente e não era facilmente revelada. Em um diálogo, a irmã de Merlin, Gwenddydd, pergunta a ele quem poderia substituir o melhor dos governantes:

Livro Vermelho de Hergest:

Merlin
Ele será um governante bom e nobre,
Que conquistará a terra
E trará alegria a todos.

Gwenddydd
Peço ao meu profundo irmão,
A quem tenho nutrido com ternura
Quem será o soberano então?

Merlin
Que haja um grito no vale!
Beli Mawr e seus guerreiros do redemoinho,
Abençoados pelos britânicos, ai de Gynt.

Outra faceta é a conexão com o grande herói Alexandre, o Grande. Os celtas tinham grande consciência de sua imagem. Vários poemas de Taliesin e outros são dedicados à sua memória, inclusive um que faz referência ao seu alinhamento com o senhor do céu. As tribos do sul da Grã-Bretanha e da Gália usavam moedas com sua imagem, colocadas com chifres de carneiro, em quase todas as moedas existentes.

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Moeda dos gauleses Sequani
Havia também um aspecto solar de Belenos, chamado Apollo Belenus, que era adorado prolificamente na Gália romana e em partes da Itália anteriormente habitadas pelos celtas. Essa entidade representava os poderes do ser que conhecemos como Amon Ra, em vez de Zeus.

Parece haver muitas semelhanças visuais entre as representações fenícias de Baal e as variações celtas, muitas vezes colocadas com machados e martelos. Em muitas fontes, incluindo a poesia galesa, as referências a Tiro e Cartago são proeminentes. Sabe-se também que o culto a Júpiter Dolichenus havia se espalhado por toda a Grã-Bretanha na época dos romanos.


BELTANE
Beltane é um dos quatro principais festivais de fogo do antigo calendário celta, celebrado principalmente na Escócia, Irlanda e País de Gales. Marcando a transição entre a primavera e o verão, Beltane foi historicamente associado à fertilidade, à proteção e à renovação da vida. Embora Beltane seja mencionado em manuais irlandeses, os galeses chamavam esse festival de Cyntefin, que significa “início do verão”.

O solstício era um festival essencial na Grã-Bretanha pré-cristã. Ele significava o ciclo agrícola, o movimento do gado e os rituais comunitários destinados a garantir a prosperidade. Ele também marcava o fim da primavera, inaugurada por Zeus.

De acordo com o historiador irlandês do século XVII, Geoffrey Keating, cada Beltane na colina de Uisneach, na Irlanda medieval, incluía celebrações em que um sacrifício de comida era feito a um deus chamado Beil. Escavações posteriores do local corroboraram suas afirmações. Por muitos anos, essa afirmação foi equiparada ao Baal da Bíblia, demonstrando um certo entendimento subconsciente.

Desde os tempos antigos, sabia-se que os druidas acendiam fogueiras e chamas de sacrifício em grupos de nove homens - uma tradição que continuou até a década de 1830 em algumas partes do País de Gales, da Cornualha e da Bretanha. O primeiro mastro registrado, de 1300, por Gruffudd ab Adda ap Dafydd, é uma descrição conhecida desse tipo de celebração. Na época de Geoffrey Chaucer, no final do século, parece que ela já estava presente ou havia se espalhado por áreas da Inglaterra.




TARANIS
Taranis (do gaulês taran, “trovão”) era adorado na Gália, na Hispânia e na Renânia como um deus do trovão e das tempestades. Escritores romanos (como o poeta Lucano, no século I d.C.) listam Taranis ao lado de Teutates e Esus como as principais divindades dos gauleses. Taranis foi explicitamente identificado com Júpiter pelos romanos. Na interpretação Romana, eles viam o deus do trovão celta como essencialmente o Júpiter local.

De fato, muitos santuários celtas para Júpiter (Jupiter Optimus Maximus) na Gália Romana mostram a assimilação dos símbolos de Taranis - principalmente a roda e o raio. Esculturas e altares retratam um deus segurando uma roda em uma mão e um raio na outra, mesclando a iconografia celta e romana. A roda, um símbolo solar celta comum (talvez representando o curso do sol ou a roda do céu), foi associada a Taranis como um sinal do céu e do tempo cíclico.

As colunas de Júpiter erguidas na Gália romanizada geralmente retratam Júpiter a cavalo, segurando um raio e pisoteando uma serpente ou um gigante, com uma roda celestial à mostra. Essa é uma imagem sincrética: Júpiter em pose heroica combinado com a roda de Taranis.


BIBLIOGRAFIA
Histórias, Poseidonius

De Bello Gallico, Júlio César

Livro de Taliesin

Mabinogion

Livro Vermelho de Hergest

The History of Ireland (A história da Irlanda), Geoffrey Keating

A religião dos antigos celtas, J.A. MacCulloch

CRÉDITOS:
Karnonnos [TG]
 
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NOMES DE ZEUS: HAMMON​


Baal Hammon era a principal divindade do panteão de Cartago, considerado um senhor supremo e protetor da comunidade. Ele era um deus do clima e da vegetação, considerado o responsável por tornar a terra fértil e por “reinar como rei dos deuses” na crença cartaginesa. Os observadores clássicos identificaram Baal Hammon com Cronos (e mais tarde com Saturno romano) devido ao seu simbolismo, primazia e caráter paternal, mas parte disso se baseou em um mal-entendido enraizado na solenidade de suas imagens. Na vida religiosa cotidiana, Baal Hammon era homenageado por meio de uma grande variedade de rituais, orações, dedicatórias e festivais.


DEUS SUPREMO​


Cartago era uma cidade e um império sindical do norte da África, mas seus fundadores eram fenícios das costas modernas da Síria, Palestina e Líbano. Os ancestrais dos cartagineses eram da cidade de Tiro. Por isso, os cartagineses tinham deuses fenícios, como Baal Hammon, como parte central de sua adoração. Sanchuniathon, um escritor fenício, afirma que os gregos eram os ancestrais dos fenícios.

Os fenícios sempre foram governados por dois líderes chamados juízes ou shofets, que vinculavam seu governo à aprovação de Hammon. Isso parece estar relacionado ao simbolismo dualista e cosmológico de Zeus. Os gregos, apesar de não gostarem de outras coisas, aclamaram Cartago como tendo a forma mais digna de governo.

Ele era amplamente adorado no oeste da Sicília e no sul da Ibéria, os postos avançados do império. O próprio nome da cidade de Carmona, na Espanha, deriva de Kar-Hammon, que significa “Cidade de Hammon”. Também há evidências da devoção púnica a Baal Hammon em costas distantes. Fórmulas padrão louvando-o aparecem em inscrições encontradas em Malta, Chipre e até mesmo em Atenas e Rodes, deixadas por viajantes ou colonos fenícios. Baal Hammon era venerado em todo o Mediterrâneo ocidental como o deus supremo de Cartago.


PROTETOR DA FAMÍLIA​


Em Cartago, ele era reverenciado como uma divindade patriarcal que supervisionava o bem-estar do estado e da família. O arqueólogo Serge Lancel descreve Baal Hammon como a “divindade paterna, o protetor do governo, mas também o garantidor da questão e da durabilidade das famílias”. Nessa função, ele personificava a estabilidade e a continuidade da sociedade cartaginesa. Ele também era associado ao ciclo da vida e da morte. A tradição púnica posterior sugere que ele pode ter funcionado como um psicopompo, guiando as almas para a vida após a morte, embora as evidências desse papel escatológico sejam limitadas.

Aos olhos cartagineses, Baal Hammon continuou sendo uma divindade exclusivamente púnica. Ele era um pai severo, mas benéfico, que fazia as chuvas caírem e os pomares darem frutos.

Com a destruição total de Cartago por Roma no final da Terceira Guerra Púnica, seria de se esperar que o culto cessasse. Entretanto, a continuidade da imagem de Baal Hammon sob Roma é evidenciada por representações de Júpiter e Saturno púnicos em mosaicos e relevos. Ele é frequentemente mostrado com duas cornucópias (chifres da abundância) ou uma foice, mesclando o aspecto de fertilidade de Baal Hammon com os chifres de Zeus Amon e o simbolismo da colheita de Saturno.

Na adoração particular, os cartagineses podem ter usado pequenos santuários ou ídolos domésticos. Uma família poderia manter uma estatueta ou placa pintada de Baal Hammon em casa, acendendo lâmpadas a óleo ou incenso diante dele em noites especiais. A diáspora púnica na Ibéria e na Sicília às vezes criava placas mostrando uma divindade masculina recebendo oferendas, possivelmente refletindo a piedade doméstica em relação a Baal Hammon.

Mesmo séculos após a queda de Cartago, os camponeses do norte da África sob o domínio romano continuaram a venerar Baal na prática popular. Agostinho lamenta que os camponeses recém-convertidos ainda ofereciam bolos e festas a Saturno da maneira antiga, indicando a resistência do culto a Baal Hammon na forma sincrética.


SALAMMBÔ​


O centro de adoração de Baal Hammon ficava na própria Cartago, onde ele tinha um recinto sagrado ao ar livre, mais tarde conhecido como Tophet de Salammbô. De acordo com as evidências arqueológicas, esse recinto era originalmente dedicado apenas a Baal Hammon - somente a partir do século VI a.C. é que passou a ser dedicado conjuntamente a “Baal Hammon e Tanit”, à medida que o culto a Tanit crescia.

O santuário era essencialmente um bosque ou pátio sagrado sob o céu, repleto de altares e estelas de pedra erguidas pelos adoradores. Aqui ficava o altar de incenso (ou “braseiro”) de Baal Hammon, refletindo um de seus epítetos como “senhor dos altares de incenso”. Pode ter existido um pequeno templo ou capela no local, mas a adoração ocorria em grande parte ao ar livre. Ao longo dos séculos, milhares de dedicações foram feitas nesse recinto, criando um campo lotado de estelas que marcavam as orações e ofertas ao deus.

A principal festa de Baal ocorria em junho, sendo um evento mais solene do que a inversão de papéis da Cronia, no verão, ou da Saturnália, em dezembro.


ALEGAÇÕES DE SACRIFÍCIO​


Hammon foi associado ao terrível sacrifício de crianças por até uma dúzia de fontes, envolvendo histórias da nobreza cartaginesa sacrificando seus filhos a uma estátua de bronze de Hammon, que abria a boca, empurrando bebês ou crianças mais velhas para uma grande fornalha.

Cerca de 20.000 urnas contendo restos mortais de crianças foram encontradas em Cartago. Os estudiosos observam que as inscrições próximas às urnas indicam que “uma bênção ou presente” foi dado à divindade, o que os orienta claramente para essa interpretação. No entanto, apesar das manchetes de equipes de estudiosos não forenses, as evidências arqueológicas encontradas nos chamados Tophets - quando examinadas por patologistas forenses - são irregulares e contraditórias.

A maior parte dos ossos encontrados em urnas é de bebês com cerca de um mês de idade, em contraste com as alegações em fontes clássicas de que crianças mais velhas eram sacrificadas e se ofereciam voluntariamente. Todos os ossos mostram evidências de terem sido queimados de maneira idêntica a uma pira funerária aberta com um nível de calor bastante baixo. Outro problema é que não há como datar o período de origem dos próprios ossos. Também existem ossos de adultos, embora em quantidades muito pequenas.

Acreditamos que, se essa prática abominável existiu, foi um costume antigo da Idade do Bronze viciosa - possivelmente ligado ao contato com o inimigo - que os fenícios já haviam ultrapassado na época das Guerras Púnicas.

Apesar das “alegações” da Bíblia em relação a Baal Zebul, Baal Hadad e “Moloch”, nunca foi encontrada nenhuma evidência de sacrifício na Fenícia ou no coração púnico (o atual Levante), o que torna a palavra “Tophet” altamente questionável para ser usada em referência a Cartago. Não há nenhum local existente de qualquer tipo que possa ser correlacionado com o sacrifício, e nenhum achado de urnas semelhantes às de Cartago foi descoberto em qualquer quantidade que sugira uma prática generalizada.

O escritor romano Quintus Curtius faz referência a esse fato quando diz que, na época do perigoso cerco de Alexandre, o Grande, a Tiro (uma cidade púnica da Fenícia, 200 anos antes da destruição de Cartago), os tírios foram pressionados a recriar a prática de sacrificar um menino a Baal Hammon - “feita há muitos e muitos séculos” - que os anciãos espirituais de Tiro, naquela época, consideravam uma abominação aos deuses e recusaram.


JEBEL BOUKORNINE​


A montanha sagrada de Hammon era uma montanha de pico duplo localizada a 27 km fora dos limites da Cartago clássica, agora chamada Jebel Boukornine (“A de Dois Chifres”). Acreditava-se que ela fazia referência ao seu título de Baal Qarnaim, Baal dos Dois Chifres. Esse nome se deve aos dois pontos mais altos, com altitudes de 576 e 493 metros, que constituem seu cume.

Dizem que os pinheiros de Aleppo e os cedros crescem aqui em abundância.


SIMBOLISMO DE HAMMON​


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Acima está uma estela de calcário púnico de Cirta, na Numídia, dedicada a Baal Hammon e Tanit. A escultura superior mostra um crescente e um disco solar representando um olho que se abre - o emblema de Baal Hammon - incrustado na empena. Abaixo está o símbolo de Tanit: um triângulo ou corpo de chifres de vaca. Outra forma de interpretar esse símbolo é como braços estendidos e uma cabeça circular com uma auréola. Ele é ladeado por uma mão direita levantada e um símbolo de caduceu.

O topo da estela de calcário representa um pico ou montanha - símbolo da consciência avançada.

A mão significa a presença do avanço e o caduceu simboliza a união da alma. A inscrição da estela registra o voto de um homem chamado Hanno a Tanit e Baal Hammon. A iconografia reflete a maneira altamente simbólica, muitas vezes anicônica, com que os cartagineses expressavam sua devoção.

Acredita-se que o motivo da mão levantada, visto em muitas estelas (geralmente uma palma com os dedos estendidos), represente a mão da Deidade em bênção ou o gesto do adorador em oração. Algumas inscrições até advertem que Baal Hammon ou Tanit punirá os ladrões. Um símbolo de mão nessas estelas pode ser um sinal da “mão” punitiva de Deus estendendo-se. Além disso, pode haver uma sincronia do complexo simbolismo da mão entre Hammon e Sabazios. Até hoje, os povos do norte da África, os mediterrâneos e os árabes continuam a usar o simbolismo do mau-olhado.

O caduceu (um bastão com serpentes entrelaçadas) também aparece, possivelmente como um símbolo geral do poder divino ou um marcador da classe sacerdotal. A arte fenícia também usava o caduceu como símbolo de cura ou bênçãos, portanto, sua ocorrência com Baal Hammon poderia implicar a capacidade do deus de afastar o mal e as doenças. Há também rosetas, estrelas e flores de lótus esculpidas em estelas.

Elas podem ser decorativas, mas provavelmente também têm um significado - a roseta como símbolo solar ou estrela para a eternidade, o lótus como símbolo de renascimento ou do cosmos. Em alguns contextos votivos, cobras e leões aparecem em relevo (as cobras talvez como guardiãs dos recintos sagrados; os leões como símbolos de Tanit). Notavelmente, nenhuma representação figurativa do próprio Baal Hammon (por exemplo, uma imagem esculpida de corpo inteiro) é encontrada nas estelas votivas típicas; em vez disso, sua presença é indicada pelos sinais descritos. Isso se alinha com a preferência fenícia de usar símbolos e deixar a imaginação invocar a divindade.


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Um Baal Hammon antropomórfico também está fortemente documentado, como nesse queimador de incenso. Essas representações - com os atributos barbudos de Zeus e os chifres do carneiro - o equiparam diretamente a Zeus Ammonas.


ZEUS AMMONAS​


Há uma ligação de longa data entre Baal Hammon e o Oráculo de Siwa, discutida no artigo de Amon. O agitador judeu Philo, de Alexandria, no Egito, simplesmente chama Baal Hammon de “Amon”, sem fazer nenhuma tentativa de distinção.

Os líbios, em particular, associavam-se às duas “formas” dessa divindade. Animais como carneiros eram vistos como os animais sagrados do deus - sendo o carneiro um de seus símbolos. Nas refeições, os sacerdotes queimavam partes da carne e da gordura, enquanto o restante podia ser compartilhado em uma refeição sagrada entre sacerdotes e ofertantes. Esses banquetes reforçavam os laços comunitários: os participantes acreditavam que estavam jantando sob o olhar de Baal.

BIBLIOGRAFIA​

Corpus Inscriptionum Semiticarum, Comissão do Corpus Inscriptionum Semiticarum

Sobre a Superstição, Plutarco

Cartago, Serge Lancel

The Throne of ʿAshtart Inscription, James D. R. Zuckermann

Thesaurus of Phoenician Inscriptions (Tesauro de inscrições fenícias), Nahoum Sloucscz

CRÉDITOS:​


Karnonnos [TG]
 

NOMES DE ZEUS: AMUN​


Amon é o Deus dos Deuses no panteão egípcio. Mas também era conhecido como o mistério supremo — o poder oculto do reino e de todo o universo. O corpus da antiga civilização egípcia contém muitos textos sobre ele que são vagos e difíceis de interpretar, quando comparados com os textos sobre Zeus ou Júpiter, mas que enfatizam de forma esmagadora a sua majestade e primazia.

O seu sacerdócio estava situado em Tebas, uma das cidades mais importantes do Egipto. O sumo-sacerdote de Amon detinha a mais alta autoridade religiosa do Estado e era o segundo em importância, apenas atrás do próprio Faraó.

Na época de Píndaro, Amon tinha recebido caraterísticas helenísticas e ficou conhecido como Zeus Amon. Alexandre, o Grande, inaugurou e estabeleceu formalmente este culto específico de Amon entre o povo egípcio, que o acolheu como um libertador do domínio persa.

Heródoto ilustra que isto não era segredo:

Livro 2.42, Histories, Heródoto
“Os egípcios chamam Amon ao seu Deus supremo, que os gregos identificam com Zeus. Pois é sua crença que ele é o governante de tudo e o pai dos Deuses e homens.”


AMON, REGENTE DOS DEUSES​


Amon ocupa a posição máxima e suprema no panteão egípcio.

Ao longo da história, muitos interpretaram erradamente o panteão egípcio como uma forma de politeísmo igualitário, em que todos os deuses são considerados “iguais” — uma noção contrariada pelos textos. Outros, no extremo oposto, sugeriram um monoteísmo rígido centrado em Amon. Esta perspetiva, defendida por estudiosos como Emmanuel de Rougé e outros egiptólogos desde a era vitoriana, tem influenciado as interpretações modernas. Além disso, certos acontecimentos históricos negativos, como o governo de Akhenaton e outros falsificadores moldaram ainda mais estas percepções.

O Sumo Sacerdote Hooded Cobra explica o significado desta dualidade — algo que os iniciados egípcios compreendiam perfeitamente entre si. A adoração primária de Amon e Atum era o ponto central da religião egípcia, pois Amon era o Faraó dos Deuses. Um dos seus títulos nos Textos do Caixão, Amon, Senhor dos Tronos das Duas Terras, faz referência à sua divisão de poder.

Um aspeto fundamental do seu simbolismo divino é a sua natureza paternal, que se estende mesmo a outros Deuses. O Hino do Cairo, por exemplo, afirma a primazia de Amon como o Pai dos Deuses — o Pai Supremo:

Hino do Cairo
Pai dos pais de todos os Deuses...”

Em consonância com os seus atributos criativos, Amon era considerado o mais superno e mais elevado de todos os Deuses. Ele é repetidamente descrito como tendo trazido o mundo à existência através das lágrimas e do suor dos seus olhos, contrastando com o estado anterior de cegueira e vazio.

Como consequência desta afirmação, foi equiparado à Unidade do universo e ao outro misterioso Deus Criador, Atum. Os hinos egípcios a Amon também fazem referência à sua primazia como governante de todas as coisas:

Papiro de Boulaq (XVIII Dinastia)

O único criador de todas as coisas,
Criador e Criador dos seres,
De cujos olhos procedeu a humanidade,
De cuja boca foram criados os Deuses.


O DEUS OCULTO​


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“Ó Tu, o Grande Deus, cujo nome é desconhecido.”​

A inscrição do faraó Unas revela muito sobre Amon e seu misterioso papel. Outro título que lhe é atribuído é “Aquele cujo nome está oculto”, uma frase que se encontra frequentemente nos Textos do Caixão.
  • CT 132 / II 154: Sentei-me de costas para Geb, pois sou aquele que julgará em companhia d’Aquele cujo nome está oculto...
  • TC 147 / II 207: Julgarei com aquele cujo nome está oculto...
  • CT 148 / II 220: ...porque chegaste ao horizonte, tendo passado pelo recinto daquele cujo nome está oculto.
  • CT 148 / II 221: Ó Falcão, meu filho Hórus, habita nesta terra de teu pai Osíris, neste teu nome de Falcão que está no recinto d’Aquele cujo nome está oculto.
  • CT 148 / II 223: Vede Hórus, ó Deuses, eu sou Hórus, o Falcão, que está no recinto d’Aquele cujo nome está oculto.
  • CT 682 / VI 310: Ele voou e voou como aquele Grande Falcão que está no recinto d’Aquele cujo nome está oculto, que toma o que pertence àqueles que estão mais além, para Aquele que separou o céu da terra e do Nun.
Ao contrário de outros Deuses ligados a fenómenos visíveis (o sol, o céu, o Nilo, etc.), Amon era inerentemente transcendente e sem forma, representando o ar invisível ou o vento criador. Desde cedo, foi mesmo considerado um Deus ligado ao ar — invisível mas que sustenta a vida.


REI DOS REIS​


O papel central de Amon no Estado egípcio era presidir ao Faraó e à nação, actuando como seu patrono e benfeitor divino em todas as circunstâncias. O seu nome era particularmente invocado durante as coroações e o estabelecimento de um novo governo, simbolizando o seu sopro de vida no reinado do governante. Numerosos registos sublinham também a sua ligação aos grandes feitos do faraó, como é o caso do faraó Hatshepsut:

Conceptions of God in Ancient Egypt: The One and the Many – Erik Hornung
Caraterístico desses casos excepcionais é um texto que atribui à rainha [sic] Hatshepsut a qualidade ntrj “divinesa”.

No regresso da grande expedição comercial que Hatshepsut enviou à longínqua terra do incenso africana, Punt, os seus súbditos reunidos adoraram e aclamaram a rainha “nas instâncias (zpw) da sua divindade” e “por causa da grandeza da maravilha que lhe aconteceu” (Urk. IV, 340, 5-6).

Não se tratava de um acontecimento ou de uma ação ordinária da rainha, mas de um momento solene e exaltado em que a sua natureza divina se manifestava ao mundo inteiro. Era o momento em que a sua promessa ao rei dos Deuses, Amon, de transformar o templo do seu terraço numa terra de incenso no Egipto, estava prestes a ser cumprida. A rainha reinante revelou a sua essência divina através do aroma sagrado e do brilho dourado que emanava dos próprios Deuses.

Faraós citavam frequentemente Amon para os ajudar a atingir os seus objectivos e agir como seu salvador. A manutenção bem sucedida de campanhas militares demonstrava a sua vontade de manter uma relação com o Guardião do Egipto. Um exemplo de uma das inscrições de Qadesh, atribuída a Ramsés II, ilustra a forma como Amon era considerado pelos governantes do Egipto:

Pilone de Ramesses II, em Luxor
Rezo desde os confins das terras estrangeiras,
e a minha voz ressoa em Tebas.
Quando lhe gritei, vi que Amon tinha chegado.
Ele deu-me a sua mão e eu rejubilei.

De facto, Amon determinava quem devia ser Faraó e quem devia continuar a sê-lo. A legitimidade do faraó — e, portanto, o destino do Egito — dependia do seu aval divino.

Os faraós também celebravam o festival Heb-Sed para renovar o seu poder real. Os textos e os relevos destes festivais representam frequentemente a afirmação do governante de que Amon aprovava pessoalmente o seu reinado.


SACERDÓCIO DE TEBAS​


O sacerdócio tebano era o mais importante no Egipto, uma vezque Tebas (Waset, Luxor moderna) era o centro religioso do reino. Os indivíduos mais elevados e sagrados serviam entre suas fileiras. Um testemunho de sua autoridade é o facto de que os Sumo Sacerdotes de Tebas intervieram várias vezes para assumir a governança total do país quando enfrentava grave perigo.

Amon era adorado como o patrono da grande cidade, ao lado de Mut (a deusa da feitiçaria) e Khonsu (o deus da criação e da Lua). O maior e mais grandioso Templo de Amon estava localizado em Karnak, um distrito de Tebas.

Apesar do nome, não é um único templo, mas um vasto complexo de templos, capelas, postes e obeliscos. Como se para enfatizar a primazia deste Deus em todo o universo, continua a ser a maior estrutura religiosa já construída, cobrindo uma área de mais de 200 acres (810.000 m²). Imponente e imensa em escala, Karnak tornou-se o principal centro religioso do Egipto, ao lado de Memphis e Abydos. O Festival Opet anual foi comemorado aqui, durante o qual a estátua de Amon foi desfilada para o Templo Waset.

Grande parte do planejamento original e design do templo foram realizados pelo faraó Hatshepsut, que foi prolífico na construção de monumentos para Amon. No entanto, o Hypostyle Hall, uma estrutura maciça com 134 colunas imponentes, a maior de 21 metros (69 pés) de altura, foi finalmente concluída pelo Faraó Ramsés II séculos depois.

O complexo inclui vários santuários dedicados a vários Deuses, como a Tríade de Khonsu e Mut, mas o mais importante é o Grande Templo de Amon. Grande parte do templo também é dedicado a Amon-Rá, que tem sido uma fonte de confusão para os historiadores.

A adoração diária do templo de Amon em Karnak incluía rituais de manhã, meio-dia e noite envolvendo incenso, libações e recitações de hinos por sacerdotes em nome do rei. Através destas práticas, desde os grandes festivais aos ritos diários, Amon era venerado como um Deus majestoso mas misterioso — um cuja presença podia abençoar a terra, afirmar reis, cuidar de plebeus e até mesmo fornecer orientação quando devidamente invocado.

No Baixo Egipto, o culto de Amon se espalhou rapidamente durante o Novo Reino. Os faraós construíram templos de Amon em Memphis, na nova capital Pi-Ramesses, e um importante santuário em Tanis, no Delta. Após a heresia de Akhenaton, o culto de Amon se expandiu ainda mais.

O culto a Amon também se estendeu amplamente até a Núbia. Governantes egípcios construíram ou expandiram templos para Amon em regiões da Núbia, como Napata/Jebel Barkal, e Amon tornou-se o principal Deus dos reinos da Núbia também. As dinastias núbias do Egipto exaltaram Amon e Atum juntos. A influência desses dois Deuses pode ser profundamente sentida em toda a África.

Esses templos não eram apenas centros religiosos, mas também centros econômicos, dotados de vastas propriedades de terra e uma grande força de trabalho.


ESPOSA DIVINA DE AMON​


Além do clero masculino, uma instituição única no culto de Amon era a “Esposa Divina de Amon,” um título dado a mulheres reais atuando como Sumo Sacerdotisas. A prática existia antes, mas o Faraó Ahmose I (c. 1530 AC) elevou sua esposa, Ahmose-Nefertari, a essa posição, tornando-a de grande prestígio e influência política. A sacerdotisa personificava Amonet, a consorte feminina de Amon, ou Mut, a membro feminina da Tríade Tebana.

Em períodos posteriores (especialmente o Terceiro Período Intermediário), este escritório foi usado para consolidar o poder. A filha governante de Faraó-Lucas se tornaria Esposa Divina de Amun em Tebas, efetivamente controlar o sacerdócio de Amon e a propriedade do templo.


FESTIVAIS DO CRIADOR​


A adoração de Amon incluiu grandes festivais públicos que foram destaques do calendário religioso, especialmente em Tebas. O mais importante foi a Festa de Opet, um festival anual para rejuvenescer o poder faraônico. Durante Opet, a barca santuário portátil de Amon, um santuário em forma de barco dourado carregando uma estátua de Amon, era levado em procissão do Templo de Karnak ao Templo de Luxor.

Em meio a grande cerimônia, a imagem de Amon visitava Luxor para se unir com o aspecto de Amun em Luxor (às vezes ligado a Amun-Min para fertilidade) e reafirmar ritualmente a legitimidade divina do rei. Opet durava muitos dias, com procissões, oferendas, oráculos e celebrações envolvendo sacerdotes e o público.

Outra grande celebração de Tebas foi o Belo Festival do Vale, que homenageava os mortos. Neste festival, a barca de Amon, juntamente com as de Mut e Khonsu, era transportada através do Nilo de Karnak para a margem ocidental para que o Deus pudesse visitar os templos mortuários e necrópoles, unindo-se simbolicamente com almas falecidas.

Esses festivais permitiam que os egípcios comuns vissem e adorassem o Deus tipicamente oculto, já que suas imagens eram levadas para fora do templo, promovendo a devoção popular.


DIVINDADE DO DESTINO E DAS PESSOAS​


Amon era associado com o destino. Este aspecto do Grande Deus retratou-o como alguém que “ouve as petições daqueles que o chamam”. Simbolicamente, ele era considerado um defensor e patrono dos inocentes e oprimidos. Muitos procuraram sua adoração ou oráculos para transformar suas circunstâncias.

Pessoas comuns se voltaram para Amon com apelos pessoais, refletindo um crescente senso de piedade pessoal. Amon era considerado como uma divindade compassiva que ouve as orações dos humildes. O Novo Reino e os hinos posteriores chamam-no de “ministro dos humildes” e “aquele que vem à voz dos pobres”, retratando-o como um campeão dos desprivilegiados que intercedia em nome dos adoradores comuns.

Este aspecto de Amon como um Deus pessoal e ético sugere uma amplitude teológica em seu papel além do estado e do Faraó, tornando-o acessível a todos os níveis da sociedade.

Textos antigos enfatizam repetidamente que Amon ordena tudo o que é, será e foi. Seus representantes, como Seshat, codificam esses conceitos em realidade. O título “Senhor de Ma’at” é constantemente aplicado a ele como o sustentador de todas as circunstâncias universais, ao lado de Atum. Referências a ele como “a causa absoluta” demonstram ainda como os egípcios viam seu papel na ordem cósmica.

De acordo com essa crença, a mãe de Faraó era frequentemente descrita como sendo visitada por Amon antes da gravidez, reforçando para o povo egípcio que seu governo era predestinado.


DEUS DO VENTO E CLIMA​


Amon, muito parecido com Zeus, representava os ventos, tempestades e clima tempestuoso. Suas intervenções eram muitas vezes marcadas por tempestades e tormentas. Acreditava-se que a saúde frágil da civilização dependente do Nilo estava nas mãos do cabeça dos Deuses.

Junto com seu representante Shu e outros Deuses, Amon governava os céus e era considerado como uma força ativa nos padrões climáticos.


ICONOGRAFIA DE AMON​

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Na maioria das representações após o período herético Amarna, Amon é representado com pele azul. Um significado disso é demonstrar a primazia de Amon residindo e governando todas as facetas do cosmos, assim como o céu cobre a terra. O tom específico de azul, em oposição a outras cores, como verde ou preto, que também são por vezes associados com o Deus, relaciona-se com níveis espirituais específicos, todos os quais Amon dominou em sua totalidade. Azul como uma cor também está ligado a Zeus, com seu globo e manto, entre outras coisas.

Amon normalmente usa um cocar muito alto de duas penas de falcão, conhecido como shuti. As duas penas, ao lado da tiara dourada, representam o poder real tradicional no Egipto e servem para enfatizar o facto de que ele é o Rei dos Deuses, Daemons e Homens.

Implícito dentro do simbolismo da coroa está outro código relacionado aos elementos do universo. As duas penas representam os elementos totalmente separados de fogo e água, enquanto a tiara de ouro representa a terra, magnetizando os dois para fora do centro. A faixa de linho vermelho que se estende das costas (o sheshed ou flâmula) representa o ar, que está conectado ao resto, mas flui para fora de forma independente.

A coroa é significativamente alta para demonstrar que o poder de Amon atinge inteiramente o firmamento do éter, além da capacidade dos outros Deuses. O simbolismo das penas duplas também significa que ele expressa o reino interno de Satya, a Verdade, em existência ativa.

Amon também carrega o cetro, tipicamente associado com Set. Ele governa sobre os seres humanos inertes e espiritualmente deficientes, bem como os iniciados espiritualmente ativados, mas todos os que passam pela iniciação e todos os praticantes de magia devem passar por ele independentemente. O cetro serve como um símbolo visual de dedicação a ele. Os malfeitores e aqueles que falsamente afirmam representar os Deuses de maneiras malévolas são destruídos por seu poder.

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Imagens semelhantes ao Carneiro foram assimiladas a Amon desde um estágio muito inicial no Egipto. Esfinges adornadas com a cabeça de um carneiro macho ou uma cabeça humana com chifres foram criadas para transmitir verdades significativas sobre o Deus dos Deuses. Semelhante a Khnum, os chifres de carneiro de Amon simbolizam as origens de toda a vida, mas no seu caso, eles também representam o desvendar e a expansão da própria existência, além da vida biológica.

Neste contexto, a postura protetora e sábia do carneiro sobre o Faraó Amenhotep III demonstra a capacidade ardente do Deus dos Deuses de proteger qualquer Rei-Deus sob sua tutela. Seu imenso tamanho e força aterrorizante eclipsam até mesmo o majestoso governante do Egipto. Nesta representação, o poderoso carneiro exorta o faraó a agir como o dispositor da vida e da civilização, para manter as leis, e para sempre apoiar a defesa ativa do reino. Esta estátua foi encontrada em Karnak, um distrito de Tebas.

In this context, the protective and wise stance of the ram over Pharaoh Amenhotep III demonstrates the fierce ability of the God of Gods to protect any God-King under his patronage. His immense size and terrifying force eclipse even the majestic ruler of Egypt. In this representation, the powerful ram exhorts the Pharaoh to act as the dispositor of life and civilization, to maintain the laws, and to always uphold the active defense of the realm. This statue was found in Karnak, a district of Thebes.

Uma nota importante é que o nome e o simbolismo visual de Amon têm sido frequentemente mal utilizados e, nos tempos modernos, confundidos com Amon Rá, um Deus diferente cujo nome foi posteriormente incluído na Goétia como “Amon”, levando a mais confusão. Com Amon Rá, esses símbolos assumem significados distintos.

Amon também tomava outras formas: um ganso (que recebeu o epíteto “Grande Cacarejador”, ligando-o ao ovo cósmico primordial), uma serpente (simbolizando a renovação através de sua troca de pele) e até mesmo um macaco ou crocodilo em certas interpretações locais.

Esses diversos animais e formas sagradas enfatizam a natureza abrangente de Amon. No entanto, em todas as suas manifestações, Amon permaneceu escondido em essência. Por exemplo, em Karnak, sua imagem de culto era tipicamente mantida velada e secreta. Essa invisibilidade, combinada com seu poder criativo, fez de Amon um Deus de profundo significado teológico, representando a força divina invisível por trás de toda a existência.


ZEUS AMMONAS​


Zeus Amon, também conhecido como Zeus Ammon ou Zeus Ammonas, começou a aparecer quando os estados gregos cultivaram contato com o Egipto. Embora muitas vezes associada com o período grego do Egipto, esta representação é muito antiga e aparece nas obras de Píndaro, especificamente em referência à colônia de Cirene:

Odes Pítias 4.16, Píndaro:
“E estabelecendo aquela cidade junto à fonte de Apolo e à terra fértil de Zeus Amon...”
Waset em si também foi chamado “Diospolis”, ou a Cidade de Zeus, ao lado de seu nome mais típico, Tebas.

Normalmente, essa personificação de Zeus é adornada com os chifres do carneiro. Ele era adorado principalmente em Cirene, uma região da Líbia moderna, que na época tinha uma população de colonos gregos. A adoração de Zeus Amon estava diretamente ligada aos aspectos de Amon lidando com o destino em particular.

O culto de Amon também apresentava oráculos e práticas processionais ou de peregrinação. No Novo Reino, o oráculo de Amon era frequentemente consultado sobre questões importantes de estado e justiça. A estátua de Amon pode misteriosamente indicar “sim” ou “não” através de movimentos, provavelmente controlados por sacerdotes durante as procissões, entregando assim o julgamento de Deus.

O Oásis em Siwa foi um dos oráculos mais famosos do mundo clássico e um importante centro para a adoração de Amon, ao lado de seu sacerdócio em Tebas. Sua reputação de precisão era tão grande que Alexandre, o Grande, procurou sua orientação o mais rápido possível:

Vida de Alexandre, Plutarco:
“O sacerdote dirigiu-se a Alexandre à maneira de um deus e, como alguns dizem, cumprimentou-o como ‘Filho de Zeus.’ ... Ele perguntou se algum dos assassinos de seu pai havia escapado dele, e o sacerdote respondeu que ele não deveria falar blasfêmias, pois seu pai não era mortal.”
Tanto Alexandre quanto a dinastia grega dos Ptolomeus, que governaram o Egipto depois dele, representaram-se com os chifres do carneiro, significando sua descendência divina de Zeus.

Alguns indivíduos gregos e romanos na Antiguidade não entendiam completamente os aspectos animalescos de Zeus como retratados na tradição Egípcia. Esta questão é tocada por Lucian, onde a personificação da Culpa (“Momos” em grego) zomba de Zeus, apenas para o Grande Deus refutá-lo:

Deorum Concilium, Lucian:
Momos:
Momos: “E você, Zeus, como você pode suportá-lo quando eles transplantam chifres de carneiro em vós?”
Zeus: “Essas coisas que observas sobre os egípcios são realmente chocantes. Mesmo assim, Momos, a maior parte deles tem um significado místico, e não é de todo certo rir deles, só porque tu não és uma dos iniciados.”
O culto Amon de Zeus foi mais comumente seguido pelos líbios, mesmo além das colônias gregas. Eles muitas vezes sintetizaram esse aspecto egípcio com Baal Hammon de Cartago.

BIBLIOGRAFIA
Pythian Odes, Pindar​
Histories, Herodotus​
Life of Alexander, Plutarch​
Deorum Concilium, Lucian​
Egyptian Solar Religion in the New Kingdom: Re, Amun and the Crisis of Polytheism, Jan Assmann​
Amun, World History Encyclopedia, Joshua J. Mark​
Amun and Amen-Re, The Encyclopedia of Religion, C. J. Bleeker​

CRÉDITOS:
Karnonnos [Guardião Templar]​
 
NOMES DE ZEUS : THOR

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Thor é geralmente mais lembrado como um dos deuses mais proeminentes da era nórdica viking - o poderoso portador do martelo Mjölnir e aquele que estava destinado a lutar contra a serpente do mundo Jormungandr durante o fim dos tempos de Ragnarök. No entanto, Thor não era adorado apenas na Escandinávia da era viking, mas também na Alemanha antiga, antes e durante a ocupação romana, com adoração que se estendia até o início da Inglaterra.

Na língua nórdica antiga, o nome de Thor é Þórr (que será discutido mais detalhadamente), com equivalentes semelhantes em inglês antigo, alto alemão e saxão antigo, respectivamente como Þunor, Donar e Thunar. Remontando o nome ao proto-germânico, Þunaraz, ele tem uma notável conexão linguística com o deus do trovão celta Taranis, considerado pelos romanos como o Júpiter dos gauleses.

Talvez a relevância contínua mais aparente de seu nome esteja no nome inglês para o dia da semana Thursday (quinta-feira), tradicionalmente derivado do inglês antigo Thunor's Day, o dia do planeta Júpiter. Mesmo fora isso, Thor mantém uma popularidade especial na cultura contemporânea da época, especialmente na Escandinávia e nos movimentos neopagãos.

Desde a época da cristianização da Europa, Thor tem sido invocado como um símbolo de resistência muito difundido. Enquanto os cristãos demarcavam locais e itens com a iconografia de cruzes, tornou-se cada vez mais comum que os adeptos da religião tradicional usassem o símbolo de Mjölnir para fazer o mesmo. Assim como se tornou um mecanismo cristão nomear seus filhos com nomes de figuras bíblicas, os fiéis à fé também nomeavam seus filhos como Thor, e essas duas respostas eram mais aparentes arqueológica e historicamente em áreas onde a influência cristã havia se tornado mais comum.


PODER E TEMPLO DE THOR
O medo do poder de Thor era tão grande que, antes da era viking, os cristãos não poupavam ataques contra seu nome em toda a Alemanha. Aqueles que se converteram do paganismo ao cristianismo foram forçados a considerar seus deuses como demônios, renunciando especificamente a Odin, Tyr e Thor acima de tudo. No século VIII d.C., um missionário cristão conhecido como São Bonifácio ficou tão indignado com o fato de os alemães - mesmo após a aparente “conversão” ao cristianismo - ainda aderirem a certas tradições e cultos, que cometeu o ato particularmente blasfemo de derrubar o Carvalho de Donar, uma árvore sagrada para os pagãos germânicos que os romanos também, naturalmente, associavam a Júpiter (referindo-se a ela como Carvalho de Jove). De forma apropriada, mais tarde, o próprio Bonifácio tenha tido um fim violento, assassinado pelas mesmas pessoas que ele estava tentando fazer uma lavagem cerebral enquanto mantinha seu evangelho fervorosamente, sem sucesso.

Durante a era viking, a estátua de Thor ficava na frente e no centro do Templo de Uppsala, na Suécia, considerado o centro mais sagrado da religião nórdica na época, ladeado por estátuas separadas de Odin e Freyr. Até mesmo um observador cristão foi capaz de notar o aparente paralelo entre a representação de Thor e o Júpiter romano e afirmou ainda que Thor era invocado em tempos de fome ou doença.

Embora Thor fosse de fato um deus guerreiro, suas associações eram profundamente multifacetadas, especialmente além dos aspectos frequentemente mostrados na cultura comum dos dias atuais. Thor era, afinal de contas, um protetor da humanidade, um consagrador de runas, momentos e locais, e um portador de fertilidade.

As inscrições rúnicas em amuletos pessoais e em pedras rúnicas fixas oferecem uma janela para a percepção de Thor. Um desses amuletos remanescentes da Inglaterra do século II d.C. está inscrito com uma afirmação de cura contra uma doença específica:

“Causador de feridas de Gyrill, você vai agora! Você foi encontrado! Que Thor o purifique, Senhor dos Trolls. Causador de feridas de Gyrill. Contra pus nas veias”.

Aqui, Thor é invocado para purificar o sangue envenenado de alguém por meio do banimento da entidade responsável, como era típico das superstições da época. Embora seja uma afirmação aparentemente simples, a invocação de Thor nesse contexto revela um entendimento muito mais profundo sobre o Deus do que se poderia supor à primeira vista.

Em particular, um dos principais papéis de Thor no mito era a defesa de Asgard (e Midgard/da humanidade, por extensão) contra vários inimigos - especialmente os Jotun, ou seja, gigantes, também comumente considerados como trolls (como visto acima), ou thurs/thurses.


THORN
Além da óbvia conexão linguística entre o nome de Thor e Thurs, a runa compartilhada mais aparente entre as representações tradicionais do nome é Þ (vista no nórdico antigo Þórr e Þorn, respectivamente). Qualquer pessoa que tenha conhecimento de runas naturalmente reconhecerá a runa thorn, ou thurisaz.
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As raízes linguísticas compartilhadas desses nomes (juntamente com o discurso da Nova Era sobre as runas) criaram uma imensa confusão sobre a natureza da thurisaz e sua relação com Thor (e, por extensão, Zeus) como deuses. Embora alguns tenham estranhamente passado a considerar a thurisaz como algo que representa apenas os gigantes (e a doença e a destruição geral que eles trazem) e, portanto, acreditem que ela seja uma runa usada apenas para amaldiçoar, a verdade é muito mais complexa - e os detalhes da conexão serão elaborados.

A conexão com os gigantes aqui é mais do que o fato de thurisaz ser simplesmente uma representação de gigantes, pois thurisaz também é uma representação do Mjölnir de Thor - aquele que fere os gigantes, as forças que simbolizam a resistência à expansão de Asgard dos Aesir, ou de uma sociedade mais elevada e ordenada (algo comumente mostrado como um contraste no conflito Aesir/Vanir também). Sim, thurisaz é uma força de intesa destruição, mas quando retratada como o Mjölnir sendo empunhado por Thor, pode-se ver isso como um controle sobre tais poderes, dado o poder e a sabedoria de seu portador.

Em quase todos os aspectos possíveis, as energias de thurisaz estão em oposição direta ao inconsciente ou ao domínio dos ignorantes e brutais (já que os gigantes são comumente considerados brutos vorazes e ignorantes ). Aqui, o papel de Thor deve estar mais claro - como o campeão dos Deuses que protege e liberta os humanos do domínio violento, por meio de sua personificação como a força de combate suprema (pode-se ver um paralelo adicional aqui com o epíteto Eleutherios de Zeus). Além disso, thurisaz também pode ser considerada uma runa de fertilidade, semelhante à do próprio Thor. A Thurisaz é citada como a runa da ferramenta, não apenas no sentido do martelo de Thor, mas das ferramentas em geral.

Pode-se imaginar como um fazendeiro quebrará a terra dura e estéril para tornar o solo fértil e viável. Há, é claro, conexões mais profundas aqui que ligam thurisaz a kenaz como runas de ferramentas e coisas que simbolizam a consciência humana sobre o inconsciente e o bestial. Afinal, mesmo na academia moderna, um dos aspectos simbólicos que demonstram o processo de “evolução” da humanidade é o início do uso de ferramentas. A luta contra essas forças inconscientes é uma batalha eterna, e o relâmpago - como o grande quebrador de padrões e da estagnação - é um símbolo compartilhado por praticamente todas as culturas gentílicas antigas. Ainda hoje, os momentos de gênio são chamados de ''insights'' ou ''golpes'' de inspiração súbita.

Com relação aos aspectos inversos ou sombrios da thurisaz, essas conexões são apresentadas em poemas de runas antigas:

“Thurs (gigante) é torturador de mulheres, morador de penhascos e marido de uma giganta, o senhor de Saturno.”

Considera-se aqui que “Saturno” é um substituto para Útgarða-Loki (não confundir com o outro Loki), um governante do mundo de Jotunheim com quem Thor trava inúmeras lutas simbólicas (a última das quais é uma luta contra uma mulher idosa que era secretamente a manifestação da velhice/entropia). Mas o item ainda mais relevante a ser observado aqui é a alegoria “torturador de mulheres”. Há, é claro, um precedente histórico que diz que as mulheres sofrem mais quando a sociedade se perde para a violência bárbara e a ignorância (como se vê principalmente onde o Islã se espalhou) e, embora a maioria associe Thor e seu martelo ao masculino, talvez fosse ainda mais comum que as mulheres usassem o ícone do martelo como um amuleto protetor.


DEUS DA FERTILIDADE
Para aqueles que conhecem o conto de fadas, A Bela Adormecida mostra uma princesa fadada a picar o dedo em uma roda de fiar e cair em um sono inconsciente semelhante ao da morte, que só pode ser interrompido pelo beijo de um príncipe. Além da representação do thurisaz como uma luta contra o inconsciente, ele também representa o eros masculino/ vitalidade masculina - ou a força espiritual masculina ativa e a feminina passiva, ou Yin e Yang. Mesmo no discurso moderno, há poucas divindades popularmente consideradas tão abertamente masculinas quanto Thor.
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Aqui, podemos considerar a função de Thor como um deus da fertilidade, e as relações de Thor com sua esposa Sif também devem ser observadas. Sif é tradicionalmente considerada uma Deusa da Terra (ecoando um antigo mecanismo alegórico visto no Egito com Geb e Nut), com Thor como um Deus do Céu. Há uma ligação óbvia aqui, já que Thor, como um Deus do Céu e, portanto, do clima, tem uma associação com a chuva e a fertilidade que ela traz, mas a simbologia vai além.

Um acontecimento separado mostra uma discussão entre Thor e Hárbarðr, que é considerado Odin disfarçado. O evento acontece em um ponto de encontro das águas, com Thor exigindo a passagem, embora Hárbarðr continue tentando provocá-lo, insinuando a deslealdade de sua esposa. Aqui, Thor faz referência às suas muitas batalhas no leste de Jotunheim e à derrubada de gigantes como prova de sua coragem, mas Hárbarðr continua a zombar dele enquanto ocorre uma batalha de vozes (ou seja, uma guerra poética de palavras). Por fim, Thor se cansa e parte para o caminho mais longo de volta a Asgard. Aqui, é mostrada uma distinção que era aparente na cultura nórdica: o Odin, mais espirituoso e moralmente ambíguo, era geralmente mais um Deus da casta aristocrática e da elite guerreira, enquanto Thor era normalmente visto como o libertador e herói do homem comum. Odin como Hárbarðr se vangloria de suas habilidades mágicas e de sua compreensão, enquanto Thor fala de suas grandes vitórias sobre os gigantes.

Talvez o mito mais comumente considerado de Thor seja o já mencionado Ragnarok e sua batalha contra a serpente do mundo Jormungandr. Qualquer pessoa com um pouco de familiaridade com os mitemas politeístas reconhecerá a batalha entre o Deus da Tempestade e a Serpente. Da mesma forma que o grego Typhon, Jormungandr também é descrito como possuidor de um grande veneno e representa o mesmo mecanismo alegórico - ou seja, com a degeneração espiritual da humanidade, a elevação da serpente kundalini tornou-se difícil e até mesmo perigosa.

Durante os desafios mencionados acima com Útgarða-Loki, Thor é encarregado de levantar o gato do gigante sobre sua cabeça - uma façanha que ele se esforça para completar em sua totalidade, mas consegue ir muito além do que qualquer um na corte do gigante poderia supor. É então revelado que o gato era Jormungandr disfarçado (mais uma vez, aqueles que conhecem bem a tradição espiritual reconhecerão os aspectos simbólicos do gato e da serpente, a partir de mecanismos egípcios anteriores envolvendo Bastet e Apep).


SIMBOLISMO DA SERPENTE
Somente Thor e seu Mjölnir têm a capacidade de derrotar Jormungandr, livrando Midgard do veneno da serpente - Após esse momento ele é visto dando nove passos antes de sucumbir aos seus ferimentos. Após os eventos do Ragnarok, os incêndios se apagaram e as águas das enchentes recuaram, e o mundo é mostrado regenerado em um estado verde e imaculado.
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Os aspectos regenerativos de Thor são bem conhecidos, mas também deve ser observado - apesar de a morte e o número 9 terem um simbolismo especial dentro do mito (o próprio thurisaz pode ser considerado como governante do “renascimento” por meio da “morte”) - que a “morte” dos deuses nem sempre foi um aspecto da mitologia nórdica. Poemas skáldicos anteriores na Escandinávia retratam a derrota de Jormungandr nas mãos de Thor durante uma pescaria, na qual ele fisga Jormungandr, puxa-o das profundezas e o derrota com um golpe na cabeça com seu martelo (retratado acima).
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Até hoje, Thor continua onipresente até mesmo no folclore escandinavo moderno. As representações errôneas da divindade na cultura pop pouco fizeram para diminuir ou alterar sua popularidade, sendo que o Mjölnir ainda é uma figura comum de colar no neopaganismo e até mesmo fora dele. Especialmente entre as gerações mais velhas, há uma piada cultural comum de que a falta de trolls na vida cotidiana é prova do raio de Thor, o que ainda os assusta.



BIBLIOGRAFIA

O Segredo das Runas de Guido von List

O poema de Harbarth

Dicionário de Mitologia do Norte de Rudolf Simek

Edda em prosa (tradução de Arthur Gilchrist Brodeur)

CRÉDITOS:

Arcadia (todo o artigo)

Karnonnos [TG] (esclarecimento)
 
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NOMES DE ZEUS: AHURA MAZDA​

Ahura Mazda, também conhecido como Oromazes na Grécia, era a forma de Zeus adorada no antigo Irã. Ele formava uma tríade com Anahita (Astarte-Demeter) e Mithra (Apolo) no culto real da dinastia iraniana. Frequentemente, o trio é representado em estátuas e esculturas.

Seu nome é formulado para significar “a luz da mente” ou “os meios da mente”, mas há cento e um outros títulos conhecidos também. Ahura Mazda simbolizava a luz e a verdade do mundo. Na cosmologia iraniana, Ele projetou raios do firmamento ardente do éter e criou o mundo conhecido a partir da pedra azul - um paralelo ao globo azul de Zeus.

Sabe-se que os persas tendiam a adorar ao ar livre em vez de templos, considerando o fogo como a emanação mais próxima do éter e o princípio mais próximo de Zeus. Eles tendiam a construir locais religiosos em grandes altitudes, mostrando a associação do Grande Deus com o pico da montanha e a consciência mais elevada.


AHURA MAZDA​


Ahura Mazda era conhecido por estar engajado em uma batalha contra Ahriman, a representação da escuridão total. Esse conceito, em sua essência, é semelhante ao de Hadad lutando contra o Deus da Morte, ou às lutas de Zeus contra Hades. Isso passou para um relato de Plutarco, onde ele entra em detalhes sobre a cosmologia persa.

Heródoto frequentemente afirmava que os persas “chamam todo o círculo do céu de Zeus” (Histórias 1.131). Ele faz referência a como uma carruagem vazia conduzida por quatro cavalos brancos em campanhas militares persas era equiparada a Zeus (Ahura Mazda) em solenidade. Strabo, por outro lado, equiparava Ahura Mazda diretamente a Zeus.

Aristóteles, de acordo com as leituras de Diógenes Laércio de sua obra, e Plutarco diretamente em suas próprias obras, concebeu a Pérsia como tendo uma cosmologia dualista entre os chamados Oromasdes (Ahura Mazda) e Areimanius (Ahriman):

Sobre Filosofia, Aristóteles:

“... dois primeiros princípios, um espírito bom e um espírito mau, um chamado Zeus e Oromasdes, o outro Hades e Areimanius...”

O assunto também é comentado por Plutarco, que parece fazer um paralelo com o mito de Osíris e Set, ou Zeus e Tifão:

Sobre Ísis e Osíris, Plutarco:

“A grande maioria e os mais sábios dos homens têm essa opinião; eles acreditam que há dois deuses, rivais, por assim dizer - um o Artífice do bem e o outro do mal. Há também aqueles que chamam o melhor de deus e o outro de daemon. Há também aqueles que chamam o melhor de deus e o outro de daemon, como, por exemplo, Zoroastro, o sábio, que, segundo registram, viveu cinco mil anos antes da época da Guerra de Troia. Ele chamou um de Oromazes e o outro de Areimanius; e declarou ainda que, entre todas as coisas perceptíveis aos sentidos, Oromazes pode ser melhor comparado à luz, e Areimanius, ao contrário, às trevas e à ignorância, e no meio do caminho entre os dois está Mitra: por essa razão, os persas dão a Mitra o nome de 'Mediador'”.

Infelizmente, esse tipo de história que representa uma alegoria espiritual começou a ser levado ao pé da letra na Pérsia, principalmente entre as classes ressentidas e discordantes durante o Império Selêucida. As ideias sobre os deuses começaram a se degenerar em uma história pura de dualismo moral, onde questões posteriores durante as eras partas e sassânidas começaram a fazer com que os adoradores levassem as imagens anteriores muito literalmente. As iconoclastias também começaram na era sassânida.

Da mesma forma, os ensinamentos do Zoroastro histórico foram alterados e transformados em um sistema dogmático de qualidade questionável ao longo das eras na Pérsia.

Entretanto, mesmo dentro das escrituras do zoroastrismo, certas associações com Zeus são flagrantemente óbvias. Os Yashts, textos litúrgicos posteriores, elaboram o papel de Ahura Mazda como protetor e soberano, com imagens potentes ligadas a temas e símbolos típicos:

Yasht I:

“O maior de todos, aquele que sustenta o mundo, que criou a vaca, as águas e as plantas.”

Esses hinos também introduzem o conceito de khvarenah (glória divina), uma força radiante concedida a reis e heróis justos. A associação de Ahura Mazda com khvarenah legitima os governantes terrenos como seus representantes divinos.


SENHOR DA SABEDORIA​


Assim como o título mais comum de Marduk, Ahura Mazda significa “o Senhor da Sabedoria”. Nas escrituras, passagens como Yasna 28-34 e Yasna 45-50 frequentemente abordam Ahura Mazda diretamente como aquele que concede Vohu Manah (a Boa Mente), a faculdade por meio da qual a humanidade pode discernir a verdade e viver eticamente. Os nomes de Ahura Mazda refletem esse conceito:

Khorda Avesta:

Ahura Mazda respondeu a ele:
“Meu nome é Aquele a quem se faz perguntas, ó santo Zaratustra!
Meu segundo nome é o doador de ervas.
Meu terceiro nome é o Forte.
Meu quarto nome é Santidade Perfeita...
Meu quinto nome é Todas as Coisas Boas Criadas por Mazda, a Descendência do Princípio Sagrado.
Meu sexto nome é Compreensão.
Meu sétimo nome é Aquele com Entendimento.
Meu oitavo nome é Conhecimento.
Meu nono nome é Aquele que tem Conhecimento.
Meu décimo nome é Bem.
Meu décimo primeiro nome é Aquele que produz o bem.
Meu décimo segundo nome é AHURA (o Senhor).
Meu décimo terceiro nome é o Mais Benéfico.
Meu décimo quarto nome é Aquele em quem não há mal algum.
Meu décimo quinto nome é o Inconquistável.
Meu décimo sexto nome é Aquele que faz o verdadeiro relato.
Meu décimo sétimo nome é Aquele que tudo vê.
Meu décimo oitavo nome é Aquele que Cura.
Meu décimo nono nome é o Criador...
Meu vigésimo nome é MAZDA (o Onisciente)”.

Ele transmite sabedoria a Zoroastro para que o profeta possa esclarecer a humanidade sobre a escolha moral: seguir Asha (verdade) ou cair em Druj (ignorância). A tradição zoroastriana sustenta que Ahura Mazda criou o universo de acordo com Asha. Essa é a lei eterna da verdade e da harmonia. A sabedoria é tecida no próprio tecido da criação.


DEUS DO REI DOS REIS​


A importância dessa divindade para o culto real do Irã é extremamente evidente nas inscrições. Uma fórmula repetitiva é usada de forma consistente desde a época de Dario I:

Um grande Deus é Ahura Mazda, que criou este mundo, que criou o céu em todo o mundo, que criou a humanidade, que criou o contentamento para a humanidade, que fez Dario rei. Um rei para muitos, um líder de muitos.

Inscrição de Dario:

Eu sou Dario, o grande rei, rei dos reis, rei de todos os tipos de povos de todos os tipos de origens, rei de toda a terra, filho de Hystaspes, o Aquemênida, persa, filho de um persa, um ariano de ascendência ariana.

Todo o sucesso de qualquer monarca iraniano no governo e na prerrogativa dependia de Sua vontade. A Inscrição de Behistun deixa claro que Ahura Mazda concedeu o reino ao Rei dos Reis como o mais elevado dos Deuses. A grande amplitude do Império Persa, mostrado como um império altamente cosmopolita de trinta povos, foi creditada à Sua intervenção:

Dario, o Rei dos Reis, diz:

Pelo favor de Ahura Mazda, estes são os países que conquistei fora da Pérsia; eu os governei, eles me prestaram tributo, fizeram o que lhes foi dito por mim, mantiveram minha lei com firmeza. Media, Elam, Pártia, Ária, Báctria, Sogdia, Chorasmia, Drangiana, Arachosia, Sattagydia, Gandara, Índia, os citas bebedores de haoma, os citas com gorros pontiagudos, Babilônia, Assíria, Arábia, Egito, Armênia, Capadócia, Lídia, os gregos, os citas do outro lado do mar, a Trácia, os gregos que usavam chapéu de sol, os líbios, os núbios, os homens de Maka e os carianos.

Dario, o rei dos reis, disse:

Ahura Mazda, quando viu esta Terra em disputa, concedeu-a a mim e me fez rei. Eu sou rei. Pelo favor de Ahura Mazda, eu estabeleci o mundo em seu lugar; o que eu disse a eles, eles fizeram, como era meu desejo. Se agora você pensar: “Quantos são os países que o rei Dario dominou?” Olhe para as esculturas daqueles que ostentam o trono, então você saberá, então será conhecido por você: a lança de um homem persa foi longe; então será conhecido por você: um homem persa travou uma batalha longe da Pérsia.

Dario, o rei dos reis, diz:

Tudo o que foi feito foi pela vontade divina de Ahura Mazda. Ahura Mazda me ajudou até que eu realizasse o trabalho. Que Ahura Mazda me proteja do mal, e à minha dinastia, e a esta terra: isso eu peço a Ahura Mazda, que Ahura Mazda me dê! Ó homem, o que é o comando de Ahura Mazda, que isso não lhe pareça repugnante... não deixe o caminho certo... não se revolte!

As inscrições hieroglíficas no idioma egípcio em uma estátua de Dario em Susa tornam óbvia a conexão do Rei dos Deuses com Atum e Amon:

Inscrição na estátua de Dario, Susa

Sua Majestade consagrou esta estátua de longa duração, feita à sua semelhança, para que a memória de seu espírito permaneça para sempre ao lado de Atum.


IMPORTÂNCIA MILITAR​


Muitas fontes, como as obras de Xenofonte, The Cyropedia e Anabasis, revelam que os persas invocavam persistentemente Ahura Mazda com rituais complexos antes de compromissos militares, de modo semelhante ao que os romanos consideravam Júpiter como árbitro do favorecimento militar.


GEUSH URVAN E TOURO​


Um dos motivos simbólicos importantes do Yasna é a personificação da alma da vaca, chamada de Geush Urvan nos Gathas. “Geush” significa literalmente ‘vaca’ (ou, às vezes, ‘boi/gado’ de forma mais geral) e ‘Urvan’ denota ‘alma’. Assim, Geush Urvan representa a Alma da Criação ou a Alma do Mundo Vivo. Nos Gathas, essa figura lamenta a opressão e a injustiça e clama por um salvador. Os zoroastrianos acreditam que o simbolismo da vaca reflete a opressão da verdade e da retidão no mundo.

Enquanto a figura da “Vaca” geralmente personifica o mundo vivo ou a criação oprimida que busca justiça, o “Touro” às vezes é evocado como uma força geradora, simbolizando vitalidade, proteção e continuidade da vida. Em certas passagens, o touro pode aparecer como um poder benéfico alinhado com as energias criativas de Ahura Mazda, reforçando a vida e a abundância.


SIMBOLISMO DE AHURA MAZDA​


ahuramazda.png

O Faravahar, o disco alado que frequentemente paira sobre figuras reais, é um símbolo de Ahura Mazda. A figura humana central, adornada com barba e trajes reais, segura um anel de soberania, significando o endosso divino e o domínio de todas as formas circulares de vida.

Como nas imagens da inscrição de Behistun acima, Ahura Mazda é continuamente representado em um anel protetor como o do Shenu. Ele segura um anel em sua mão esquerda, demonstrando seu domínio da eternidade e do cosmos. Em Naqsh-e Rustam, a tumba de Dario I mostra-o recebendo esse anel da divindade, afirmando seu mandato para governar. Às vezes, esse anel assume a forma de um diadema apresentado ao governante. Sua coroa de uma esfera dentro de uma formação trapezoidal representa o ritmo perfeito do círculo dentro das quatro direções.

Sua mão direita é levantada em um gesto poderoso semelhante ao de Marduk. Esse gesto era conhecido na Pérsia por representar a prerrogativa imperial. Presume-se que as convenções de imagens babilônicas e egípcias tiveram forte influência sobre Ahura Mazda. No entanto, também se sabe, por relatos gregos e inscrições, que durante a época de Dario e Xerxes, os gregos jônicos tendiam a constituir a maior parte dos artesãos do Império Persa.

As asas e pernas bidirecionais da fênix representam Sua codificação das leis de Satya em realidade. As asas e as penas da cauda do símbolo denotam a ascensão espiritual e o supremo equilíbrio ético.

BIBLIOGRAFIA​

Yasnas
Yashts
Histórias, Heródoto
Sobre Ísis e Osíris, Plutarco
Sobre a filosofia (fragmento), Aristóteles
Zoroastrians: Suas Crenças e Práticas Religiosas, Mary Boyce
A History of Zoroastrianism (História do Zoroastrismo), Vol. 1, Mary Boyce
Textual sources for the study of Zoroastrianism (Fontes textuais para o estudo do zoroastrismo), Mary Boyce
Mazda Ahura, Ahura Mazda, ou o Senhor da Sabedoria, B. W. W. Dombrowski

CRÉDITOS:​

Karnonnos [TG]
 
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NOMES DE ZEUS : TINIA


Tinia era o Grande Deus das misteriosas cidades-estado etruscas da Itália (também conhecidas por seu nome, Rasena), um corolário direto de Zeus que administrava os céus, o clima e o submundo. Ele estava associado ao relâmpago e tinha muitos aspectos relacionados à adivinhação como ponto central de adoração. Grandes quantidades de atributos visuais de Tinia estão ligadas a Zeus a partir de um longo processo de sincretização com a Grécia, influenciando a variação romana de Júpiter.



DEUS PRINCIPAL DO RELÂMPAGO

Apesar de seu status como "Illi Chaj" (Deus Chefe), o envolvimento direto de Tinia nos assuntos humanos era considerado um tanto limitado. A tradição etrusca muitas vezes o coloca mais como um governante cósmico mantendo a ordem entre os Deuses e se comunicando com a humanidade por meio de sinais do que como um patrono pessoal dos mortais. No entanto, todos os outros Deuses e homens acabaram caindo sob seu domínio.
Na hierarquia mítica etrusca, até mesmo os Dii Involuti, os misteriosos "Deuses Ocultos", poderiam obrigar a obediência de Tinia, indicando um conceito de destino ou ordem cósmica superior além até mesmo da Divindade principal.

Geralmente, Tinia era considerado o Deus Supremo e muitas vezes era intitulado Aishardura (Governante dos Deuses) em Rasena.

Além disso, os escritores romanos registram a crença etrusca em Tages, uma criança-profeta divina nascida de um campo arado, que ensinou aos etruscos suas disciplinas religiosas. Os ensinamentos de Tages teriam incluído centralmente os mistérios de Tinia. Cícero observa que Tages ensinou sobre a interpretação de fulgura (raios) e ostenta (presságios), o que implica que os "livros de Tages" eram os livros do testamento de Tinia. Encontramos exemplos semelhantes de um ser manifestado ensinando os assuntos do Deus do céu em outro lugar, como no caso de Xangô.

Sêneca, em Naturales Quaestiones, menciona teorias etruscas de relâmpagos vindos de várias partes do céu e de diferentes tipos, maravilhando-se com a complexidade da adivinhação etrusca. Ele observa que os etruscos até acreditavam que os raios podiam ser evocados ou dirigidos por certos rituais, uma habilidade atribuída aos sacerdotes de Tages ou Tinia.



TEMPLO VOLSINII

Sua preeminência no panteão se refletiu no culto etrusco e no culto público. Cada grande cidade etrusca venerava Tinia, muitas vezes em grandes templos situados em locais proeminentes. Vestígios arqueológicos e inscrições confirmam a existência de santuários dedicados a Tinia. Por exemplo, em Volsinii (Orvieto), uma base de coluna cônica de um altar foi encontrada com a inscrição "TINIA TINSCVIL", indicando que fazia parte de um santuário "para Tinia".

A frase tinscvil é interpretada pelos estudiosos como significando "(um presente) para Tin" ou "dedicado a Tinia", sinalizando que a estrutura foi usada na adoração ao Deus.

Este altar provavelmente pertencia a um templo no local (talvez no santuário Campo della Fiera), reforçando que Orvieto / Volsinii tinha um centro de culto para Tinia. Evidências literárias complementam esse quadro: o arquiteto romano Vitrúvio observou que as cidades etruscas seguiam um plano de honrar a tríade principal. Escavações em locais como Veios (Portonaccio), Orvieto (Templo Belvedere) e Marzabotto mostram layouts de templos tripartidos consistentes com o culto de Tinia, Uni (Juno) e Menrva (Atena), paralelamente ao culto romano posterior.

Grandes santuários públicos frequentemente incluíam Tinia como uma figura central, e as expectativas rituais (como mais tarde descritas por autores romanos) sustentavam que uma cidade deveria ter três templos principais para os três Deuses principais. Algumas evidências até sugerem que esses templos foram colocados nos pontos mais altos da cidade e espaçados entre si, seguindo as prescrições da tradição sagrada etrusca.



MARCADOR DE LIMITE
Além do raio, a esfera de influência de Tinia se estendia simbolicamente a limites e juramentos. Em várias inscrições, Tinia é invocado como fiador de limites territoriais e acordos. Notavelmente, três pedras de fronteira idênticas descobertas no antigo território cartaginês, deixadas por uma comunidade de colonos etruscos, levam o nome de Tinia como testemunha divina de uma divisão ou tratado de terras. Uma comparação com Perun também pode ser feita aqui.

O aspecto ctônico de Tinia é bem notado nas fontes, com limites muitas vezes equiparados a tipos específicos de punição e libertação.



SACERDÓCIO ETRUSCO
A vida religiosa etrusca era guiada por especialistas sacerdotais. O culto de Tinia era supervisionado por esses sacerdotes e áugures. Como a civilização Rasena era um conjunto de cidades-estado descentralizadas que compartilhavam a cultura, não havia um título específico exatamente equivalente ao Flamen Dialis de Roma. No entanto, as cidades etruscas tinham sacerdotes-magistrados como o zilach ou maru, que realizavam rituais para os Deuses principais.

Mais importante, os etruscos eram famosos por seus harúspices, os adivinhos que interpretavam a vontade dos Deuses, especialmente por meio de raios e entranhas. Como o Deus do trovão e do relâmpago, Tinia era fundamental para as práticas de adivinhação etrusca. Os Libri Fulgurales ("Livros dos Raios"), como referido pelos autores romanos, uma parte das sagradas escrituras etruscas, eram dedicados à leitura de relâmpagos enviados por Tinia e os outros Deuses.

Escritores romanos como Cícero, em Sobre a Adivinhação, admiraram (e às vezes satirizaram) a habilidade etrusca em adivinhar, observando que, enquanto outros veem relâmpagos e os consideram um fenômeno natural, "os etruscos acreditam que isso não acontece a menos que seja um sinal". Em outras palavras, para os etruscos, um relâmpago foi o resultado do conselho deliberado de Tinia.

Os etruscos, cujos sacerdotes conversavam oralmente em códigos complexos em todo o Império Romano altamente alfabetizado, eram notoriamente hostis ao cristianismo. Desde a literatura cristã primitiva, começando de Constantino em diante, eles são retratados com uma reputação temível. Muito tempo depois de terem sido latinizados e o etrusco aparentemente ter morrido como língua, os sacerdotes foram retratados consultando livros sagrados em sua tradição e sendo um reduto em suas cidades montanhosas. Eles são mostrados lançando maldições sobre a população cristianizada por meio de raios, trovões, terremotos, pragas e outros desastres.



SIMBOLISMO DE TINIA
Todas as representações de Tinia são influenciadas pelos modelos gregos centralmente. Na arte e nas inscrições, Tinia é consistentemente identificado como um Deus do céu e da tempestade empunhando o raio. Como Zeus ou Júpiter, ele é frequentemente retratado como uma figura majestosa, às vezes entronizado, brandindo um raio como seu principal símbolo de poder. Os artistas etruscos normalmente retratavam Tinia em duas formas: como um homem maduro e barbudo ou como uma figura jovem e imberbe semelhante ao jovem Dionísio.

tinia.png

Espelho do jovem Tinia com Apulu (Apolo) e Turms (Thoth)

Os artesãos etruscos, influenciados pelos modelos gregos, claramente equipararam as imagens de Tinia às de Zeus. Um desenho de espelho etrusco do final do século VI aC mostra "Tinia, o Júpiter etrusco", sentado e segurando dois tipos diferentes de raios, exatamente como a arte grega às vezes mostrava Zeus com vários raios.
tinia2.png

Ambos os tipos iconográficos sublinham sua autoridade - o primeiro transmitindo seriedade patriarcal, o último enfatizando a vitalidade. Ambos são atestados em numerosas estatuetas de bronze e gravuras espelhadas da Etrúria.

Uma estatueta de bronze identificada como Tinia exemplifica sua iconografia: o Deus usa um manto (tebenna) e provavelmente segurava um cajado ou cetro em uma mão e um raio na outra, sendo o raio um atributo frequente em exemplos sobreviventes.

Excepcionalmente, a crença etrusca sustentava que nove Deuses (os Novensiles, como os romanos os chamavam) podiam disparar raios, mas Tinia era proeminente entre eles. Os antigos comentaristas romanos preservam detalhes fascinantes dessa doutrina etrusca. Tinia empunhava três tipos especiais de raios, de um total de onze tipos reconhecidos.

De acordo com um resumo do autor romano Sérvio (comentando sobre Virgílio), os raios de Júpiter / Tinia tinham um "triplex potestas", ou poder triplo: fulmen praesagum (um raio preditivo ou consultivo), fulmen ostentatorium (um raio ameaçador e demonstrativo destinado a alertar ou assustar) e fulmen peremptorium (um raio mortal e destrutivo).

Essa categorização matizada de relâmpagos é exclusiva da disciplina etrusca e indica o quão intimamente Tinia estava associada ao envio de presságios e julgamentos divinos do céu, que se seguiram à representação romana de Júpiter. Na arte etrusca, os raios de Tinia podem até ser retratados com formas ou cores distintas; O escritor romano Sêneca observa uma crença etrusca de que alguns dos relâmpagos de Tinia pareciam vermelhos ou cor de sangue, significando sua natureza sinistra.

As representações de Tinia influenciaram as de Júpiter, e seus presságios foram considerados em forte alinhamento com os sinais do mundo natural:

História de Roma, Dionísio de Halicarnasso

Os romanos, no entanto, dão-lhes outros nomes: do país que outrora habitavam, chamado Etrúria, eles os chamam de etruscos, e de seu conhecimento das cerimônias relativas ao culto divino, nas quais eles superam os outros, eles agora os chamam, de forma bastante imprecisa, Tusci ...


VOLTUMNA
De acordo com um autor, no entanto, o Deus mais supremo dos etruscos era Voltumna, que parecia influenciar Vertumno, o Deus romano do tempo e das estações. O culto de Vertumnus chegou bastante tarde a Roma, bem na República.

Sabe-se que Voltumna tem algumas semelhanças com Baal Hammon. Ambos são considerados Deuses da fertilidade e da vegetação. Apesar das línguas muito diferentes, certos autores antigos como Aristóteles e Píndaro afirmaram que a Etrúria / Rasena e Cartago estavam em aliança.

Os etruscos também tinham o conceito de Tinia Calusna, que alguns especularam que poderia significar "Tinia do submundo", por conexão com Culsu, um guardião do submundo. Ele se alinha com a ideia de que, ao se fundir com Voltumna, Tinia também poderia governar o reino dos mortos. Os romanos refletem vagamente isso ao mencionar Diespiter sendo ctônico e Júpiter Etrúria tendo aspectos celestiais e infernais. Marciano Capella escreveu sobre "Tinia que habita tanto acima quanto abaixo", confundindo Tinia com Plutão e Hades.

Um impressionante relato romano do sincretismo é a história de que, na reunião anual em Fanum Voltumnae, todos os príncipes etruscos se reuniram para homenagear Voltumna, um Deus das estações e da mudança. Com o tempo, Vertumnus em Roma recebeu atributos semelhantes a Júpiter, incluindo um altar no Fórum Romano.

Isso poderia refletir como a identidade de Voltumna se fundiu com a de Tinia na mente etrusca tardia e como isso criou uma divindade composta de céu, terra e união política.


BIBLIOGRAFIA
Sobre a adivinhação, Cícero

Questões Naturais, Sêneca, o Jovem

Religião etrusca, Encyclopedia.com

Ritos e atos rituais conforme prescrito pela religião romana de acordo com o comentário de Sérvio sobre a Eneida de Virgílio, Justus Frederick Holstein

As cidades e cemitérios da Etrúria, George Dennis

A religião dos etruscos. Imprensa da Universidade do Texas

Mito etrusco, história sagrada e lenda, Nancy Thompson de Grummond

Primeiras inscrições etruscas, Os etruscos, Chave para a Úmbria, Lynda Evans

CRÉDITOS:
Karnonnos [TG]
 
NOMES DE ZEUS : TARHUNT

O equivalente hitita do Senhor Zeus era Tarhunt, o mais importante Deus hitita.

Como figura suprema do panteão hitita, Tarhunt era o equivalente literal de Zeus na mitologia grega. Simbolizando a relação entre as forças da natureza e as sociedades humanas na geografia da Anatólia, Tarhunt - como o Deus do céu, das tempestades e da guerra - não era apenas um ser que controlava os fenômenos naturais, mas também uma força divina que estabelecia a ordem e mantinha o equilíbrio cósmico. Sua figura estava tão entrelaçada com a estrutura, a ideologia e as práticas religiosas do estado hitita que até mesmo a legitimidade da autoridade real estava diretamente ligada à vontade de Tarhunt.

As origens do Tarhunt são o resultado de uma estrutura mitológica profunda que não se limita aos hititas, mas é filtrada por uma tradição cultural muito mais antiga. Etimologicamente, o nome Tarhunt deriva da raiz da palavra hitita tarh-. Essa raiz significa “conquistar”, “esmagar” ou “triunfar” e reflete diretamente sua identidade guerreira na origem de seu nome. Entretanto, esse nome não é exclusivo dos hititas. A mesma raiz aparece em várias formas nos idiomas indo-europeus. O sânscrito tarati (superar, passar), o irlandês antigo treor (guiar) e o latim traho (puxar, arrastar) apontam para uma origem comum do nome Tarhunt que ressoa dentro da família de idiomas indo-europeus mais ampla. Isso sugere que Tarhunt não surgiu apenas das crenças hititas locais, mas foi o reflexo anatólio de uma ideia mais antiga e mais difundida de ordem cósmica.



DEUS DA TEMPESTADE
As origens do Tarhunt na Anatólia estão entrelaçadas com divindades locais que se desenvolveram a partir do terceiro milênio a.C. Os Deuses da tempestade, como Taru e Teşup, que desempenharam um papel importante especialmente nas tradições Luwiana e Hurriana, foram fundamentais para a evolução da figura do Tarhunt. O Deus conhecido como Taru na cultura luwiana foi integrado pelos hititas à estrutura religiosa oficial do império. Na mitologia hurriana, Teşup é uma figura quase idêntica a Tarhunt. Essa fácil adoção de Teşup no panteão hitita foi o resultado da fusão flexível dos hititas de suas estruturas religiosas com as tradições mitológicas dos povos vizinhos. Isso mostra que ele passou por uma transformação sincrética com os Deuses de diferentes culturas durante a expansão política dos hititas.

Essa abordagem sincrética dos hititas levou ao posicionamento de Tarhunt não apenas como um Deus da Tempestade, mas também como o espírito guardião da monarquia. Na ideologia imperial hitita, o rei era considerado o representante do Deus dos Deuses na Terra. Essa não era apenas uma reivindicação política, mas também uma obrigação religiosa necessária para a manutenção da ordem cósmica. Ao subir ao trono, os reis hititas faziam oferendas a Tarhunt e realizavam rituais especiais para obter sua aprovação. Esses rituais não eram apenas adoração religiosa, mas também uma declaração do alinhamento do estado com a ordem cósmica. Frases frequentes em inscrições reais enfatizam que o rei devia suas vitórias ao favor do Deus Tarhunt. Por exemplo, nos anais do rei hitita Murshili II, afirma-se explicitamente que as vitórias se deveram à vontade de sua divindade patrona.



SIMBOLISMO DE TARHUNT
Os símbolos de Tarhunt também refletem sua identidade multifacetada. O touro é seu animal sagrado mais importante e é frequentemente retratado com figuras de touros na arte hitita. O touro é um símbolo de fertilidade e poder. Entretanto, o símbolo do touro não é apenas uma iconografia local, mas também a continuação anatoliana de um antigo símbolo da mitologia indo-europeia. A figura do touro duplo, frequentemente vista em relevos hititas, simboliza como ele equilibra a ordem universal. Os grandes poderes do céu estão unidos às sólidas fundações da terra, mantendo assim a ordem cósmica.

Outro símbolo importante de Tarhunt é o feixe de raios. Esse símbolo representa a herança iconográfica comum de uma ampla distribuição geográfica, desde o Deus da tempestade Adad da Mesopotâmia até Zeus na mitologia grega. O raio está diretamente relacionado à natureza do Deus da Tempestade como uma força destrutiva e criativa. Para os hititas, a chuva era a principal fonte de produtividade agrícola, mas também podia levar a inundações devastadoras. Esse poder contraditório era emblemático de como Tarhunt era visto como uma divindade que dava vida e destruía.


RITUAIS DE TARHUNT
Os rituais religiosos envolvendo o Deus desempenharam um papel importante na compreensão da ordem cósmica pela sociedade hitita. Para os hititas, os eventos naturais não eram apenas fenômenos físicos, mas também manifestações da vontade divina na Terra. Portanto, as oferendas e orações a Tarhunt não apenas desejavam a fertilidade ou a vitória, mas também simbolizavam o esforço para preservar a ordem do universo. Nos grandes templos de Hattusa, eram feitas oferendas a ele, especialmente durante as cerimônias de chuva realizadas na primavera. Nessas cerimônias, rituais com touros, oferendas de bebidas e hinos eram usados para pedir ao Deus que interviesse na natureza e trouxesse a chuva.

Em minha pesquisa, descobri que o nome de Tarhunt continuou vivo nas estruturas religiosas da Anatólia mesmo após a queda do Império Hitita. Nas cidades-estado hititas tardias e nas comunidades luwianas, Tarhunt continuou como o Deus principal, adorado sob o nome de Taru. Nas culturas frígia, lídia e, mais tarde, nas culturas helenizadas da Anatólia, o conceito do Deus da Tempestade continuou, com Tarhunt sendo mantido vivo sob diferentes nomes. Alguns estudiosos argumentam que Tarhunt contribuiu indiretamente para o desenvolvimento do culto a Zeus na Anatólia. Especialmente na Anatólia ocidental, cultos como Zeus Stratios e Zeus Labraundos podem ter herdado os aspectos de guerreiro e de manutenção da ordem de Tarhunt.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se eu tivesse que escrever um resumo: Historicamente, Tarhunt tem sido uma pedra angular no tecido religioso e cultural da Anatólia. Ele não era apenas uma figura mitológica, mas também uma força divina no centro das concepções cosmológicas hititas, leis, ideologias estatais e práticas religiosas. Sua longa história - desde suas origens etimológicas até seu legado cultural na Anatólia - oferece uma perspectiva gigantesca para entender como, no mundo antigo, os Deuses moldaram não apenas os fenômenos naturais, mas também o destino das sociedades humanas. Ele é um reflexo do antigo espírito da Anatólia.

BIBLIOGRAFIA
Os Deuses da Tempestade do Antigo Oriente Próximo, Daniel Schwemer

O Reino dos Hititas, Trevor Bryce

Inscrições hieroglíficas em luvita, Çambel Halet, David J. Hawkins

Hititler, Anadolu Savaşçıları

CRÉDITOS:
Thersthara (todo o artigo)

Karnonnos [TG] (supervisão)
 

Al Jilwah: Chapter IV

"It is my desire that all my followers unite in a bond of unity, lest those who are without prevail against them." - Shaitan

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